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Repórter News - reporternews.com.br
Internacional
Quarta - 25 de Janeiro de 2006 às 18:52

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O VI Fórum Social Mundial começou hoje sua maratona anual de debates em pleno clima de "revolução bolivariana" e com uma forte participação do Governo do presidente Hugo Chávez, que desperta adesões e suspeitas entre os ativistas. O que algumas pessoas chegam a classificar como "ingerência" do Governo em um fórum reservado para os movimentos sociais não está no programa oficial, mas é recorrente nos corredores de um encontro que parece estar envolto como nunca em suas próprias contradições.

Segundo a Carta de Princípios do encontro, o Fórum Social "é um espaço plural e diversificado, não confessional, não-governamental e não partidário, que articula de maneira descentralizada e em rede, entidades e movimentos envolvidos em ações concretas pela construção de um mundo diferente".

Além disso, o documento diz que a participação de Governos e de partidos políticos só é permitida através de convite e para alguma "atividade específica".

No entanto, o "chavismo" está presente nas centenas de atividades propostas em Caracas e na própria organização, que pelo menos nos dois primeiros dias foi caótica.

"Tomaram o Fórum. Vamos ver como se saem", disse à EFE um ativista espanhol veterano nestes encontros do movimento contra a globalização, que aconteceram quatro vezes em Porto Alegre e uma em Mumbai (Índia).

O nicaragüense Fausto Torres, dirigente da organização Via Camponesa, que reúne pequenos agricultores de 140 países, foi surpreendido pela nada dissimulada participação do Governo, mas considerou que, ao contrário dos foros do Porto Alegre, este "tem mais participação popular".

"O PT e o Governo Lula também participavam no Brasil, mas eram muito mais discretos", disse.

O jornalista espanhol Ignacio Ramonet, um dos membros do Comitê Internacional que fundou o Fórum, respondeu às suspeitas que surgiram no segundo dia do fórum e defendeu sua realização em Caracas.

"Diziam que não era possível fazer o Fórum em Caracas, e estamos aqui com uma notável participação popular", declarou à EFE.

"É verdade que isto não é Porto Alegre, mas estamos na revolução bolivariana e há muito interesse em conhecer esta experiência", disse Ramonet, diretor da publicação francesa Le Monde Diplomatique.

Para quem quiser se aprofundar no processo em que a Venezuela embarcou com Hugo Chávez, os organizadores oferecem passeios por áreas periféricas de Caracas nas quais o Executivo venezuelano concentra o desenvolvimento de seus projetos sociais.

Pela primeira vez na história do Fórum, o site do encontro contém uma vasta propaganda sobre os "êxitos e avanços" da Venezuela desde 1999, quando Chávez assumiu a Presidência do país.

O brasileiro Cândido Grzybowski, outro dos fundadores do Fórum Social, admitiu em declarações à EFE que este encontro terá um conteúdos muito mais "político" que os anteriores devido ao caráter peculiar do processo vivido na Venezuela.

Além disso, ele considerou que este sexto fórum acontece no momento em que existe uma "efervescência da esquerda" na América Latina. No entanto, ressaltou que também existem muitas dívidas sociais pendentes.

"Em países como Brasil, Argentina, Uruguai e Panamá, há Governos que se identificam com a esquerda, mas que estão decepcionando. Evo Morales ganhou na Bolívia, mas ainda é uma incógnita", disse.

Sobre a Venezuela, Grzybowski considerou que "Chávez segue a tradição do populismo de esquerda, com uma personalidade forte e em sintonia com as massas, mas o país continua precisando de uma cultura política com partidos e movimentos sociais independentes e sólidos", ressaltou.

O Fórum Social Mundial, que neste ano foi dividido em três e que também acontece no Mali e no Paquistão, reuniu cerca de 70 mil ativistas em Caracas, onde o encontro foi aberto ontem com uma grande marcha pela cidade.

O dia mais esperado pelos venezuelanos, que são maioria no evento, e pelos curiosos por causa da "revolução bolivariana" é a próxima sexta-feira, para quando está previsto o que se anuncia como uma "megaconferência do comandante Chávez".





Fonte: EFE

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