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Cidades/Geral
Quarta - 08 de Março de 2006 às 09:31
Por: Natacha Wogel

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Representantes da organização não-governamental Survival, com sede em Londres, aproveitaram a visita do presidente Lula ao país para protestar contra a degradação da área indígena enawenê-nawê, localizada dentro do município de Juína, a 737 quilômetros de Cuiabá. Conforme denúncias da ong, os cerca de 500 índios que vivem na reserva estão ameaçados pela expansão do cultivo da soja e da pecuária, que têm provocado a poluição dos rios, prejudicando diretamente a principal fonte alimentar da etnia, o pescado.

Segundo uma matéria publicada ontem em sua página da internet, a Survival alega que, além dos problemas de poluição, a população indígena local também poderá sofrer a escassez de recursos hídricos caso sejam colocados em prática os projetos de construção de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) no rio Juruena. Conforme o administrador da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Juína, Antônio Carlos de Aquino, as PCHs estão sendo pleiteadas por produtores da região e os processos tramitam na Coordenação Geral de Patrimônio Indígena e Meio Ambiente do órgão.

“Apesar do rio não estar muito próximo à reserva, ele influencia muito na qualidade de vida dos índios de lá. A Funai irá fazer o estudo de impacto ambiental para a construção dessas pequenas centrais e, se comprovada a possibilidade de dano à população, a Funai pedirá ao Ministério Público que impeça as centrais”, informou Aquino.

Outra queixa dos índios enawenê-nawê é com relação à área da bacia do rio Preto, que está fora das terras indígenas de acordo com a demarcação feita pela Funai, mas que segundo os representantes da etnia é parte fundamental das terras dos enawenê-nawê, por realizarem ali um dos rituais mais importantes para a nutrição do povo. “Toda essa terra pertence ao yakiriti (espíritos ancestrais), que é o dono dos recursos naturais. Se você acaba com a terra e com os peixes, o yakiriti se vingará e acabará com os enawenê-nawê”, disse ao Survival o cacique Kawari Enawenê.

Conforme o representante da Funai em Juína, o território indígena está demarcado com 762 mil hectares, entre os rios Papagaio, Juruena, 12 de Outubro, Ique e Comararé. Dentro desta área, Aquino garante que não existe nenhum tipo de invasão, mas que ao redor são várias as fazendas de produção de soja e de criação de gado. “Os índios têm vindo aqui, há uns 15 dias, reclamar de sujeira na água dos rios, provocada pelo escorrimento das lavouras. Ainda não existe um estudo para definir se a água está sendo mesmo poluída, como também não existem reclamações sobre intoxicação do povo. Estamos passando por um trâmite de contratação de profissional para realizar o estudo, o que será feito assim que liberado o recurso do governo federal”.

O diretor da ong, Stephen Corry, declarou ontem, conforme a matéria do site, que o presidente Lula deve honrar sua promessa de proteger os povos indígenas e reconhecer a terra dos enawenê-nawê o quanto antes. “A área vital para a pesca dos enawenê-nawê (a bacia do rio Preto) ainda não foi demarcada. Se ela desaparecer completamente, a forma de sobrevivência deles também acabará e eles não resistirão”.

A importância da bacia do rio Preto para os enawenê-nawê é a realização do ritual de espiritualidade e garantia de pescado para todo o ano, o yankwã. De acordo com o funcionário da Funai, homens da etnia montam acampamentos e barragens em seis pontos de rios diferentes da região e permanecem lá por dois meses e meio. “No sábado, houve uma reunião entre os proprietários de terra da região, os índios, a prefeitura e a Funai a respeito disso, quando os fazendeiros disseram que permitirão a permanência dos índios durante o ritual, até que seja realizado o estudo etno-ecológico da bacia do rio Preto para ver se a área realmente pertence aos enawenê-nawê”.





Fonte: Diário de Cuiabá

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