"Vamos mandar ver” é o mantra que ecoa todas as noites na sala de estar do paulistano Bruno Natsumeda, de 22 anos. Assim que chega da faculdade, o estudante de administração afasta os móveis e liga a TV. Na tela, um treinador fortão fala ininterruptamente, enquanto pula sobre um tatame. O homem se chama Tony Horton. Alto e musculoso, ele promete deixar Natsumeda com braços e pernas torneados. Natsumeda segue as orientações de Horton numa sequência de saltos. No tapete de casa, pula na ponta dos dedos dos pés para aterrissar suavemente. Faz repetições de três pulos para a frente, três pulos para trás. Sua como nunca. Está exausto. Na tela da televisão, Horton não alivia. “Esse é o X do P90X. Manda ver!” O X é de extreme (extremo, na tradução do inglês). O P90X a que Horton se refere é a abreviação de Power 90 Extreme, um dos programas de exercícios físicos mais populares dos Estados Unidos. Estima-se que os praticantes no país somem 3 milhões.
Vendido em longos comerciais de televisão na madrugada americana, o P90X é um tipo de “faça você mesmo”. O aluno compra o conjunto de 12 DVDs com as aulas e envereda por uma sequência de exercícios que inclui flexões, pulos, golpes de caratê e posições de ioga. Tudo muito variado, feito em ritmo frenético, seis dias por semana, durante 90 dias (daí o 90 do nome). Parte dos vídeos está também disponível no YouTube. Além das aulas, o praticante deve seguir uma dieta que restringe o consumo de carboidratos e corta o refrigerante. O programa faz sucesso desde 2004, mas ganhou novo impulso nos últimos meses graças a um garoto-propaganda ilustre: Paul Ryan, o candidato republicano à Vice-Presidência dos Estados Unidos, derrotado nas eleições de novembro. Durante a corrida presidencial, Ryan chamou a atenção não apenas pelas propostas de governo, mas também pelo físico definido. Ele, que adora dizer que mantém sua taxa de gordura corporal entre 6% e 9%, índice comparável ao de atletas olímpicos, nunca escondeu que o segredo de sua boa forma era o P90X.
No Brasil, a moda começa a chegar pelas mãos de entusiastas como Natsumeda, que conseguiu os vídeos e segue as instruções em inglês. Ele gostou tanto dos resultados que já repetiu o ciclo de 90 dias três vezes. O esforço surtiu efeito e já ao fim do primeiro ciclo o rapaz franzino ganhou envergadura: seus 64 quilos viraram 71quilos. “As pessoas me perguntam onde fica a academia que eu frequento”, diz. “É na sala lá de casa mesmo.” Essa comodidade é um dos grandes atrativos do P90X – e seu principal diferencial em relação a outras formas de fazer exercício. O programa faz parte de uma leva de atividades que ganha espaço, os chamados exercícios calistênicos. Eles se valem essencialmente do corpo e dispensam o uso de equipamentos elaborados. Podem ser feitos em casa e, por isso, atendem um grupo crescente de pessoas que não têm tempo, dinheiro ou paciência para frequentar academias ou turmas de pilates. Horton, o criador do método e animador oficial dos DVDs, percebeu que essa turma formava um belo nicho de mercado, e virou uma espécie de Jane Fonda dos anos 2000. A atriz americana inaugurou a onda de exercícios pela TV ao lançar, em 1982, fitas VHS com aulas de aeróbica.
Comentários