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Municipal apresenta ópera para abrir o Ano Mozart
São Paulo - Um fim de semana para Mozart. Amanhã, a ópera As Bodas de Fígaro; no domingo, um concerto dedicado a obras para piano e orquestra. Assim o Teatro Municipal abre a programação do festival Mozarteando, homenagem aos 250 anos do nascimento do compositor austríaco - até abril, a série inclui ainda uma outra ópera, A Flauta Mágica, e apresentações de peças como a Sinfonia Concertante e a Grande Missa, acompanhadas de obras de outros autores, criadas com inspiração no compositor.
O diretor do teatro, Jamil Maluf, que rege o concerto de domingo com a Orquestra Experimental de Repertório, explica que, na impossibilidade de se programar tudo, optou-se por algumas das obras mais significativas do compositor. Daí, por exemplo, a idéia de abrir o ano com As Bodas de Fígaro. Foi a primeira ópera escrita por Mozart a partir de texto de Lorenzo Da Ponte. O trabalho dos dois é um marco - pela perfeita integração entre texto e música - do repertório operístico. A montagem atual é a mesma estreada em 2001 no próprio Municipal, assinada por José Possi Neto. A regência agora é de José Maria Florêncio. O elenco sofreu algumas alterações. Paulo Szot e Rosana Lamosa voltam a a interpretar Fígaro e Susanna. Stephen Bronk é o conde, Claudia Riccitelli, a condessa. Denise de Freitas faz Cherubino, Carlos Eduardo Marcos é Bartolo. Participam ainda o tenor Paulo Queiróz e a soprano Graziela Sanches, entre outros.
As Bodas são baseadas na peça do francês Beaumarchais, o mesmo autor do Barbeiro de Sevilha, adaptado para o palco lírico por Rossini. Os personagens são os mesmos. No Barbeiro, Fígaro ajuda o conde a burlar a proteção de Bartolo e conquistar a jovem Rosina. Já nas Bodas, o personagem tenta, ao lado da noiva Susanna, impedir que o conde recupere a tradição feudal que dá ao senhor o direito à primeira noite com a mulher de seus servos. A peça foi um escândalo, afinal, uma trama sobre servos tramando contra seus senhores, retratados como paspalhões, não tinha muito como agradar à aristocracia da segunda metade do século 18. A ópera, porém, desde cedo se transformou em uma das favoritas do público.
Para o maestro Florêncio, em um ano em que vamos ler e ouvir diversas vezes que Mozart foi perfeito, um símbolo para todos os que surgiram depois, é preciso tomar cuidado para não cair em discursos vazios, esquecendo os motivos pelo qual o compositor é considerado genial. E no caso das Bodas, esse componente social do libreto seria fundamental. "Terminar a ópera com uma mensagem que pede a igualdade social naquela época demonstra grande coragem", diz ele em entrevista ao Estado, ressaltando também a importância da interação entre texto e música. "Em muitas óperas, não apenas o texto, mas também argumento são muito fracos. Muitos compositores se aproveitaram disso até como uma maneira de ressaltar a música antes de qualquer outra coisa. Mas isso não vale neste caso. O texto é muito bom e Mozart, apesar de trabalhar com técnicas ainda limitadas, obtém delas o melhor uso possível. E é isso que o distingue de seus contemporâneos", completa.
Rosana e Paulo Szot também ressaltam a importância do libreto de Da Ponte. "Trabalhar com um texto inteligente como esse exige do intérprete uma agilidade enorme. Você não pára um só minuto, tem de estar muito atento ao ritmo, à fluência do espetáculo. É aí que está a essência da obra", diz a soprano. "Mozart é de longe meu compositor predileto", diz Paulo, grande intérprete de Don Giovanni e também do Fígaro de Rossini, com o qual iniciou sua carreira. "E se digo isso é porque ele permite ao cantor explorar todas as possibilidades da voz", completa Szot. E por que é tão comum ouvir que Mozart é fundamental para a formação do cantor? Rosana arrisca uma resposta. "Cantar sua música é um exercício fascinante. No fim, o canto precisa parecer simples, límpido, direto. Mas para dar a entender essa facilidade é preciso muito trabalho, refinar ao máximo a técnica e a voz", explica.
Concertos Neste sentido, é preciso reconhecer que Mozart também foi importante para a história do repertório para piano. O maestro Isaac Karabtchevsky disse recentemente ao Estado que é nos movimentos lentos dos concertos para piano que "Mozart nos eleva acima da matéria e das agruras da vida, e ainda nos faz pensar que o homem paira acima do cotidiano, num nível superior de espiritualidade". O compositor Ronaldo Miranda também defende que um passeio pela obra do compositor passa necessariamente por essas peças, que influenciaram muita gente, em especial Beethoven, autor de cinco monumentais obras do gênero.
Foi pensando em tudo isso que o maestro Jamil Maluf programou o concerto de domingo. Ele começa com a abertura da ópera O Rapto do Serralho. E depois, só piano. Foram convidados dois prodígios do instrumento. O polonês Alexander Gurning e a argentina Karin Lechner já foram protegidos de Martha Argerich, passando também pela mão de professores como Nelson Freire e Daniel Barenboim. A apresentação tem o Concerto para Piano em Ré Menor, K. 466 e o célebre Concerto para Dois Pianos em Mi Bemol Maior, K.365. "Nesta peça, é interessante ver como Mozart trata os dois pianos como se fosse um só. Já no 466, vale ver como ele antecipa muitas coisas. É uma peça longa, dramática, com uma orquestra vasta, que pula Beethoven e antecipa diretamente os românticos", diz Jamil Maluf. Uma hora antes de cada apresentação do festival, bailarinos da Cia. 2 do Balé da Cidade farão performances sobre o compositor e os mitos que cercam sua figura. "Tudo isso, enfim, é para que a gente entenda por que esse cara foi tão importante", diz Maluf.
O diretor do teatro, Jamil Maluf, que rege o concerto de domingo com a Orquestra Experimental de Repertório, explica que, na impossibilidade de se programar tudo, optou-se por algumas das obras mais significativas do compositor. Daí, por exemplo, a idéia de abrir o ano com As Bodas de Fígaro. Foi a primeira ópera escrita por Mozart a partir de texto de Lorenzo Da Ponte. O trabalho dos dois é um marco - pela perfeita integração entre texto e música - do repertório operístico. A montagem atual é a mesma estreada em 2001 no próprio Municipal, assinada por José Possi Neto. A regência agora é de José Maria Florêncio. O elenco sofreu algumas alterações. Paulo Szot e Rosana Lamosa voltam a a interpretar Fígaro e Susanna. Stephen Bronk é o conde, Claudia Riccitelli, a condessa. Denise de Freitas faz Cherubino, Carlos Eduardo Marcos é Bartolo. Participam ainda o tenor Paulo Queiróz e a soprano Graziela Sanches, entre outros.
As Bodas são baseadas na peça do francês Beaumarchais, o mesmo autor do Barbeiro de Sevilha, adaptado para o palco lírico por Rossini. Os personagens são os mesmos. No Barbeiro, Fígaro ajuda o conde a burlar a proteção de Bartolo e conquistar a jovem Rosina. Já nas Bodas, o personagem tenta, ao lado da noiva Susanna, impedir que o conde recupere a tradição feudal que dá ao senhor o direito à primeira noite com a mulher de seus servos. A peça foi um escândalo, afinal, uma trama sobre servos tramando contra seus senhores, retratados como paspalhões, não tinha muito como agradar à aristocracia da segunda metade do século 18. A ópera, porém, desde cedo se transformou em uma das favoritas do público.
Para o maestro Florêncio, em um ano em que vamos ler e ouvir diversas vezes que Mozart foi perfeito, um símbolo para todos os que surgiram depois, é preciso tomar cuidado para não cair em discursos vazios, esquecendo os motivos pelo qual o compositor é considerado genial. E no caso das Bodas, esse componente social do libreto seria fundamental. "Terminar a ópera com uma mensagem que pede a igualdade social naquela época demonstra grande coragem", diz ele em entrevista ao Estado, ressaltando também a importância da interação entre texto e música. "Em muitas óperas, não apenas o texto, mas também argumento são muito fracos. Muitos compositores se aproveitaram disso até como uma maneira de ressaltar a música antes de qualquer outra coisa. Mas isso não vale neste caso. O texto é muito bom e Mozart, apesar de trabalhar com técnicas ainda limitadas, obtém delas o melhor uso possível. E é isso que o distingue de seus contemporâneos", completa.
Rosana e Paulo Szot também ressaltam a importância do libreto de Da Ponte. "Trabalhar com um texto inteligente como esse exige do intérprete uma agilidade enorme. Você não pára um só minuto, tem de estar muito atento ao ritmo, à fluência do espetáculo. É aí que está a essência da obra", diz a soprano. "Mozart é de longe meu compositor predileto", diz Paulo, grande intérprete de Don Giovanni e também do Fígaro de Rossini, com o qual iniciou sua carreira. "E se digo isso é porque ele permite ao cantor explorar todas as possibilidades da voz", completa Szot. E por que é tão comum ouvir que Mozart é fundamental para a formação do cantor? Rosana arrisca uma resposta. "Cantar sua música é um exercício fascinante. No fim, o canto precisa parecer simples, límpido, direto. Mas para dar a entender essa facilidade é preciso muito trabalho, refinar ao máximo a técnica e a voz", explica.
Concertos Neste sentido, é preciso reconhecer que Mozart também foi importante para a história do repertório para piano. O maestro Isaac Karabtchevsky disse recentemente ao Estado que é nos movimentos lentos dos concertos para piano que "Mozart nos eleva acima da matéria e das agruras da vida, e ainda nos faz pensar que o homem paira acima do cotidiano, num nível superior de espiritualidade". O compositor Ronaldo Miranda também defende que um passeio pela obra do compositor passa necessariamente por essas peças, que influenciaram muita gente, em especial Beethoven, autor de cinco monumentais obras do gênero.
Foi pensando em tudo isso que o maestro Jamil Maluf programou o concerto de domingo. Ele começa com a abertura da ópera O Rapto do Serralho. E depois, só piano. Foram convidados dois prodígios do instrumento. O polonês Alexander Gurning e a argentina Karin Lechner já foram protegidos de Martha Argerich, passando também pela mão de professores como Nelson Freire e Daniel Barenboim. A apresentação tem o Concerto para Piano em Ré Menor, K. 466 e o célebre Concerto para Dois Pianos em Mi Bemol Maior, K.365. "Nesta peça, é interessante ver como Mozart trata os dois pianos como se fosse um só. Já no 466, vale ver como ele antecipa muitas coisas. É uma peça longa, dramática, com uma orquestra vasta, que pula Beethoven e antecipa diretamente os românticos", diz Jamil Maluf. Uma hora antes de cada apresentação do festival, bailarinos da Cia. 2 do Balé da Cidade farão performances sobre o compositor e os mitos que cercam sua figura. "Tudo isso, enfim, é para que a gente entenda por que esse cara foi tão importante", diz Maluf.
Fonte:
Agência Estado
URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/319383/visualizar/
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