Arcebispo da Igreja Anglicana pede fechamento de Guantánamo

O arcebispo de York, John Sentamu, a segunda autoridade da Igreja Anglicana, pediu o fechamento imediato do centro de detenção de Guantánamo, em Cuba, e acusou os EUA de "violar a lei internacional", em entrevista publicada hoje pelo jornal "The Independent".

Sentamu garante que a recusa dos Estados Unidos em fechar a instalação, apesar do pedido expresso de uma comissão da ONU, reflete uma sociedade semelhante à descrita pelo escritor George Orwell em seu romance "A Revolução dos Bichos", onde governantes autoritários perpetuam seu poder com base em mentiras e repressão.

Cinco relatores de direitos humanos das Nações Unidas divulgaram esta semana um estudo em que pedem o fim da área conhecida como "campo Delta", em Guantánamo, e o indiciamento ou libertação de mais de 500 prisioneiros que estão presos lá sem terem sido acusados nem julgados.

O Governo americano menosprezou o documento por considerá-lo parcial, e voltou a se recusar a fechar Guantánamo.

Sentamu, que no ano passado se tornou o primeiro arcebispo negro da Igreja Anglicana, pediu ao Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos que interpele legalmente os Estados Unidos caso o país resista a cumprir a indicação nos tribunais do país ou no Tribunal Internacional de Justiça de Haia.

O arcebispo ugandense sugere que uma ordem judicial obrigue os EUA a levarem os presos à Justiça para que se decida se serão acusados ou se, não havendo provas contra eles, deverão ser libertados.

"O pilar de qualquer sociedade democrática é que todos são iguais perante a lei, inocente até que se prove o contrário, e todos têm direito à representação legal", explicou. "Se não há dúvida sobre a culpa dos prisioneiros de Guantánamo, por que os americanos têm medo de levá-los a um tribunal?", questionou.

"Deter alguém por quatro anos sem acusações é um claro indicativo de uma sociedade que remete à ''Granja'' de Orwell", afirmou o arcebispo.

Depois da publicação do relatório da ONU, a organização humanitária Anistia Internacional, com sede em Londres, pediu aos Governos e ativistas de direitos humanos que exijam o fechamento do campo de prisioneiros.