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Internacional
Terça - 07 de Fevereiro de 2006 às 18:00

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Milhares de eleitores lotaram as seções de votação do Haiti na terça-feira, na primeira — e caótica — eleição desde a queda do presidente Jean-Bertrand Aristide, há quase dois anos.

Houve denúncias de fraude, e milhares de soldados da ONU ficaram de prontidão. Em muitas seções, especialmente nas áreas mais miseráveis, a votação começou com horas de atraso, o que irritou o eleitorado do ex-presidente René Préval, ex-aliado de Aristide e favorito para voltar ao cargo.

"Cadê a minha seção eleitoral para eu votar no Préval?", dizia Jean Nazaire diante de uma seção fechada no bairro de Delmas, em Porto Príncipe. "Disseram para a gente levantar cedo e vir votar. Muitos de nós nem dormimos. Por que não nos dão a nossa oportunidade?"

Um homem de 75 anos morreu esmagado pela multidão de eleitores no bairro de Petionville, um dos mais ricos da capital. Cerca de 20 pessoas ficaram levemente feridas na investida de um grupo contra o portão de outra seção eleitoral, no centro da cidade.

A votação vai até 16h (20h em Brasília), e a apuração deve levar vários dias. O país vive sob a observação de 9.000 soldados estrangeiros, comandados pelo Brasil.

Milhares de pessoas acordaram de madrugada e andaram horas em meio a porcos, lixões e soldados da ONU para votarem perto da imensa favela de Cité Soleil. Às 6h, a seção eleitoral permanecia fechada, e a multidão começou a percorrer as ruas agitando galhos de árvores e gritando slogans pró-Préval. Mais de três horas e meia depois, a seção finalmente abriu. Alguns eleitores suspeitam de fraude, garantindo que nos bairros mais ricos a elite estava votando maciçamente no principal rival de Préval, o empresário Charles Baker, enquanto nas favelas a multidão esperava para apoiar seu candidato.

"Em Petionville, a burguesia está votando, mas nós não podemos. Conhecemos a fraude deles. Eles estão tentando nos empurrar o Baker", disse Lucas Charles. "Se nos empurrarem o Baker, vamos passar os próximos cinco anos atirando com nossas armas."

A polícia local usou gás lacrimogêneo para dispersar uma multidão descontrolada diante de uma seção eleitoral em Delmas, segundo testemunhas.

Exatamente 20 anos após a queda do ditador Jean-Claude Duvalier, a votação de terça-feira representa, segundo a ONU, uma esperança para o fim do ciclo de golpes e instabilidade que toma conta do Haiti deste então. Mais conflitos, entretanto, poderiam mergulhar o país mais pobre das Américas em um caos ainda maior.

Grande parte dos haitianos suspeita que o governo interino tenha dificultado propositalmente a votação nas áreas mais pobres a fim de prejudicar Préval. Muita gente ligou para as rádios tentando descobrir o seu local de votação. Em vários casos, o eleitor tinha de caminhar várias horas até a sua seção eleitoral.

O primeiro-ministro Gerard Latortue disse que o governo "ficou feliz, porque apesar desses problemas as pessoas compareceram para votar em massa."

Préval terá maior votação nas favelas, a mesma base de apoio de Aristide. Ele foi presidente entre 1996 e 2001, um período de relativa calma em meio aos dois mandatos de Aristide. Préval é o único presidente na história do Haiti a completar seu mandato e transmiti-lo a um sucessor eleito. Contra si, tem a poderosa elite econômica, em parte responsável pela queda de Aristide.

Apesar da sua liderança folgada nas pesquisas, Préval talvez não tenha os 50 por cento dos votos necessários para evitar o segundo turno. Há 33 candidatos na disputa, a maioria sem chances. Leslie Manigat, presidente durante alguns meses e deposto por um golpe em 1988, ocupa o terceiro lugar nas pesquisas, atrás do industrial Baker.





Fonte: EFE

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