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Sábado - 14 de Janeiro de 2006 às 15:16
Por: Jotabê Medeiros

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Iguatu, Ceará - No Ceará para inaugurar obras de restauro do programa Monumenta em Icó (370 quilômetros de Fortaleza) e para o ato simbólico de tombamento da residência de Antonio Conselheiro em Quixeramobim (220 km de Fortaleza), o ministro da Cultura, Gilberto Gil, foi ovacionado ao cantar na praça de Icó para 6 mil pessoas, acompanhado de um sanfoneiro. Desfrutando de rara popularidade para um ministro de Estado, aplaudido pelas ruas, cumprimentado por políticos de partidos diversos, ele aproveitou uma parada no longo périplo para falar ao Estado sobre as críticas que sua administração tem recebido de estrelas da cultura nacional - entre elas, seu grande amigo e parceiro Caetano Veloso.

Gil demonstrou estar contente com o desempenho de sua pasta. “Gastamos 99,5% do nosso orçamento, superamos nosso índice de 2005. Talvez sejamos o ministério com o maior índice da Esplanada”, comemorou. O valor representa cerca de R$ 400 milhões.

As críticas que estão surgindo contra o Ministério da Cultura vêm de diversas áreas. Do teatro, com o Paulo Autran, da literatura, com o Ferreira Gullar, agora veio o Caetano...

O Ferreira Gullar não fez crítica como literato. Ele nem mesmo disse assim: a política do livro, da leitura, de bibliotecas. Ele não fez assim. Eu o vi dizendo que tem informações de que os projetos não andam, de que o ministério da Cultura propôs e apoiou a criação do Conselho de Jornalismo - que nem se deu, não é nem fato. As críticas eram nesse sentido. Uma das queixas que eu poderia ter a um certo conjunto de críticas é a falta de qualificação das críticas.

Quando o seu ministério recebe a pecha de autoritarismo, como o sr. reage?

Eu fico pedindo explicações a respeito disso. Onde é que está a centralização? Onde é que se identifica isso? Que ações do ministério podem indicar um desejo que seja, ou mais efetivamente mesmo uma ação centralizadora? A gente está tentando redistribuir fluxos de verbas pelo país inteiro, e estamos conseguindo. Aumentamos a presença da lei de incentivo no País inteiro, no Centro-Oeste, no Norte. As políticas do audiovisual estão se espalhando pelas cidades. As políticas de museus estão se estendendo desde Corumbá, interior de Minas, e também por São Paulo, Rio de Janeiro. O que é que é centralização?

O meu temor de uma certa desqualificação dessas críticas é esse. No caso do teatro, o que é? Você vai lá, e os projetos incentivados pela renúncia fiscal, os índices estão lá. O que é que deixou de existir? No Rio de Janeiro, um setor da Secretaria Municipal de Cultura retirou seu fomento três anos atrás, nesse último período da gestão, causando evidentemente impacto no setor teatral. E a responsabilidade é nossa?

Há de fato uma ênfase maior nos projetos alternativos e não no grande teatro, como se acusa o MinC? Nós criamos políticas públicas para atender a formação de platéias, de novos talentos, não necessariamente desatendendo. Quem é que atendia tradicionalmente o grande teatro ou o grande cinema? Não eram os recursos do Fundo Nacional, nunca foram. Eram as estatais, as grandes companhias privadas, os institutos, os bancos. Isso continua existindo. Continuam fazendo, ou mudando suas linhas. Eles poderiam dizer que isso se deve a estímulos do Ministério da Cultura. Talvez. Espero que sim até. No sentido de políticas públicas que a gente quer que sejam feitas no sentido de mais democratização, mais regionalização, nacionalização, internalização.

Agora, se você passa a praticar políticas públicas com editais, concursos, com competição saudável entre os postulantes, e se isso causa impacto em certos setores relevantes, importantes da produção cultural que se beneficiavam anteriormente de uma relação mais direta com as fontes de recursos, através de políticas não públicas, de atendimento preferencial. Agora há um equilíbrio.

E a crítica do Caetano?

É preciso buscar um equilíbrio. É um pouco a crítica do Caetano: você não pode punir setores que conseguiram uma acumulação significativa na produção cultural do País através de um modelo de acesso direto a recursos. Não pode punir esses setores com uma democratização via editais, via mecanismos de abrangência, tem de fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Mas o que eu fico me perguntando é o seguinte: quais os grandes recursos do ministério da Cultura que estão sendo desviados para essas áreas de atendimento mais universal? Cadê? Onde é? As estatais que financiavam o cinema e etc continuam fazendo, só que adotaram agora outros métodos, criaram conselhos, comissões julgadores, estão avaliando, diferentemente dos programas e demandas que lhe são feitas de financiamento.

O sr. acredita que as críticas, por ser um ano eleitoral, tendem a se acentuar daqui pra frente?

Na medida em que os setores que endereçam as críticas estejam interessados em politizá-las. Eu não tenho nenhum elemento razão para fazer esse julgamento das atitudes que vão vir dos setores de oposição ao ministério. Eu não sei, eles é que sabem.

Em nenhum momento o sr. viu um endereçamento político nas críticas?

Não me interessa. Não é para isso que estou no Ministério. Estou lá para realizar um trabalho e colocar os processos dessa realização em diálogo com a sociedade, receber as contribuições críticas. As câmaras setoriais foram criadas para isso, para acolher as instâncias da crítica nas artes visuais, leitura, artes cênicas. São fóruns legitimados, instituídos para isso. O pessoal do teatro por exemplo: estão todos convocados, venham para a Câmara Setorial. É o lugar onde as respostas do Minc podem ser mais consubstanciadas, diretas, em argumentação, documentação. Não é porque se está em ano eleitoral que vão fazer, vão usar críticas ao governo como instrumento de política eleitoral. Eu não sei, não é questão minha. Eu não sou político. Sou gestor público, sou ministro. Falo isso desde o início, não confundam. O presidente não vai provavelmente permitir que seus ministros façam política, não é justo. Portanto a oposição também não pode querer, para poder qualificar ou justificar a ação política deles. Isso é uma questão deles, e não nossa.

Quando seu assessor Sérgio Sá Leitão respondeu às críticas, ele também não incorreu no erro de politizar essas questões?

Acho que sim, um pouco. Não fazemos de episódios isolados, não freqüentes, um episódio desestabilizador das posições do Ministério. Não acho que as críticas, mesmo que justas, ao que ele fez não justifica uma demissão ou coisa desse tipo. Responder dentro de um panorama de qualificação, tecnicamente, mesmo politicamente, se for a questão, mas dentro da pontuação legítima que a crítica faça. Aqui está tal ação do Minc, essa aqui pode estar equivocada. No caso do Sergio Sá Leitão, as críticas do Gullar eram muito genéricas, no vácuo, confessadamente a partir de um não acompanhamento do que o ministério faz, e a resposta do Sá Leitão deslocada para uma questão de perfil ideológico ou não do Gullar.

E quando a crítica vem de um amigo, como é o caso do Caetano? Como lidar com isso?

Ainda que ele diga não se dar a obrigação de acompanhar, eu acho o contrário, acho que acompanha bem, tem interesse. Formula as críticas em função de uma percepção real que ele possa ter sobre o desempenho do ministério. Em outros casos ele não acompanha. E dá preferência ao setor do audiovisual, que é um setor do qual ele está próximo, teve envolvimento a partir da mulher, Paulinha, que é produtora de cinema, fez vários filmes, tem proximidade. Não vi Caetano se referir à política de museus, de leitura. Fez elogios à política digital do ministério, aos questionamentos que o Minc faz à política geral de propriedade intelectual. Vejo as críticas do Caetano buscando uma qualificação cada vez maior. Não pertence a esse conjunto de críticas desqualificadas.





Fonte: Estadão

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