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Economia
Quinta - 19 de Janeiro de 2006 às 07:52
Por: Augusto Gazir

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O presidente da Argentina, Néstor Kirchner, aproveitou o encontro bilateral com o colega Luiz Inácio Lula da Silva nesta quarta-feira em Brasília para expor a sua visão de um Mercosul em que "os benefícios não podem ter uma só direção". Segundo Kirchner, o Mercosul deve ter o papel de "um bloco de assistência recíproca para o desenvolvimento equilibrado", "sem ignorar as assimetrias existentes, nem prejudicar os setores internos de nossos países".

Kirchner afirmou que o Mercosul tem "de deixar para trás uma lógica de força e competição". "Nosso desafio é competir com o resto do mundo", disse ele.

As afirmações do presidente argentino foram feitas durante a declaração oficial à imprensa dele e de Lula, no Palácio do Planalto, depois de reuniões entre eles. Ministros dos dois países também estavam no encontro.

Enquanto Lula concentrou o seu discurso nas relações entre Brasil e Argentina, o Mercosul foi tema de quase metade da fala de Kirchner.

Benefícios mútuos

Do ponto de vista econômico, Lula disse que é preciso trabalhar para que as relações entre os dois países do Cone Sul sejam sempre "mutuamente benéficas".

De acordo com ele, desequilíbrios ocasionais são normais, "mas não é do interesse nem do Brasil nem da Argentina que essas assimetrias se tornem estruturais".

"Por isso, reiterei ao presidente Kirchner a disposição brasileira de colaborar na identificação de medidas que ajudem a acelerar a reindustrialização já em curso na Argentina", afirmou Lula.

"O êxito de nossa parceria requer consultas cadas vez mais estreitas. Não basta assinar acordos, é preciso garantir que eles sejam postos em prática", declarou.

Ao discursar, depois de Lula, Kirchner disse que as circunstâncias econômicas são favoráveis para o desenvolvimento dos dois países, pois "o mundo marcha para uma nova multilateralidade, marcada pelo maior consumo de gigantes como China e Índia".

"Esse multilateralismo de escala continental nos exige uma maior velocidade e um maior aprofundamento na nossa integração", completou.

Assim, para Kirchner, a tarefa não só de Brasil e de Argentina, mas do Mercosul, é criar as condições para um bloco "que favoreça um desenvolvimento industrial", com políticas de "complementação intraindustrial" e com "Estados que orientem a integração dos setores produtivos".

O presidente argentino concluiu sua exposição sobre o Merscosul dizendo que o bloco está aguardando a hora "da incorporação plena" da Bolívia.

Os dois presidentes trocaram vários elogios entre si e reafirmaram a parceria Brasil-Argentina durante a uma hora em que se dirigiram à imprensa.

Para Luiz Inácio Lula da Silva, "Haiti e Bolívia são dois exemplos de como a estreita cooperação entre Brasil e Argentina pode ser benéfica para o progresso e para a paz em nossa região."

Brasileiros e argentinos enviaram militares para a força de paz no Haiti e, segundo Lula, estudam formas de ajudar a Bolívia. O presidente boliviano eleito, Evo Morales, deseja que o seu país receba mais pelo gás que exporta.

"Projeto de identidade"

Mais tarde, em discurso no Congresso Nacional, Kirchner disse que o Mercosul tem que “levantar uma voz, um projeto de identidade” que dê à região força para discutir com os outros blocos.

“Acabou a idéia de uma América do Sul ausente do mundo. Já não queremos ser o pátio traseiro, queremos ser parte ativa da construção dos novos tempos”, disse o presidente argentino.

Kirchner falou para senadores e deputados no plenário do Senado, em uma sessão solene do Congresso, realizada por causa da sua visita.

No Congresso, o presidente argentino afirmou que os legisladores têm “a responsabilidade de dar o andaime jurídico da integração” regional.

Na quinta-feira, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, se junta a Kirchner e a Lula nas discussões sobre a integração regional. Haverá uma reunião entre os três na Granja do Torto, em Brasília.




Fonte: BBC Brasil

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