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Nacional
Quinta - 09 de Fevereiro de 2006 às 18:40

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São Paulo - Após dez anos sem vir ao Brasil, o guitarrista mexicano Carlos Santana, de 58 anos, volta a dar as caras no País. Ele toca em três cidades: Porto Alegre (Gigantinho, no dia 15 de março), São Paulo (17 de março, na Arena Skol Anhembi), e Rio de Janeiro (18 de março, na Apoteose) A rota "brasileira" continua: em maio, ele é atração confirmada do Rock in Rio Lisboa, em Portugal.

O primeiro brilho de sua estrela ofuscou uma multidão em Woodstock, em 1969, quando só tinha 22 anos. A luz consolidou-se nos anos 70, apagou-se nos anos 80 e 90 e voltou a brilhar em 1999, quando lançou o celebrado disco de duetos "Supernatural (ganhador de oito prêmios Grammy), Carlos Santana mantém - como o leitor verá - uma fidelidade canina ao ideário hippie: paz & amor, solidariedade universal, fé ecumênica, humanismo exacerbado. Não raro, exalta em discursos seus irmãos nessa crença: Rosa Parks, Malcolm X, John Lennon, Bob Marley.

Santana vendeu cerca de 90 milhões de discos em sua carreira mundo afora. Hoje, diz-se que está preso à fórmula de Supernatural, que já rendeu duas seqüências: Shaman e All That I Am. O músico faz parte de uma casta de guitarristas do mundo cujo som, como uma assinatura, é imediatamente reconhecível. Hoje (9), de Los Angeles, onde ele está para apresentar um prêmio Grammy (para cantores de rap), Santana falou à Agência Estado por telefone.

Gostaria de saber sua opinião sobre os presidentes dos Estados Unidos, George W. Bush, e do México, Vicente Fox.

Não acho que sejam muito diferentes daqueles que vi antes. Cresci na época do Vietnã. Os presidentes que conheci eram todos muito iguais. Gostaria de um dia ver mulheres como presidentes, nas Américas, na Índia. As mulheres tendem a ter mais compaixão, a representar melhor os pobres, a pensar menos em economia e mais no capital humano. Nada mudou de verdade desde os anos 60.

O sr. não vê esperança de que algo mude no futuro próximo?

Há muita esperança. Vejo sempre um belo planeta Terra sustentado não pelo dólar, mas pela solidariedade. Esse será o mais poderoso poder.

Teremos dois superconcertos no Brasil em alguns dias, Rolling Stones e U2. O que o sr. pensa deles?

Bono Vox fez um bom trabalho na África, aprecio sua obra. Não ouço Rolling Stones há muitos anos. Nos anos 60 e 70, ouvi muito, mas não depois disso. Hoje em dia tenho ouvido muito música africana. E John Coltrane, como sempre. Miles Davis, John Lee Hooker.

O sr. conhece Amadou e Mariam, uma dupla de cantores do Mali, na África? Estão entre os africanos que o sr. ouve?

Sim, eu os conheço. Gostaria muito de trabalhar com eles no meu próximo disco de duetos, são artistas que estão nos meus planos, assim como Harry Belafonte e Bob Dylan.

Amadou e Mariam são cegos.

Eles vêem muito mais do que muita gente que enxerga. Terei muita honra em gravar com eles, são maravilhosos.

O sr. nasceu numa pequena vila mexicana sem água corrente e sem luz. Hoje, freqüenta o estrelato do rock and roll. O que mudou no seu modo de ver o mundo, desde então?

A minha é uma história de superação pessoal. Quando vou a El Salvador, ao Rio de Janeiro, a São Paulo, vejo que a pobreza continua a mesma em todo lugar. Minha missão, como a de Desmond Tutu e Harry Belafonte, é lutar para que um dia cada mulher e cada criança do mundo possam ter água corrente, luz elétrica, educação e alimentação. Faço isso convidando as pessoas para mudar suas formas de pensar. Há muitos fazendo isso: Plácido Domingo, Gilberto Gil. Mantemos uma fundação, eu e minha mulher, a Fundação Milagro, para trabalhar nisso. Sou um guerreiro: declarei guerra contra as injustiças e a pobreza. Faço isso tentando despertar a consciência, a compaixão. Há muita crueldade no mundo. A música pode tratar disso, como o fazem Djavan, Plácido Domingo, Wayne Shorter. Fazem uma música para que as pessoas vejam mais fundo.

O sr. celebrizou-se fazendo fusões entre a música latina e o blues, o jazz e a música afro-cubana. Mas, recentemente, em duetos com rappers como o Black Eyed Peas e Sean Paul, o sr. tornou-se próximo do hip-hop. Como vê esse gênero?

É a música de hoje. Nos anos 60, ouvíamos Bo Diddley, Chuck Berry, Little Richard. Agora, há o rap aí fora. É a linguagem de hoje. Não gosto do rap que demonstra falta de respeito com as mulheres, que prega a violência. Gosto de Tupac Shakur, mas aprecio principalmente o rap que sabe ser construtivo, produtivo. O rap pode ser usado para um bem maior.

Quando o sr. gravou Oye Como Va, de Tito Puente, criou o latin rock, tornou-se muito influente em todas as décadas seguintes. Ainda está em busca de uma peça que mude de novo a história da música?

Sempre digo que busco a Música da Terra. Ouço Coltrane e Dylan, gosto muito deles. Como eles, quando faço música, não penso conscientemente em inventar nada. Da mesma forma que, quando ouço a música do Panamá ou de Porto Rico, não chamo de música latina ou espanhola. Tudo veio da África. Há as variações o chachachá, o samba, a música do candomblé, mas tudo veio da África.

Sua carreira é fortemente marcada pela espiritualidade. Qual é hoje sua ligação com a religião?

Tenho forte relação com Deus, mas não com religiões. Buda, Krishna, os deuses ioruba, Allah, Mohamed, Jesus: todos são um só. Se você toca um, toca todos. Minha religião são minhas intenções, minha honra, meus propósitos. Essa é a minha salvação.

Como o sr. viu a reação muçulmana às charges que mostram o profeta Maomé como homem-bomba?

O que eu sei é que é errado matar outras pessoas porque pensam diferentemente de você, porque você acha que seu Deus é o único. Em todo o mundo, as pessoas estão corrompendo a religião. Ninguém pode representar Allah nem Jesus muito bem se abre sua janela apenas para ferir, para espalhar violência e medo. Se você diz que é cristão e fere pessoas, ou se diz que é muçulmano e fere pessoas, não é cristão nem é muçulmano. Isso é no que acredito, rapaz.

Em Nova York, recentemente, num show no Hammerstein Ballroom, o sr. chamou ao palco muitos convidados, como Kenny Garrett, Robert Randolph, Walt Lafty. Podemos esperar algo parecido aqui no Brasil?

Espero convidar músicos do Brasil para cantar comigo. Adoraria que fossem Djavan e Milton Nascimento. Há também um baterista chamado Comanche. Por meio do seu jornal, vou fazer este convite: convido meus amigos a compartilharem comigo desta jornada. Me procurem, vamos tocar juntos.







Fonte: Terra

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