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Sábado - 04 de Fevereiro de 2006 às 11:33

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Na adolescência, quando sonhava com o futuro, Carolina Ferraz jamais se imaginou como atriz. E até os 22 anos de idade, se dividia entre uma instável carreira de modelo e a apresentação de programas como o Shock e o Programa de Domingo, da extinta Rede Manchete. O rosto bonito, a voz bem-postada e o jeito "descolado", no entanto, chamaram a atenção da emissora e o convite para integrar o elenco de Pantanal acabou sendo seu passaporte para a dramaturgia.

"Eu não havia feito nada antes, nem estudado teatro. Mas foi uma experiência que marcou definitivamente. Foi ali que eu decidi que queria ser atriz e me dedicar a isso", garante a atriz, que atualmente interpreta a Rebeca, de Belíssima, na Globo. "Eu adoro drama, adoraria um dia fazer uma maníaco-depressiva, uma louca", disse.

Nestes 15 anos de carreira, Carolina Ferraz já pode dizer, sem medo de errar, que é uma atriz com uma carreira bem-sucedida. Depois de trabalhar em outras produções da Manchete, como A História de Ana Raio e Zé Trovão, ela se transferiu para a Globo em 1993, onde se destacou em novelas como Por Amor, Pecado Capital e Kubanacan.

Atualmente, em seu primeiro trabalho com Silvio de Abreu, ela se sente à vontade como a sócia de uma agência de modelos, um mundo com o qual ela tem intimidade de sobra. "Eu adoro esse universo, tenho amigos fotógrafos, designers, estilistas e convivo muito com essas pessoas. Então, acho que isso contribuiu para compor a personagem", admite.

Além de estar em Belíssima, a atriz também pode ser vista no teatro com a peça Rim, em cartaz no Rio de Janeiro, da qual também é produtora. Carolina, aliás, não resiste a fazer planos para novos espetáculos Mas o ritmo de trabalho intenso - a atual é a terceira novela que Carolina emenda -, a faz pensar que deveria tirar férias, tão logo terminem as gravações da novela, em julho. "É um sonho, mas eu gostaria de viajar para um lugar onde pudesse estudar algo diferente, como culinária ou cerâmica", vislumbra. Leia a seguir a entrevista com a atriz:

P - O que mais a atraiu na Rebeca? R - Eu adoro o figurino da Rebeca. Pode parecer superficial, mas não é. Ela é uma personagem conceitual. A maneira como ela se veste. Eu não usaria aquelas roupas daquela maneira. Mas acho muito bacana que ela use. E, na verdade, eu ainda estou descobrindo a personagem. Em novela a gente nunca sabe muito tempo quem é que a gente está fazendo. Você recebe um perfil do personagem, dizendo qual será o desenvolvimento dele na história. Desde o início eu já sabia como seria essa entrada dela, mas agora, no decorrer da trama, eu começo a descobrir coisas mais importantes sobre a Rebeca.

P - Como foi entrar na trama depois de todo mundo?

R - Tem um lado bom e um lado ruim. O ruim é que já está todo mundo com um controle maior sobre os personagens. E isso é difícil, mesmo que eu tenha entrado sem contracenar com outros núcleos, com exceção do núcleo da oficina, já que o meu núcleo inteiro entrou comigo. O lado bom é que você entra fresquinho, você traz um ar novo para a história. História essa que já tem uma cara, já tem um perfil. Então, você precisa ter cuidado, entrar devagar. Sem contar que uma novela é muito longa. Para se ter uma idéia, todo mundo começou a trabalhar em setembro e eu comecei em dezembro. E vou acabar junto com todo mundo.

P - O fato de você já ter vivido esse ambiente da moda contribuiu para a composição da personagem? R - Acho que não. Primeiro porque eu fui uma modelo fracassada. As pessoas não acreditam, mas eu nunca fui uma modelo famosa. Eu comecei a fotografar mesmo - e adoro fotografar, me divirto muito - depois que virei atriz. A verdade é essa. Acho que toda a minha relação com o universo da moda me ajudou, porque eu adoro esse universo. Tenho muitos amigos fotógrafos, coleciono fotografias, tenho amigos designers, estilistas e convivo muito com essas pessoas, sou interessada por isso. Então, acho que isso tudo contribuiu. Mas eu nem sei como funciona uma agência de modelos.

P - Você nunca tinha trabalhado com o Silvio de Abreu.

R - Existia um namoro antigo. Eu sempre tive um desejo profundo de estar com o Silvio. E com o Silvio acontecia a mesma coisa. Sempre que a gente se via ele falava que seria legal nós trabalharmos juntos, que gostava do meu trabalho. E eu também sou fã do trabalho dele. Eu não pensava em fazer nenhum trabalho agora, queria estar de férias porque eu emendei três trabalhos seguidos. Mas eu falei: "ah, eu vou, agora é a hora". Porque eu adoro o Silvio e quando o autor chama você, ele escreve para você. Não importa o tamanho da personagem, se ela vai ter muita importância ou se ela vai ter menos importância. De qualquer maneira, vai ser sempre prazeroso, porque o cara tem uma delicadeza com você.

P - Você falou que vem nessa batida forte de trabalho. O que torna um convite irrecusável? R - Eu me interesso cada vez mais pelos projetos que eu mesma produzo. E estou muito interessada em trabalhar com pessoas que também queiram trabalhar comigo e estejam envolvidas com o projeto. Porque o processo de trabalho é muito desgastante. O tratamento afetivo também é fundamental, a qualidade humana que você estabelece no seu trabalho, a qualidade da relação, do afeto. Isso é legal, facilita o trabalho. O que eu quero hoje é trabalhar em ambientes queridos. Não quero parecer imatura ou romântica, mas eu acho que é possível fazer do ambiente de trabalho uma coisa mais agradável e mais legal para todo mundo e para você. Isso para mim hoje é fundamental em qualquer escolha: com quem eu vou estar.

P - O que você acha da novela abordar o culto à beleza na sociedade contemporânea?

R - Não acho que seja um mito da sociedade contemporânea. No Egito Antigo ou em Roma a beleza também era cultuada da mesma maneira. Antigamente as pessoas não punham silicone porque não existia. Mas já existiam aqueles pós brancos, as perucas, toda a indústria do luxo que a França inventou desde o Renascimento. O que eu acho é que o Silvio aborda a sociedade capitalista de consumo. A mitificação da beleza já existia. Mas eu acho que o belo, da maneira como esses grandes artistas viram e da maneira como abordavam, não era uma coisa sem conteúdo. Eles buscavam uma forma que se aproximasse da perfeição. P - Você vem de trabalhos cômicos. De onde vem esse humor? R - Eu sempre quis trabalhar com comédia. Quando o Carlos Lombardi me contou como seria a Rubi, de Kubanacan, eu decidi que faria de qualquer maneira. Foi minha primeira personagem cômica de construção. É muito interessante trabalhar com composição. Em novela, fazer composição é mais complicado. Novela é uma coisa mais naturalista, um universo do dia-a-dia, uma coisa normal. Talvez seja um pouco pretensioso da minha parte dizer que sou engraçada, mas eu diria que sou, ao menos, bem-humorada. Mas eu queria fazer comédia. E é difícil fazer comédia, você precisa ter um tempo diferente. Eu adoro drama, adoraria um dia fazer uma maníaco-depressiva, uma louca, ou uma mulher profundamente triste. Mas até em função das minhas características físicas, as pessoas nunca me deram oportunidade para esse tipo de personagem.

P - Você falou de intuição e razão. Você pensa nisso para compor um personagem? R - Às vezes você só trabalha. Às vezes você não consegue pensar em nada e, quando chega para gravar, o personagem acontece. No caso da Milena, de Por Amor, eu não sabia como fazer. Aí um dia eu ouvi a música O Leãozinho, do Caetano Veloso, e falei: "essa é a textura da personagem, ela é essa mulher". E virei a "leoazinha". O Caetano nem sabe disso. Já para fazer a Rosário, que é a personagem que estou fazendo no teatro, foi um trabalho mais de sentar, estudar, ler muitas vezes. Cada trabalho é de uma maneira. Com a Rebeca eu não sabia o que fazer. Eu falava com a Denise Saraceni: "eu não estou entendendo". Eu, por exemplo, coloquei a voz mais no peito, para ficar com a voz um pouco mais grave. São detalhes que você vai buscando. O resto aparece depois, mas eu não tenho um método.

P - A Globo comprou os direitos de Pantanal. Você participaria de um eventual "remake" da novela? R - Foi meu primeiro trabalho. Mas foi há tanto tempo, eu fui até lá, me jogaram naquele lugar com bandos de jacarés por todos os lados, acordando às quatro da manhã, tomando banho frio e dormindo às seis da tarde. A gente se comunicava com o mundo pelo rádio, porque telefone não funcionava. Significou um momento feliz. Foi uma delícia toda aquela aventura, com o Jayme Monjardim, naquele lugar maluco. Marcou minha carreira. Foi aí que realmente eu decidi que queria ser uma atriz e me dedicar a isso. Marcou profundamente. E foi inesperado para todos nós na época. Foi uma conspiração de fatores favoráveis o que se realizou. Acho que ninguém imaginava que faria tanto sucesso. A ficha só caiu depois.

Paixão tardia

A maior parte dos atores, desde cedo, se descobrem apaixonados pelo palco ou pela câmara. Carolina Ferraz, ao contrário, nunca pensou em ser atriz. Até os 22 anos, a então modelo e apresentadora jamais tinha feito um curso de interpretação. Foi quando, em 1990, surgiu o convite para integrar o elenco de Pantanal, novela da extinta Rede Manchete que acabou se tornando um estrondoso sucesso. A despeito da boa repercussão da novela, aquele trabalho acabaria se tornando um marco na vida de Carolina Ferraz. "Eu nunca tinha feito nada até ali. Por isso foi uma loucura, especialmente para mim, entender o que aconteceu em Pantanal", recorda.

Dali em diante, a atriz não teve mais dúvidas quanto ao desejo de seguir em frente como atriz. Em cerca de 15 anos de carreira, Carolina Ferraz já acumulou mais de 20 trabalhos na tevê, entre novelas, minisséries, seriados e participações especiais. Entre suas personagens mais marcantes estão a Milena, de Por Amor, de 1997; a Lucinha, do "remake" de Pecado Capital, de 1998; e a Rubi, de Kubanacan, de 2003.

Mesmo com uma carreira consolidada e com a certeza de querer atuar até os 80 anos de idade, Carolina não esconde que, com todo o orgulho que sente pela profissão, o caminho do ator não é dos mais fáceis. "Só é ator quem é completamente apaixonado pelo ofício. Porque é uma profissão muito dura, até cruel em certos aspectos e menos glamourosa do que as pessoas conseguem supor", desabafa.

Reflexos da beleza Carolina Ferraz tem uma beleza capaz de criar estigma: não há personagem da atriz que não traga a estética como componente. Talvez por isso mesmo procure agregar, sempre que possível, uma visão intelectualizada ao seu trabalho, mesmo correndo o risco de parecer "blasé". "A intuição e o sensorial não são menos concretos ou menos reais do que uma idéia ou sentimento de dor, fome ou medo", arrisca.

Quando tece suas impressões sobre o Belo, ou sobre a abordagem da beleza que Silvio de Abreu faz em Belíssima, a atriz cita logo o mestre espanhol Pablo Picasso. "Certa vez ele disse que se interessava mais por suas sensações, capazes de levá-lo a lugares mais interessantes que suas idéias", emociona-se.

A atriz procura agregar um pouco dessa erudição também à sua rotina profissional. Na hora de compor um personagem, por exemplo. Entre suas referências, ela cita outro mestre, o ator inglês Anthony Hopkins. "Ele falou que, para fazer o Hannibal Lecter lia cada cena umas 260 vezes e depois simplesmente declamava como um poema de Shakespeare", inspira-se.

Trajetória Televisiva

Pantanal (Manchete, 1990) - Irma Escrava Anastácia (Manchete, 1990) - Sinhá

A História de Ana Raio e Zé Trovão (Manchete, 1990) - Verônica Floradas na Serra (Manchete, 1991) - Lucila

O Fantasma da Ópera (Manchete, 1991) - Cristina

O Mapa da Mina (Globo, 1993) - Bruna Tropicaliente (Globo, 1994)

Pátria Minha (Globo, 1994) - Beatriz História de Amor (Globo, 1995) - Paula

A Justiceira (Globo, 1997) - Alicinha Por amor (Globo, 1997) - Milena

Pecado Capital (Globo, 1998) - Lucinha Estrela-Guia (Globo, 2001) - Vanessa

O Quinto dos Infernos (Globo, 2002) - Naomi Kubanacan (Globo, 2003) - Rubi

Começar de Novo (Globo, 2004) - Gigi Belíssima (Globo, 2005) - Rebeca





Fonte: Terra

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