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Sábado - 11 de Março de 2006 às 19:29

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O maior ícone do crime organizado em Mato Grosso está atrás das grades na terra onde é acusado de ter cometido uma variedade de delitos - que já faz pesar contra si 44 anos de condenação; e muito mais está por vir. João Arcanjo Ribeiro é preso da Penitenciária do Pascoal Ramos, onde deverá cumprir toda a sua pena. Mesmo com todos os riscos de uma fuga. A fotografia que falta à Justiça brasileira – em especial aos magistrados e procuradores federais que se debruçaram por meses e meses sobre as ramificações do criminoso – foi tirada às 18h15 minutos, quando o avião da Força Aérea Brasileira pousou no Aeroporto Marechal Rondon, em Várzea Grande.

A prisão de Arcanjo em Cuiabá demorou três anos, três meses e mais seis dias da data que deveria ter acontecido. Era para ter ocorrido na manhã de 5 de dezembro de 2002, quando aconteceu a “Operação Arca de Noé”, ação policial que tinha como finalidade fazer ruir o império do “Comendador”. Arcanjo não foi encontrado em sua casa naquela manhã. Tudo se foi: “jogo do bicho”, empresas de factorings, fazendas, aviões, propriedades diversas. Mas a fuga do mafioso deixou um gosto pouco palatável para as autoridades brasileiras. Gosto que ficou mais amargo após, uma vez preso no Uruguai, viam distante a possibilidade de extraditá-lo.

A luta para trazer João Arcanjo de volta ao Brasil não revela apenas o orgulho das autoridades judiciárias e do Governo brasileiro. Daqui para frente, o criminoso deverá passar muitas horas à frente do juiz Julier Sebastião da Silva, da 1ª Vara da Justiça Federal, e também do magistrado César Bearsi, da 2ª Vara, respondendo a diversas perguntas. O criminoso tem muito a esclarecer. Será uma verdadeira maratona entre o Pascoal Ramos e a Avenida Rubens de Mendonça, na sede da Justiça Federal. Há um caminho longo, de muitos anos pela frente, até que tudo sobre o crime organizado liderado por Arcanjo esteja devidamente dissecado.

Arcanjo é acusado de ter ordenado o assassinato de mais de 30 pessoas em Mato Grosso, e o espancamento e mutilação de pelo menos outras 50. Entre as mortes está a do empresário Domingos Sávio Brandão de Lima, do jornal “Folha do Estado”. Era o dono do “jogo do bicho” no Estado. De 1994 a 2002, diversas empresas ilegais de factoring - empresas que antecipam dinheiro de cheques pré-datados - montadas por Arcanjo serviram para irrigar dinheiro em campanhas eleitorais. A que mais vem causando “frisson” é a de 2002, do senador Antero Paes de Barros, ao Governo do Estado: foram encontrados 84 cheques de uma factoring do bicheiro no valor total de R$ 240 mil.

Fazer João Arcanjo Ribeiro falar será o grande desafio das autoridades judiciárias daqui para frente. Mas não será uma tarefa fácil, a julgar pelo perfil conhecido do mafioso. Em duas décadas ele saiu da condição de policial civil, atividade que desempenhava paralelo a segurança, a chefe de uma das maiores e mais violentas organizações criminosas do País. Tudo da forma mais discreta possível. Arcanjo também dominava o mercado de caça-níqueis e mantinha um concorrido cassino ilegal próximo a Cuiabá, o Estância 21. Só depois de construir o império é que começou a freqüentar as páginas sociais, desfilando ao lado de políticos, empresários e socialites.

Ao todo, 11 inquéritos foram abertos por conta da Operação Arca de Noé, mas ainda é preciso avaliar toda a documentação liberada pela Justiça do Uruguai. A PF está debruçada, agora, no que chama de “conexão americana”, alusão a um hotel comprado por Arcanjo em Orlando, na Flórida (EUA). O Comendador tem um patrimônio a descoberto, ou seja, jamais notificado à Receita Federal, de mais de 800 milhões de reais no País, além de outros 40 milhões de dólares no Uruguai. “Pode ter muito mais no exterior, mas temos muita dificuldade de conseguir informações nos paraísos fiscais”, diz o delegado Aldair da Rocha, superintendente da PF em Mato Grosso.




Fonte: 24 Horas News

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