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Nacional
Sábado - 04 de Março de 2006 às 10:01

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O governo brasileiro "não está com pressa de fazer a economia decolar imediatamente", pois ele quer, primeiro, "consolidar a base macroeconômica para atingir um ciclo de crescimento que dure de 10 a 15 anos". A explicação foi dada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em entrevista para a edição desta semana da revista britânica The Economist. Diante do crescimento de apenas 2,3% do PIB, a revista lhe perguntou por que o País está crescendo num ritmo que é apenas a metade do dos países emergentes.

A entrevista precede a visita que Lula fará, a partir desta terça-feira, ao primeiro-ministro britânico Tony Blair. O presidente fez ainda uma comparação: "Não queremos crescer a 10% ou 15%. Eu quero um ciclo de crescimento duradouro, entre 4% e 5%."

Lula explicou, também, que não há divergências entre os ministros Antonio Palocci, da Fazenda, e Dilma Rousseff, da Casa Civil, mas apenas uma diferença quanto ao timing das medidas. Sem fazer qualquer referência à luta pela reeleição, ele defendeu, também, a retomada das reformas. "Teremos de terminar, primeiro, a reforma tributária", avisou. "Depois, votar as reformas sindical e trabalhista. E temos de fazer a reforma política. O sistema político brasileiro precisa ser cuidadosamente revisto."

A seguir, outros assuntos abordados pelo presidente na entrevista:

Pacto "Num ano eleitoral, é difícil obter um pacto social, mas estou consciente de que, num período mais calmo, todos vão concordar que precisamos nos comprometer a não gastar mais dinheiro do que temos."

Ética "O PT merece alguma crítica. Nos próximos anos, o PT terá muito a explicar à sociedade. Mas aquelas pessoas que nos atacaram gratuitamente também terão de refletir sobre o que fizeram. (...) Não digo que (o massacre sofrido pelo PT) não seja justificável. Acredito que o PT errou e, por isso, terá de se explicar. Não deve haver impunidade. (...) Mas (o PT) é um partido de quase um milhão de membros. Não se pode julgar um partido pelo que fizeram meia dúzia de pessoas."

Estado "Geralmente, o Estado é forte se a economia estiver desarrumada. Não queremos ser responsáveis por tudo. Achamos que as empresas têm um papel importante a desempenhar. Achamos que o Estado deveria, gradualmente, retirar-se da economia. Mas como vamos cuidar da educação sem o investimento do Estado para trazer de volta os professores? Tivemos de contratar 9.008 professores para as vagas de novos cursos. (...) Sabemos que se o Brasil não investir em educação, jamais daremos o salto de qualidade que deram a Grã-Bretanha, a França, a Coréia."

Impostos "Presidi este País por três anos e não aumentamos um único imposto desde então. Por que arrecadamos mais? Primeiro, porque as empresas tiveram maiores lucros e o maior aumento que tivemos veio do Imposto de Renda. Segundo, a eficácia do sistema arrecadador levou ao aumento da arrecadação. (...) Se a Super Receita trabalhar direito, conseguiremos reduzir o peso dos impostos porque você reduz a alíquota e amplia a base de contribuintes."

Rodada Doha "Algum tipo de gesto é necessário nessas negociações, no qual os vencedores sejam as nações mais pobres (...) pois o que decidirmos na Rodada Doha (da Organização Mundial do Comércio) afetará a humanidade nos próximos 20 ou 30 anos. Minha posição, para (o primeiro-ministro) Tony Blair, é que não podemos simplesmente deixar essas negociações para os negociadores."

Biocombustíveis "Outro tema (com o primeiro-ministro Tony Blair) é a energia renovável, especialmente o etanol e os biocombustíveis. Temos de usar o biodiesel como base para parcerias com nações pobres. Biodiesel é um importante criador de empregos." Cúpula

"O que me preocupa é ouvir o que Blair acha, o que (o presidente americano) George W. Bush acha. (...) O que proponho é a necessidade de um encontro antes da Rodada Doha. Se, por exemplo, em maio tivermos um encontro de cúpula entre América Latina e União Européia, apresentarei um plano... Se Blair e (o presidente francês Jacques) Chirac forem, eu irei mesmo, pois sou teimoso e não abandono minhas idéias." Bush-Chávez

"Não é papel do Brasil criticar governos democraticamente eleitos. Tenho uma forte relação pessoal com o presidente (venezuelano Hugo) Chávez. Eu disse a Bush que antes de acabar meu mandato, quero vê-los, ele e Chávez, sentados à mesma mesa para discutir suas diferenças." Alca

"Quando tomei posse, a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) era um assunto altamente ideológico. Removemos o conteúdo ideológico da discussão e enfatizamos a reconstrução do Mercosul. (...) É vital não confundir comércio com ideologia."

Mercosul "Quando o setor industrial de um país é ameaçado, ele cria um conflito com o outro país. Os líderes têm de procurar um compromisso. Como maior economia do Mercosul, o Brasil precisa ser mais generoso, fazer concessões para que os países possam crescer."

A íntegra da entrevista está no site da revista.





Fonte: Agência Estado

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