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Agronegócios
Terça - 31 de Janeiro de 2006 às 10:36

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Uma manobra orquestrada por políticos e mega-empresários do setor do agronegócio do Estado do Mato Grosso, liderados pelo governador Blairo Maggi (PPS), exclui a rodovia BR-163 (Santarém-Cuiabá) do eixo de prioridades do governo federal e deixa o Pará fora da rota de exportação e produção agrícola. A articulação beneficia diretamente o Grupo Maggi, uma vez que no eixo da BR-158 está localizado um dos maiores empreendimentos do governador, que é o maior produtor individual de soja do planeta. Além disso, livra a Maggi da forte concorrência com multinacionais do setor de exportação de grãos, como a Cargill, já instalada no porto de Santarém, no oeste paraense.



A pavimentação da 158 interessa ainda ao setor agropecuário do leste de Mato Grosso, região que concentra um rebanho bovino de mais de um milhão de cabeças e que assiste a uma explosão da produção de soja. É no eixo desta rodovia que está localizada uma fazenda de 80 mil hectares do governador Blairo Maggi, que conseguiu junto ao IFC, órgão do Banco Mundial, um financiamento de 30 milhões de dólares que serão utilizados justamente para expandir, em até 250 mil toneladas anuais, a produção de soja no eixo da 158. O grupo pretende escoar toda esta produção pela rodovia, levando-a até o rio Araguaia e de lá até os portos do Estado do Maranhão. O Pará serviria apenas como corredor de exportação, ficando de fora de qualquer processo de desenvolvimento.

Se a manobra funcionar o Grupo Maggi consegue uma rota alternativa à sua mega produção e ainda se livra da forte concorrência de empresas como a Cargill, que há cerca de dois anos instalou um terminal graneleiro no porto de Santarém e aguarda a pavimentação da BR-163 para se tornar a principal exportadora da produção mato-grossense. Além disso, outras gigantes do setor, como a Bunge, já negociam com a Companhia Docas do Pará a instalação de portos em Santarém. Com o asfaltamento da Santarém-Cuiabá a cidade seria a principal via de exportação da produção agrícola do Centro-Oeste brasileiro, criando um corredor de produção e desenvolvimento econômico numa extensão de cerca de 900 quilômetros em território paraense.

O forte lobby pela pavimentação da BR-158 em detrimento da 163 deixou preocupado o Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) do governo federal para a Santarém-Cuiabá. Em reunião realizada na semana passada na cidade de Sinop (MT), o coordenador do GTI, Julio Myragaia, disse à empresários e políticos da região que está faltando mais empenho pela conclusão da BR-163. Ele informou que a bancada mato-grossense na Câmara Federal alocou cerca de R$ 60 milhões para a BR-158, mas nenhum valor foi direcionado à 163. “Nós vemos isso com uma certa preocupação porque isso significa que a bancada do Estado está deixando de lado a 163 e olhando com mais atenção a 158”, disse Myragaia na reunião.

A preocupação do GTI é que o início da pavimentação da 158 diminua a demanda pelo asfaltamento da Santarém-Cuiabá, desperdiçando todo o esforço do governo e dos movimentos sociais para criar um modelo nacional de pavimentação aliada ao desenvolvimento sustentável no eixo da obra. Depois de dois anos de discussões e reuniões, o asfaltamento da BR-163 está ameaçado e pode não sair do papel. A rodovia corta 37 municípios do Mato Grosso, 28 no Pará, seis no Amazonas a atravessa uma região rica do ponto de vista do potencial econômico, da diversidade biológica e das riquezas naturais.





Fonte: 24 Horas News

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