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Internacional
Sábado - 25 de Fevereiro de 2006 às 09:47
Por: Michael Georgy

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A explosão de um carro-bomba numa cidade sagrada para os xiitas, o assassinato de uma família de 12 pessoas e um tiroteio perto da casa de um alto líder muçulmano sunita neste sábado aumentaram os temores de que o Iraque possa estar sendo levado para uma guerra civil.

Pelo menos oito pessoas foram mortas e 31 ficaram feridas num ataque com carro-bomba ocorrido num mercado de rua em Kerbala, cidade a sudoeste de Bagdá. Na capital, uma bomba detonada no enterro de uma conhecida jornalista iraquiana matou seguranças, informaram a rede de televisão Arabiya, para a qual ela trabalhava, e a polícia.

Homens armados mataram 12 pessoas de uma família em sua casa perto de Baquba, cidade com habitantes sunitas e xiitas ao nordeste de Bagdá. Parentes disseram que a nove dos mortos eram xiitas e três sunitas. Os casamentos mistos não são incomuns no Iraque.

São confusos os detalhes sobre o tiroteio ocorrido em Bagdá, perto da casa do chefe da Associação de Clérigos Muçulmanos Sunitas, Harith al-Dari. Falando ao vivo da casa, por telefone, para a Arabiya, ele responsabilizou a polícia do governo predominantemente xiita: "É uma guerra civil declarada por um lado."

Um assessor disse que duas sobrinhas de Dari, com 4 e 15 anos, estavam entre os feridos.

Na mesma área, o cortejo fúnebre de Atwar Bahjat, que trabalhava para a Arabiya, foi alvo de disparos, informou a rede, acrescentando que uma pessoa morreu e quatro ficaram feridas. A jornalista foi morta na quarta-feira, em Samarra, onde a explosão de um santuário xiita, atribuído à al Qaeda, desencadeou uma série de ataques em represália contra sunitas.

Ao voltar do enterro, o comboio foi atingido por uma bomba que matou dois guardas, segundo a polícia. A Arabiya disse que várias pessoas morreram na explosão.

A violência do sábado se seguiu a uma noite de combates ao redor de mesquitas da minoria sunita em Bagdá, apesar de estar em vigor, há dois dias, o toque de recolher na capital; 200 pessoas morreram apenas nas proximidades de Bagdá desde a destruição da Mesquita Dourada de Samarra, há três dias.

"Este é um momento de escolha para o povo iraquiano", disse o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, que espera o fim da violência para que possa levar de volta os soldados norte-americanos. "Os próximos dias serão intensos."

Segundo a polícia, homens armados usando o preto que caracteriza milicianos xiitas atacaram mesquitas sunitas em duas áreas de Bagdá durante a noite. Entre eles estava o santuário de Abu Hanifa, local mais sagrado para os sunitas na cidade, mas acabaram sendo expulsos, disse a polícia.

Clérigos sunitas afirmam que dezenas de suas mesquitas foram danificadas no auge da violência, na quarta e quinta-feira, antes da imposição do toque de recolher, na sexta, que reduziu os combates.

Em Kerbala, que, como Samarra, tem um dos quatro lugares mais sagrados para os xiitas no Iraque, um carro-bomba detonado por controle remoto explodiu num concorrido mercado de rua, segundo a polícia.

Perto da cidade de Kirkuk, no norte, um foguete Katyusha danificou um santuário xiita durante a noite, segundo fontes da polícia.

Perto de Baquba, fontes militares disseram que soldados iraquianos mataram quatro suspeitos de serem insurgentes sunitas e fizeram 17 prisões.

MEDIDAS DO GOVERNO

O primeiro-ministro Ibrahim al-Jaafari, xiita, vem tentando acalmar os iraquianos, afirmando que o governo está fazendo todo o possível para conter a crise e que a segurança será intensificada e os lugares santos, protegidos.

Líderes xiitas rivais, todos envolvidos como governo, se recusam a enviar suas milícias para agirem contra alvos sunitas. Essa demonstração de força por pode ter fortalecido a posição dos xiitas nas negociações patrocinadas pelos EUA sobre uma coalizão nacional de unidade.

A fúria dos xiitas, que paralisou as conversações ao fomentar um boicote aos sunitas, é maior do que a provocada pelos ataques da al Qaeda e de outros rebeldes sunitas, que mataram milhares de pessoas desde que as forças dos EUA depuseram o regime de Saddam Hussein, dominantemente sunita, há três anos.

Sem experiência, policiais e soldados iraquianos treinados pelas forças norte-americanas bloquearam estradas e ruas em toda Bagdá. As patrulhas norte-americanas, vistas com ressentimento pelos dois lados, evitaram chamar a atenção. As novas forças iraquianas foram formadas em grande parte com integrantes de milícias rivais e a sua lealdade pode ser posta à prova em qualquer batalha.

Na sexta-feira, as ruas de Bagdá estavam quase desertas, apesar de o toque de recolher, que dura até as 16h00 (13h00 GMT) se aplique apenas ao tráfego de veículos.

Os apelos pela unidade muçulmana feitos na sexta-feira durante as orações nas mesquitas, aparentemente reduziram as tensões, mas fontes do governo disseram à Reuters que ainda temem que os ânimos saiam do controle, especialmente se clérigos xiitas não conseguirem conter a fúria da comunidade majoritária contra os insurgentes sunitas.

O principal bloco sunita se retirou das negociações para a formação de uma coalizão, realizadas depois da eleição de dezembro, de que esse bloco participou. Ao se retirar, acusou os líderes xiitas de fomentarem os ataques em represália.

Autoridades iraquianas e norte-americanas responsabilizaram a al Qaeda pelo ataque, que não fez vítimas, mas teve forte conotação simbólica, afirmando que a organização quer destruir o projeto de democratização do Iraque. Por sua vez, a al Qaeda acusa os xiitas pela explosão de bomba em Samarra, para arranjar uma desculpa para os ataques contra sunitas.

No exterior, há a preocupação de que a violência sectária no Iraque ponha fogo em todo o Oriente Médio, caso fuja ao controle.

(Com reportagem de Alastair Macdonald, Mussab Al- Khairalla , Nick Olivari, Sami al-Jumaili e Faris al-Mehdawi)





Fonte: Reuters

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