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Internacional
Terça - 07 de Março de 2006 às 11:40
Por: Isabel Reynolds

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Milhares de pessoas reuniram-se sob uma enorme bandeira do Japão num estádio de Tóquio na terça-feira para protestar contra a proposta de alterar as leis do país a fim de permitir que mulheres e seus filhos subam ao trono japonês.

O primeiro-ministro do país, Junichiro Koizumi, abandonou no mês passado o plano de submeter um projeto de lei ao Parlamento permitindo que mulheres sejam herdeiras do trono.

Os planos foram descartados após a notícia de que a princesa Kiko, mulher do filho mais novo do atual imperador, estava grávida, o que alimentou esperanças de que ela dê à luz um herdeiro do sexo masculino.

O evento de terça-feira atraiu homens e mulheres de todo o país para Budokan, um grande estádio mais conhecido por ser palco de apresentações de artes marciais. As pessoas que discursaram durante a reunião advertiram sobre a possibilidade de a proposta de lei descartada por Koizumi ser retomada.

"A igualdade é boa. Mas, quando se trata da tradição, não acho que precisemos fazer tudo ser igual", disse Aya Hara, uma dona de casa de Tóquio que carregava seu filho de oito meses nas costas.

"Estou aqui porque desejo proteger a tradição masculina da casa imperial", afirmou.

O bebê da princesa Kiko deve nascer em setembro, mesmo mês em que, segundo se prevê, Koizumi deixará a liderança do Partido Liberal Democrático (LDP) e, consequentemente, o cargo de premiê.

Ainda não se sabe qual o sexo da criança.

O imperador Akihito possui dois filhos, o príncipe herdeiro Naruhito e o príncipe Akishino. Mas o fato de nenhuma criança do sexo masculino ter nascido na casa imperial nos últimos 40 anos significa que a lei precisaria ser alterada para evitar uma crise sucessória.

Um painel de aconselhamento propôs a Koizumi permitir que as mulheres subam ao trono em condições de igualdade com os homens — medida que transformaria a filha de 4 anos de Naruhito, princesa Aiko, na primeira imperatriz do país desde o século 18.

"Não devemos esquecer que alguns membros do governo ainda desejam apresentar esse projeto de lei ao Parlamento", afirmou Terumasa Nakanishi, professor da Universidade Kyoto.

"A crise continua", acrescentou o professor. Na audiência havia dezenas de membros do LDP e do Partido Democrático, o maior da oposição.

Muitos conservadores dizem não ser contrários à ascensão de Aiko ao trono — o Japão já teve oito imperatrizes —, mas discordam da possibilidade de os filhos delas a sucederem, o que quebraria uma linha paterna de sucessores que se estende, segundo afirmam, por 2.000 anos.

TESOURO

Ao invés disso, a maior parte dos tradicionalistas defende reintegrar ramos da família imperial afastados da linha sucessória depois da Segunda Guerra Mundial.

"A família imperial é o único tesouro do povo japonês", afirmou Takeo Hiranuma, um congressista e ex-ministro.

"Deveríamos realizar as reformas necessárias. Mas, quando se fala em tradição, deveríamos protegê-la com todas as nossas forças", disse Hiranuma.

No entanto, depois de o evento ter terminado, alguns dos presentes afirmaram não levar tão a sério a questão.

"Estava no segundo andar e, quando olhei para baixo, vi muitos homens carecas", afirmou uma mulher idosa que não quis ter sua identidade revelada. "Eu percebi que os homens da minha geração estão provavelmente mais indignados com a possibilidade de mudança. Pessoalmente, eu não ligo para isso."





Fonte: Reuters

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