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Internacional
Domingo - 12 de Março de 2006 às 08:50

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O novo presidente boliviano, Evo Morales, que já chamou a si mesmo de pesadelo de Washington, descartou neste sábado as divergências públicas com os Estados Unidos e realizou a sua primeira reunião com a secretária norte-americana de Estado, Condoleezza Rice. Ansiosa em provar que Washington não mantém ressentimentos contra a crescente onda de líderes esquerdistas na América Latina, Rice se reuniu rapidamente com Morales antes da posse da primeira presidente mulher do Chile, Michelle Bachelet, do Partido Socialista.

Morales e Rice apertaram as mãos e sorriram para as câmeras antes de se sentarem para uma reunião a portas fechadas em Valparaíso, no Chile.

Rice recebeu um presente curioso: uma ¿charanga¿ decorado com folhas de coca. Ela aceitou com agrado a "charanga", um instrumento musical de corda (similar a uma viola, porém menor), oferecido por Morales.

Mas olhando o instrumento mais de perto, os membros da comitiva da secretária de Estado franziram a testa: a bela cor verde do charango era extraída das folhas de coca por meio de uma técnica amplamente utilizada e legal na Bolívia, mas formalmente proibida nos Estados Unidos. O instrumento não será então levado para Washington, informaram diversos assessores de Rice. Na sexta-feira, Morales ofereceu o mesmo charango a Bachelet.

Morales, conhecido por se vestir informalmente, usava um casaco preto de couro. Nenhum dos dois respondeu perguntas dos jornalistas.

A coca e a Bolívia A Bolívia é considerada o terceiro produtor de cocaína do mundo, ficando atrás da Colômbia e do Peru, e o principal foco da reunião foi a política do novo presidente em relação à erradicação da coca.

Antes de se encontrar com Rice, Morales disse que queria discutir um "combate verdadeiro e eficiente contra o tráfico de drogas", o que não pode ser um "pretexto para o controle ou a recuperação do poder político".

De sua parte, Rice fez o possível para enfatizar que Washington quer ser amigo da Bolívia e disse que por enquanto tem havido cooperação tanto no combate ao terrorismo como às drogas. "Temos tido um bom relacionamento com a Bolívia e queremos mantê-lo", disse Rice aos jornalistas que viajaram com ela.

Morales entrou na política como líder dos plantadores de coca, e os Estados Unidos estão preocupados com a possibilidade de que ele permita o aumento do cultivo da planta na Bolívia. Durante a eleição, Morales ameaçou recuar nos esforços com os EUA para reprimir o cultivo de coca, mas desde então exortou os agricultores a respeitarem uma lei que limita a quantidade que cada família pode cultivar.

O cultivo e venda de quantidades limitadas de coca são permitidos legalmente na Bolívia, mas os Estados Unidos afirmam que a produção excedente da planta, que é o principal ingrediente da cocaína, acaba no mercado ilegal de drogas.

Chávez e Morales

Morales, que chegou ao poder em janeiro, tem fortes laços com a comunista Cuba e com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e essas amizades fizeram com que Washington ficasse cauteloso em relação ao primeiro presidente indígena da Bolívia. "Sempre estaremos abertos ao diálogo. Podemos conversar com (o presidente dos EUA, George W.) Bush, mas também com (o presidente cubano) Fidel Castro", disse Morales a jornalistas na sexta-feira.

Rice não tem planos de se encontrar com Chávez nos dois dias de visita ao Chile. A Casa Branca considera o presidente venezuelano um líder beligerante e anti-EUA.

Ela se reuniu com Bachelet antes da posse e também tinha marcado um encontro com o uruguaio Tabaré Vázquez ainda no sábado. Junto com outros países andinos, a Bolívia tem tarifas comerciais preferenciais de Washington desde que coopere com a guerra contra o tráfico de drogas. O acordo expira no fim do ano, e a Bolívia não participou das negociações de livre comércio com os Estados Unidos.

Nesta semana, Morales acusou os militares dos EUA de "chantagem" por terem cortado o financiamento de uma unidade antiterror boliviana, por não estarem satisfeitos com o comandante daquela força. Rice disse que os Estados Unidos querem ter boas relações de trabalho com as forças armadas bolivianas e que tem confiança que "as preocupações podem ser resolvidas".

Colin Bradford, da Brookings Institution, disse que é importante para Rice mostrar a Morales que os Estados Unidos consideram que a sua eleição foi democrática e começar a trabalhar em questões concretas. "É importante que os Estados Unidos tentem manter abertos os canais de comunicação com Morales", disse Bradford.





Fonte: Reuters

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