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Internacional
Segunda - 27 de Fevereiro de 2006 às 12:30

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O ministro das Relações Exteriores do Irã, Manouchehr Mottaki, indicou hoje em Tóquio que seu país não abandonará o programa de enriquecimento de urânio, que para alguns países é a prova de que Teerã pretende desenvolver armas atômicas.

Segundo fontes do Ministério de Relações Exteriores japonês, Mottaki, que começou hoje uma visita de três dias ao Japão, respondeu desta forma ao pedido de Tóquio para que o Irã suspenda o enriquecimento de urânio e se submeta ao controle internacional, sob pena de sofrer sanções do Conselho de Segurança da ONU.

Mottaki, que foi embaixador no Japão entre 1995 e 1999, reuniu-se hoje com seu colega japonês, Taro Aso, e amanhã se reunirá com o primeiro-ministro Junichiro Koizumi e com o titular de Economia, Comércio e Indústria, Toshihiro Nikai.

Os interlocutores de Mottaki se encontraram diante de um complicado dilema, pois, embora Tóquio se alinhe com os países que reivindicam de Teerã uma maior transparência e controle sobre esse programa atômico, por outra parte, os fortes interesses econômicos no Irã não permitem ao Japão usar um tom muito imperativo.

Daí que, com pouco êxito, Aso comentava com Mottaki a necessidade do Irã em readquirir a confiança internacional, com a suspensão do programa de enriquecimento de urânio enquanto se busca uma resposta consensual para resolver este problema.

Uma dessas saídas poderia estar no pré-acordo alcançado ontem entre Teerã e Moscou para enriquecer o urânio iraniano em território russo, projeto que, no entanto, ainda requer numerosas discussões.

De fato, o princípio de acordo alcançado no dia anterior em Teerã se refere à criação de uma empresa conjunta para iniciar esse enriquecimento de urânio iraniano em território russo, embora o Irã não tenha confirmado nada sobre o assunto.

Segundo indicaram hoje analistas japoneses na imprensa, existe o risco de que o aparente compromisso do Irã possa ser nada mais do que uma tentativa de ganhar tempo, teoria que estaria sendo confirmada pela atitude intransigente demonstrada hoje por Mottaki em Tóquio.

Em sua reunião de 6 de março, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) prevê estudar um relatório sobre o Irã e seu Conselho de Governadores já indicou sua intenção de remeter o caso ao Conselho Segurança da ONU, o que poderia levar à imposição de sanções ao regime dos aiatolás.

Segundo a proposta de Moscou, os aspectos mais sensíveis do ciclo de combustível nuclear iraniano, como o enriquecimento de urânio, seriam realizados em território russo com controle de uma empresa mista e sob supervisão da AIEA.

Posteriormente, o urânio enriquecido seria levado ao Irã e utilizado nos reatores nucleares que Teerã constrói com ajuda da Rússia em Bushehr, às margens do Golfo Pérsico.

Embora o Japão não esteja participando das negociações diretas sobre o programa nuclear iraniano, os laços econômicos entre Teerã e Tóquio impõem ao Governo japonês a necessidade de agir como um mediador.

O Irã é o terceiro fornecedor de petróleo do Japão (15% da commodity que exporta) e ambos os países têm em mãos, desde 2004, um projeto de exploração da jazida de petróleo de Azadegan, no sudoeste iraniano, uma das maiores do mundo.

Nesse projeto de pesquisa e exploração, Tóquio investiria US$ 2 bilhões, apesar das pressões do seu principal aliado, os EUA, que não estavam nada contentes com os negócios que um Japão sedento de petróleo realizava com os fundamentalistas no poder.

O Japão teme que se o Irã for castigado com sanções econômicas, este país poderia desestabilizar o abastecimento de petróleo do Oriente Médio e, portanto, pôr em xeque a recuperação econômica japonesa.

Em declarações à imprensa japonesa, Mottaki quis tranqüilizar o Japão e indicou que o projeto de Azadegan não estará em perigo mesmo se Tóquio votar no Conselho de Governadores da AIEA a favor de remeter o caso ao Conselho de Segurança da ONU.

No entanto, o fato de que a China (o principal rival do Japão na Ásia) esteja também dialogando com o Irã pela exploração de novas jazidas de petróleo, incluindo vários campos em Azadegan, não tranqüiliza a indústria petrolífera japonesa nem o Governo de Tóquio, que se vê pressionado.





Fonte: EFE

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