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Economia
Segunda - 09 de Janeiro de 2006 às 06:48
Por: Mariana Barbosa

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São Paulo - Terminou neste domingo a blindagem da Varig contra pedidos de falência, conforme previsto na Lei de Recuperação Judicial. A empresa continuará amparada pela lei por mais 24 meses, mas sob a condição de cumprir à risca o plano de recuperação judicial aprovado em assembléia de credores. Agora, a empresa terá de pagar, religiosamente, os compromissos correntes. Caso contrário,os credores estarão livres para requisitar a falência da companhia.

A blindagem, que durou pouco mais de seis meses, trouxe menos benefícios do que o esperado e contribuiu para agravar de forma significativa a questão de fluxo de caixa da companhia. Na semana passada, o presidente da Varig, Marcelo Bottini, declarou a funcionários graduados da empresa que a entrada em recuperação judicial foi um "equívoco".

"A Varig não poderia ter entrado em recuperação judicial naquela situação", afirma um ex-executivo da empresa. Ele lembra que a United Airlines, quando entrou em recuperação judicial nos Estados Unidos, tinha um caixa de mais de US$ 1 bilhão. O caixa da Varig, em 17 de junho, era negativo. "Quando entramos na empresa (maio), a perda diária era de US$ 1 milhão. A situação era dramática", lembra o ex-presidente da Varig Omar Carneiro da Cunha.

O pedido de recuperação foi feito às pressas, com o objetivo imediato de impedir uma empresa de leasing de arrestar 11 aviões. Muitos na empresa acreditam que teria sido menos oneroso devolver esses aparelhos, de forma gradual, do que lutar a qualquer custo para mantê-las. "Não eram só 11 aviões. A empresa iria perder toda a frota e ia parar de operar", diz Cunha. "A recuperação deu fôlego à companhia e é por isso que ela ainda está voando."

Seria exagero atribuir à recuperação judicial toda a responsabilidade pelo prejuízo de cerca de R$ 1 bilhão que a Varig deverá exibir quando publicar o balanço de 2005. A perda de mercado num ano de crescimento recorde para o setor. Outros fatores entram nessa conta, como a expressiva alta do querosene de aviação e o fim do acordo de compartilhamento de vôos com a TAM. "O fim do code-share foi uma facada nas costas para a Varig", diz o analista de aviação da consultoria Pentágono, Marcelo Ribeiro.

Por outro lado, a expectativa de que o fluxo de caixa ganharia um alívio - pois a empresa estaria livre, durante a recuperação, de pagar as dívidas contraídas no passado -, não se concretizou. Os salários, que eram pagos em atraso, continuaram a demorar. O pouco de crédito que a empresa tinha com fornecedores desapareceu. "Prazos de 40 dias foram reduzidos a zero", afirma o ex-vice-presidente-operacional Miguel Dau, que deixou a empresa em novembro. Responsável por assegurar o padrão de segurança da companhia, Dau deixou no chão 16 aviões por não cumprirem todos os requisitos de segurança. "Eu tinha um orçamento mensal de R$ 10 milhões para reposição de peças e teve mês que não recebi nem R$ 1 milhão", diz.

Na avaliação de Dau, as dificuldades provocadas pela recuperação judicial não poderiam ter sido previstas à época. "A lei é nova, era muito difícil prever", diz. "Mas se fosse possível voltar no tempo, talvez, a decisão tivesse sido outra."

Para a presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Graziella Baggio, além de não ajudar, a recuperação judicial não eliminou o risco de perda de aviões. "Esse risco continua. Há indícios de que, a partir de agora, alguns arrendadores vão querer tirar avião, independentemente de pagamento."

Por conta de uma liminar obtida nos EUA, a Varig está protegida, até sexta-feira (13) contra a tentativa de retomada de aviões por empresas de leasing. Neste dia, a empresa terá de pagar US$ 56 milhões para os arrendadores, dinheiro que Bottini afirma que conseguirá. Depois disso, as empresas poderão retomar os aviões quando vencerem os contratos - a maioria vence este ano. Ou no caso de não pagamento do aluguel corrente.

O fim desta primeira etapa da recuperação traz um alívio para a empresa. Com o plano de recuperação aprovado, alguns créditos de fornecedores, como a Boeing, voltaram a aparecer. Muitos aviões voltam a voar. Resta agora definir quem será o novo dono da empresa, que substituirá a Fundação Ruben Berta.




Fonte: Agência Estado

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