Repórter News - reporternews.com.br
Três anos depois, Guaribas não vive sem Fome Zero
O tempo passa devagar em Guaribas, no interior do Piauí. Foram-se três anos desde que a cidade virou notícia nacional ao receber a visita de ministros para o lançamento do programa Fome Zero, a maior aposta social do recém-iniciado governo Lula. Ao longo desses 1.095 dias - completados na última sexta-feira -, alguma coisa mudou. Guaribas agora tem água encanada. Possui também mais escolas. Mas tem, principalmente, os cartões do Bolsa Família. Depois de três anos, a cidade vive das pensões federais. A fome, que deveria ter terminado com as ações de desenvolvimento do município, ainda ronda Guaribas como um espectro.
Há três anos, quando o então ministro do Combate à Fome, José Graziano, chegou à cidade acompanhado de mais quatro companheiros de Esplanada dos Ministérios, previu: "Quero voltar aqui em quatro anos e dizer que vocês não precisam mais do cartão porque acabou a fome." O prazo está se esgotando, mas os moradores de Guaribas ainda precisam sim, e muito, dos cartões. "Se por uma calamidade os cartões acabassem amanhã, a cidade toda ia morrer de fome", diz o atual prefeito do município, Ercílio de Andrade, do PMDB, aqui inimigo político do PT do presidente Lula.
A única atividade produtiva na cidade é uma pequena agricultura de subsistência. Planta-se feijão, milho e mandioca e só nos bons sobra alguma coisa para ser vendido. Não é o caso desse 2006, que chegou com uma seca das mais duras. Não chove desde novembro. Não há ninguém na cidade que não passe o dia a olhar o céu, rezando para que as nuvens tragam alguma umidade.
"É tão triste de ver as plantas ali, tudo torradinhas em cima da terra, que eu jurei que só volto na roça quando chover. Mas agora não adianta mais", diz Carmelita da Rocha, de 64 anos, todos eles vividos em Guaribas. "O ano que mais capinei foi o ano que mais perdi minhas plantas."
Carmelita vive da aposentadoria que recebe do governo - outra das fontes de renda do município, essa pequena, porque a quantidade de idosos não é grande.
Do dia em que os ministros visitaram a cidade, só lembra da promessa de que a água iria chegar. E esse é o maior avanço da cidade nesses três anos. Da fonte no pé da Serra das Confusões, onde tinham que buscar água, até as casas são três quilômetros. No ano passado, depois de três tentativas, o governo do Estado conseguiu criar um sistema definitivo de abastecimento no município. Abrir a torneira em casa e ver a água sair é motivo de felicidade.
"Só isso já é motivo de alegria. Mas, para ser bom mesmo, tinha era que ter emprego", diz Ana Luzia Dias, de 26 anos, viúva, quatro filhos, R$ 95 recebidos todo mês do Bolsa Família. "Aqui não tem o que fazer. Se não fosse o programa, eu ia morrer de fome", afirma.
RECEITA
O maior empregador da cidade é a prefeitura. São 130 funcionários, contando os professores, que consomem 65% da receita do município. Sem arrecadação própria, Guaribas recebe mensalmente cerca de R$ 200 mil - tudo dinheiro federal e estadual. Desse total, R$ 124 mil vêm do Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental (Fundeb), que pode ser usado apenas em educação. O restante sai do Fundo de Participação dos Municípios. "A gente está no limite, mas às vezes emprega um mais aqui e ali para ajudar, mesmo sabendo que é inconstitucional", diz o prefeito.
Nas ruas da cidade, ainda sem calçamento, homens e mulheres se juntam na frente das casas, no meio da tarde, em qualquer dia da semana, sem ter o que fazer. Foram tomadas algumas iniciativas com o intuito de incrementar a produção local - casas de farinha, uma tentativa de apicultura, hortas nas escolas. Mas até agora os resultados foram pequenos. Com a seca, nem a mandioca para a farinha nem o mel podem ser produzidos.
"Estamos tentando trabalhar a questão da produção, mas nada disso é fácil. As pessoas não têm qualificação e a taxa de analfabetismo é muito alta. Trabalhamos em várias frentes ao mesmo tempo", relata a coordenadora do Fome Zero no Piauí, Rosângela Sousa.
Três anos depois de aparecer no mapa do Brasil, Guaribas andou pouco. São as palavras do prefeito Ercílio de Andrade que a definem hoje, como há três anos: "Continuamos pobres e esquecidos."
Há três anos, quando o então ministro do Combate à Fome, José Graziano, chegou à cidade acompanhado de mais quatro companheiros de Esplanada dos Ministérios, previu: "Quero voltar aqui em quatro anos e dizer que vocês não precisam mais do cartão porque acabou a fome." O prazo está se esgotando, mas os moradores de Guaribas ainda precisam sim, e muito, dos cartões. "Se por uma calamidade os cartões acabassem amanhã, a cidade toda ia morrer de fome", diz o atual prefeito do município, Ercílio de Andrade, do PMDB, aqui inimigo político do PT do presidente Lula.
A única atividade produtiva na cidade é uma pequena agricultura de subsistência. Planta-se feijão, milho e mandioca e só nos bons sobra alguma coisa para ser vendido. Não é o caso desse 2006, que chegou com uma seca das mais duras. Não chove desde novembro. Não há ninguém na cidade que não passe o dia a olhar o céu, rezando para que as nuvens tragam alguma umidade.
"É tão triste de ver as plantas ali, tudo torradinhas em cima da terra, que eu jurei que só volto na roça quando chover. Mas agora não adianta mais", diz Carmelita da Rocha, de 64 anos, todos eles vividos em Guaribas. "O ano que mais capinei foi o ano que mais perdi minhas plantas."
Carmelita vive da aposentadoria que recebe do governo - outra das fontes de renda do município, essa pequena, porque a quantidade de idosos não é grande.
Do dia em que os ministros visitaram a cidade, só lembra da promessa de que a água iria chegar. E esse é o maior avanço da cidade nesses três anos. Da fonte no pé da Serra das Confusões, onde tinham que buscar água, até as casas são três quilômetros. No ano passado, depois de três tentativas, o governo do Estado conseguiu criar um sistema definitivo de abastecimento no município. Abrir a torneira em casa e ver a água sair é motivo de felicidade.
"Só isso já é motivo de alegria. Mas, para ser bom mesmo, tinha era que ter emprego", diz Ana Luzia Dias, de 26 anos, viúva, quatro filhos, R$ 95 recebidos todo mês do Bolsa Família. "Aqui não tem o que fazer. Se não fosse o programa, eu ia morrer de fome", afirma.
RECEITA
O maior empregador da cidade é a prefeitura. São 130 funcionários, contando os professores, que consomem 65% da receita do município. Sem arrecadação própria, Guaribas recebe mensalmente cerca de R$ 200 mil - tudo dinheiro federal e estadual. Desse total, R$ 124 mil vêm do Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental (Fundeb), que pode ser usado apenas em educação. O restante sai do Fundo de Participação dos Municípios. "A gente está no limite, mas às vezes emprega um mais aqui e ali para ajudar, mesmo sabendo que é inconstitucional", diz o prefeito.
Nas ruas da cidade, ainda sem calçamento, homens e mulheres se juntam na frente das casas, no meio da tarde, em qualquer dia da semana, sem ter o que fazer. Foram tomadas algumas iniciativas com o intuito de incrementar a produção local - casas de farinha, uma tentativa de apicultura, hortas nas escolas. Mas até agora os resultados foram pequenos. Com a seca, nem a mandioca para a farinha nem o mel podem ser produzidos.
"Estamos tentando trabalhar a questão da produção, mas nada disso é fácil. As pessoas não têm qualificação e a taxa de analfabetismo é muito alta. Trabalhamos em várias frentes ao mesmo tempo", relata a coordenadora do Fome Zero no Piauí, Rosângela Sousa.
Três anos depois de aparecer no mapa do Brasil, Guaribas andou pouco. São as palavras do prefeito Ercílio de Andrade que a definem hoje, como há três anos: "Continuamos pobres e esquecidos."
Fonte:
Agência Estado
URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/320411/visualizar/
Comentários