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Internacional
Sábado - 04 de Fevereiro de 2006 às 18:59

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A difícil situação da comunidade negra de Nova Orleans após o furacão Katrina pode ter um impacto direto nas próximas eleições, nas quais é possível que a cidade do jazz eleja, pela primeira vez desde 1978, um prefeito branco. O pleito estava previsto inicialmente para hoje, mas a devastação causada pelo Katrina obrigou a governadora do estado da Louisiana, Kathleen Blanco, a adiá-lo para 22 de abril.

Antes da chegada do furacão, em 29 de agosto de 2005, Nova Orleans era uma cidade com mais de 500 mil habitantes, dos quais 67% eram de raça negra. Atualmente, sua população total não chega a 150 mil.

Após a passagem do furacão, a população negra da cidade, que vivia nos bairros mais afetados pela catástrofe, foi obrigada a deslocar-se para outras cidades e, inclusive, outros estados.

Um recente estudo de John Logan, sociólogo da Universidade de Brown (Rhode Island), adverte que a cidade pode perder 80% de sua população negra se as áreas mais afetadas não forem reconstruídas, motivo pelo qual o mapa racial de Nova Orleans pode mudar dramaticamente.

O relatório revela que, nas zonas danificadas, a percentagem de população negra chegava a 75%, contra 46,2% das áreas não afetadas pelo furacão.

O Katrina causou maior destruição nos bairros mais desfavorecidos, onde 29,2% da população vivia abaixo da linha de pobreza.

"Se a Nova Orleans do futuro for construída somente sobre a área intacta, se transformará em uma cidade com metade da população branca e outra negra. Além disso, a classe média ficaria (percentualmente) muito maior", disse Logan em declarações à EFE.

A necessidade de uma maior mão-de-obra também desempenhará um papel muito importante.

"As oportunidades de trabalho, sobretudo no setor de construção, podem atrair permanentemente milhares de latino-americanos a uma cidade que tradicionalmente abrigava muito menos (hispânicos) que a média nacional", disse Logan.

As estimativas da comissão municipal "Bring New Orleans Back", presidida pelo atual prefeito, Ray Nagin, situam a população da cidade em 144 mil pessoas em janeiro de 2006, 181 mil em setembro, e 247 mil em setembro de 2008.

O prefeito Nagin, de raça negra, encontra-se em um momento delicado frente as eleições municipais de 22 de abril.

Sua comissão de reconstrução, formada basicamente por empresários brancos, recebeu críticas de líderes afro-americanos por apresentar planos que deixarão a cidade muito menor do que era antes do Katrina.

Além disso, algumas declarações polêmicas de Nagin, nas quais instava seus habitantes a reconstruir "uma cidade cor de chocolate", abriram feridas entre a comunidade branca da cidade, até há pouco tempo minoritária.

Neste contexto, o nome do vice-governador do estado da Louisiana, Mitch Landrieu, aparece como o grande favorito a ser o próximo prefeito da cidade.

Caso consiga o feito, será o primeiro prefeito branco desde seu pai, Moon Landrieu, que exerceu o cargo até 1978.

"A raça desempenhará um papel decisivo nestas eleições, como ocorre em todas as cidades americanas, embora não tanto como o plano dos candidatos para reconstruir a cidade", disse o sociólogo Logan.

Embora ainda não tenha anunciado sua candidatura oficialmente, espera-se que Landrieu faça isso em breve, concorrendo, presumivelmente, com Ray Nagin, entre outros.

Paradoxalmente, a família Landrieu sempre encontrou seus maiores apoios entre os eleitores negros e brancos liberais.

Seu pai promoveu a presença de afro-americanos na política da cidade, enquanto sua irmã Mary, senadora democrata pela Louisiana, também encontrou nesta comunidade seu principal nicho de votos.

Mas o que solidificou ainda mais esta relação foi a oposição de Mitch Landrieu a David Duke, um antigo líder da Ku Klux Klan, quando este foi eleito como representante na Câmara estadual.

Os candidatos para as eleições de 22 de abril têm de ser inscritos até 1º de março. Caso nenhum obtenha a maioria absoluta em abril, um segunda turno será realizado em 20 de maio.





Fonte: EFE

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