Alencar defende treinamento de índios pelo exército

O ministro da Defesa, José Alencar, defendeu hoje o treinamento de índios pelo exército brasileiro na Amazônia, dizendo que ele é sempre voluntário. "Não vejo por que alguém fica tão chocado com essas sessões espontâneas de treinamentos militar na Amazônia", afirmou. "Não há melhor escolaridade do que a das Forças Armadas brasileiras. Além da preparação militar em si, elas também fornecem o treinamento comportamental a uma pessoa. É uma educação extraordinária", afirmou.

O jornal carioca Extra publicou no domingo fotos de um CD-ROM preparado pelos militares nas quais os índios à paisana, inclusive mulheres, fazem disparos com os rifles sob a supervisão de soldados. Não foram revelados a data nem o local das fotos, mas Wiecko disse que aparentemente foram tiradas na região de São Gabriel da Cachoeira (AM). A área, conhecida como Cabeça do Cachorro, faz fronteira com a Colômbia e supostamente é usada para o abastecimento dos rebeldes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

O Ministério Público decidiu abrir uma investigação sobre as fotos em que soldados brasileiros aparecem ensinando índios amazônicos a dispararem rifles. Os promotores temem que esse tipo de prática esteja destruindo as tradições indígenas.

A procuradora federal Ela Wiecko disse na segunda-feira que, além da situação irregular de índios civis participarem de treinamento militar, há suspeitas de que o fato tenha ocorrido perto da fronteira com a Colômbia, onde há guerrilheiros colombianos agindo. "Não é certo usar civis, quanto menos índios, em exercícios militares", disse Wiecko, que acompanha o caso. "Este contato com armas é nocivo para os povos indígenas."

A Polícia Federal diz que as Farc recrutam índios brasileiros para suas fileiras. Foram criados postos policiais na região, com apoio do Exército, para proteger os índios. A Funai diz desconhecer qualquer treinamento militar voluntário dos índios e solicitou explicações ao Ministério da Defesa. Os funcionários da agência temem que os índios brasileiros estejam sendo recrutados pelo Exército e recebendo treinamento com armas.

Muitos índios servem nos quartéis da Amazônia como recrutas voluntários, o que o governo considera positivo para as comunidades nativas. Alguns antropólogos criticam essa atitude, por tirarem os índios das suas tribos durante anos, o que pode provocar dificuldades no regresso.