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Repórter News - reporternews.com.br
Internacional
Quarta - 11 de Janeiro de 2006 às 23:09

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O vice-presidente eleito da Bolívia, Alvaro García Linera, apontou diferenças hoje entre o processo político defendido por Evo Morales e os liderados por Fidel Castro em Cuba e Hugo Chávez na Venezuela.

Em entrevista à EFE, García Linera esclareceu que a simpatia do futuro Governo boliviano com os dois países faz parte de seu apoio ao progressivo giro para a esquerda da América Latina.

"(O apoio aos dois países) se enquadra em um contexto internacional progressista, que tem na Venezuela e em Cuba, mas também na Argentina e no Uruguai, uma atitude nova no continente", disse.

Com um discurso elaborado e pausado, de acordo com sua profissão de sociólogo e seu passado de analista político, o futuro vice-presidente disse que o modo como Morales encarará a Presidência é "muito diferente" do de Caracas e Havana.

"Não se pode comparar este processo com o da Venezuela, e muito menos" com o de Cuba, ressaltou ao dizer que nestas nações "há uma liderança de cima para baixo", enquanto essa relação será de "baixo para cima" na Bolívia.

Segundo García Linera, em seu país houve uma "construção de múltiplos movimentos sociais com uma longa trajetória, capacidade organizativa e autonomia, que pouco a pouco foi assediando o Estado e, depois, o ocupou".

"Não há uma liderança militar na qual o Estado convoca a sociedade para organizá-la. Há 180 graus de diferença entre um modelo e outro", afirmou.

De acordo com o vice-presidente eleito, na Bolívia existe "uma sociedade civil muito forte", enquanto nos outros dois exemplos "isso foi construído pelo Estado".

No entanto, García Linera admitiu a "simpatia" de seu grupo "pelos avanços nas áreas da saúde e da educação em Cuba e pelos processos de organização na Venezuela".

García Linera, de 43 anos, nasceu na cidade central de Cochabamba, filho de uma família de classe média. Ele se formou em Matemática pela Universidade Autônoma do México. Nos anos 80 e 90, foi o ideólogo do Exército Guerrilheiro Tupak Katari (EGTK), motivo pelo qual foi preso e passou cinco anos detido, embora nunca tenha sido condenado pela Justiça.

O vice-presidente eleito também falou sobre os Estados Unidos.

Segundo ele, "estão sendo trabalhadas relações de colaboração mútua" com os americanos.

Além disso, revelou que o encontro entre Morales e o embaixador americano em La Paz, David Greenlee, do qual ele também participou, foi "muito instrutivo em termos de pontos de vista em comum sobre questões estratégicas".

"O inovador aqui será o princípio da soberania: chega de leis em inglês e indicações da Embaixada (americana) para saber quem é o ministro ou o vice-ministro", acrescentou.

No entanto, García Linera disse que o próximo Governo de La Paz cumprirá os compromissos internacionais e agradecerá a ajuda dos EUA, inclusive na luta contra o narcotráfico.

Ao tocar no assunto - sobre o qual fontes do Movimento Ao Socialismo (MAS, partido de Morales), disseram que o futuro presidente não aceitará que Washington coloque o combate ao narcotráfico como condição para ajudar o país -, o vice-presidente-eleito disse que é um tema que "precisa ser renegociado" e que depende de um estudo sobre o consumo tradicional da folha de coca na Bolívia.

Até a apresentação do relatório, "continua o processo de erradicação" da folha de coca, que é apoiado pelos EUA, "mas não matando pessoas ou enviando militares para qualquer lugar", disse.

Entre os motivos do sucesso do MAS, que venceu as eleições gerais de 18 de dezembro por maioria absoluta, García Linera destacou a existência de "uma articulação negociada de múltiplas tendências que se equilibram".

Ele classificou a tendência ideológica do partido como "uma esquerda indígena" que quer se transformar em um "socialismo andino-amazônico, que não imita nada nem ninguém, que não tem como modelo nem a Venezuela, nem Cuba, nem a Rússia e nem a China".

García Linera negou que Morales seja um paradigma do "populismo", corrente que definiu como "um saco onde é colocado tudo o que não é entendido".




Fonte: EFE

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