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Internacional
Sábado - 25 de Fevereiro de 2006 às 11:09

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Londres - Muitos analistas e políticos no Oriente Médio dizem que os Estados Unidos, e também potências européias, são os grandes responsáveis pelo crescimento dos movimentos islâmicos na região.

A lógica desses críticos é que os americanos primeiro incentivaram governos ditatoriais seculares, que por sua vez sufocaram a oposição. Agora que os americanos começam a forçar essas mesmas nações a promover uma abertura política, o único movimento que sobreviveu com força para reagir foi o religioso.

"No Iraque, os americanos erraram muito ao fazer alianças com líderes tribais e com grupos religiosos e limitar a ação dos seculares. Pareceu a coisa mais fácil a fazer na hora, mas os problemas que isso criou são enormes e difíceis de ser revertidos", crítica o editor do jornal iraquiano Al-Sabah Al-Jadid, Ismail Zaier, que apoiou a derrubada de Saddam Hussein, mas diz que os Estados Unidos estão fazendo tudo errado no país.

No Ocidente também há quem coloque grande parte da culpa nos Estados Unidos - principalmente analistas e políticos mais à esquerda - mas há também defensores das políticas adotadas pelos americanos.

"Isso (acusar os Estados Unidos) reflete uma tendência de muitos intelectuais do Oriente Médio de exportar todos os problemas e suas causas para fontes fora da região", argumenta o especialista em Oriente Médio do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, de Washington, Anthony Cordsman.

Democracia Apesar da defesa feita por alguns analistas, o próprio governo americano já admitiu que errou durante muito tempo em suas políticas para o Oriente Médio.

"Por 60 anos, os Estados Unidos, o meu país, buscaram a estabilidade em detrimento da democracia aqui no Oriente Médio, e nem uma coisa nem outra foi atingida", disse a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, em um discurso feito em junho do ano passado no Egito.

A declaração da secretária foi uma referência a regimes de força que já tiveram (como Saddam Hussein, no Iraque) ou mesmo ainda têm (como a família real da Arábia Saudita) apoio dos americanos, por questões políticas e econômicas.

Tal acusação é comum quando parte de críticos das estratégias Estados Unidos, mas muitos se surpreenderam ao ver o fato sendo admitido por uma das mais altas autoridades do país.

Rice seguiu o discurso explicando que a estratégia de seu país agora é ajudar as sociedades que vivem sob a "tirania" a atingir a democracia.

"Em todo o Oriente Médio, o medo de que as pessoas possam escolher livremente não pode mais justificar a negação da liberdade. É hora de abandonar as desculpas que são usadas para fugir do dificíl trabalho de construção da democracia", disse a secretária.

Abertura Os americanos dizem que os atuais movimentos de abertura democrática em países do Oriente Médio, como a realização de eleições presidenciais com diversos candidatos no Egito e a bem-sucedida pressão pela saída dos militares sírios do Líbano, mostram que o plano está funcionando.

Mas, na oposição árabe, a palavra de ordem ainda é criticar os Estados Unidos. "As populações do Oriente Médio é que estão se revoltando contra essa situação que lhes foi imposta por tantas décadas. E, como todas as outras opções foram destruídas nesse tempo, eles acabam se voltando para os religiosos", diz o presidente do partido marxista egípcio Tagamoa, Rifat Al-Said.

"Há 20 anos eu trabalho por democracia no Egito e não aceito agora que o sr. George W. Bush venha dizer que os Estados Unidos é que estão conseguindo fazer com que as coisas mudem", reclama o esquerdista.

Al-Said diz que os americanos continuam trabalhando apenas em interesse próprio e sem levar em consideração problemas futuros que possam ser criados pelas atuais políticas.

"Na Turquia, os americanos estão apoiando um governo islâmico porque é esse o grupo que interessa a eles que esteja no poder, acusa, numa referência ao partido governista turco Justiça e Liberdade, que se auto-classifica "secular conservador", mas que a maioria dos analistas coloca no campo "islâmico moderado".

Extremistas Para o diretor do programa de estudos do Oriente Médio da Universidade Americana do Cairo, Baghat Korany, o grande problema são os extremistas tanto do lado ocidental (os neo-conservadores) quanto no Oriente Médio (os fundamentalistas islâmicos).

"Os extremismos dos dois lados alimentam e fornecem justificativas um para o outro", diz o cientista político. "Se existe o tal ´choque de civilizações´ de que tanta gente fala, são esses grupos que o fazem acontecer. Os dois lados têm de ser desarmados e marginalizados se quisermos conseguir um entendimento entre diferentes culturas", opina.





Fonte: BBBC Brasil

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