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Sexta - 03 de Março de 2006 às 15:55

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"Índios Kaiapó fecham negócio de mais de quatro mil litros de óleo de castanha em feira internacional". A notícia, de novembro de 2005, de certa forma emocionou àqueles que acompanham a trajetória desses índios. Essa notícia trata, mais especificamente, de três aldeias dos Kaiapó no Xingu: Baú, Mekrãgnotire e Pukanú. Com o trabalho do Instituto Raoni, criado pelo cacique Raoni em 2001, hoje os quase 1500 índios dessas três aldeias não têm mais sua história marcada pela atividade madeireira e pelo garimpo irregulares. Na década de 90, era esse o estigma desse povo, que escandalizava o país nos periódicos que tratassem da questão indígena.

Índios kaiapó: produção de castanha com manejo sustentávelDesde 2001, várias iniciativas vinham tentando criar alternativas econômicas para o povo da região. A Funai passou a se fazer mais presente na região, para remediar a difícil situação desses índios, e lideranças locais, como o próprio cacique Raoni, passaram a buscar apoio financeiro para a constituição de mini-indústrias no Xingu.

O governo belga apoiou a iniciativa. Com suporte econômico, as aldeias buscaram infra-estrutura para explorar o que tinham à mão: castanha. Máquinas para extração de óleo foram compradas. Mas, como produção exige mais do que estrutura, em 2001, assim como em 2002, as tentativas de organizar a produção foram frustradas. Em 2003, o Instituto avançou: lideranças conseguiram incentivar nas aldeias reflexões e iniciativas sobre organização e administração da produção. Parecia, então, que as atividades iam engrenar. Porém, pegos de surpresa por uma tragédia, em 2004 as aldeias perderam importantes lideranças num grave acidente na BR-163. Mas eles não desanimaram.

"Faltavam parceiros, faltava conhecer gente que nos ajudasse a aprender como construir algo", conta Luiz Carlos de Silva Sampaio, representante do Instituto Raoni. No ano seguinte, o Instituto se aproximou de Amigos da Terra - Amazônia Brasileira, conhecendo o Balcão de Serviços para Negócios Sustentáveis. Com apoio para todas as etapas da produção, o empreendimento com castanhas deslanchou: produziram seis mil litros de óleo, comercializando a totalidade da produção no Mercado Floresta, em São Paulo. "Poderíamos ter produzido mais", diz Luiz Carlos, "mas como era apenas o começo, achamos melhor ir mais devagar". Para 2006, a projeção é de produzirem dez mil litros de óleo, tendo em vista negócios com o comprador majoritário do último ano.

E os planos não param por aí, como explica o representante. Produzir óleo, segundo ele, é apenas o início de um aprendizado de gestão e de administração de empreendimento, pensado para ser realizado de maneira sustentável em todas as suas etapas. "Respeitamos o tempo da castanha, assim como respeitamos o tempo dos índios; se a aldeia está em festa, é para continuar na festa, não é para ir trabalhar", resume.

E aponta que a próxima etapa do empreendimento é tornar toda a produção, começando pela Terra Indígena do Baú, certificada. Para isso, atualmente está sendo feito o estudo do manejo da produção para que ela esteja de acordo com os critérios de certificação florestal do Conselho de Manejo Florestal (FSC) e certificação orgânica do Instituto de Biodinâmica (IBD).

A longo prazo, a idéia é "pegar o jeito" de administrar o negócio desse modo para que se possa implementar outros tipos de atividades: "nossa próxima tentativa provavelmente será o artesanato, pois temos teares tradicionais e outras coisas para mostrar, mas ainda podemos descobrir outras potencialidades na Terra Indígena".





Fonte: Negócios da Floresta

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