O governo indiano deve passar a publicar nomes, fotos e endereços de homens condenados por estupro para envergonhá-los publicamente em uma nova campanha para tentar conter este tipo de crime, informou o vice-ministro do Interior, Ratanjit Pratap Narain Singh. O anúncio chega 11 dias após o estupro coletivo de uma estudante de medicina de 23 anos dentro de um ônibus em Nova Déli, conhecida como "capital do estupro".
A jovem foi violentada durante uma hora por diversos homens e depois ela e um amigo foram espancados com barras de ferro e expulsos do ônibus nus. "Nós estamos planejando começar [a campanha] em Déli", disse Singh horas após o primeiro-ministro Manmohan Singh ter declarado que as mulheres estavam sendo tratadas de forma injusta na Índia.
"Fotografias, nomes e endereços dos estupradores serão divulgados no site da polícia de Déli. Estamos firmes na intenção de lidar com o problema e tomar todas as ações possíveis o quanto antes", acrescentou o vice-ministro. Singh disse que o Departamento Nacional de Registros Criminais recebeu a ordem de preparar uma lista contendo todos os dados pessoais de estupradores condenados para que também seja divulgada em seu site oficial.
O governo também prometeu endurecer as leis contra o estupro, crime que atualmente tem pena máxima prevista de dez anos de prisão no país. Os anúncios chegaram em meio à retomada dos protestos na capital indiana. Muitos dos manifestantes passaram a exigir a renúncia do chefe de polícia de Déli, Neeraj Kumar.
Na quarta-feira, o ministro das Finanças indiano, P Chidambaram, anunciou que o juiz aposentado Usha Mehra deverá "identificar as falhas" das autoridades e "determinar as responsabilidades". Até o momento seis pessoas já foram presas, incluindo o motorista do ônibus em que o crime ocorreu.
Confrontos durante as manifestações deixaram ao menos um policial foi morto e mais de cem pessoas ficaram feridas.
Transferência
A jovem estudante de medicina vítima do estupro que serviu com estopim para a crise no país foi transferida nesta quarta-feira para a Cingapura, onde receberá tratamento e possivelmente passará por transplantes de órgãos.
Após dez dias de internação na capital da Índia, quando passou por três cirurgias, a garota se dirige agora para um hospital especializado do país do sudeste asiático.
Segundo o médico indiano B.D. Athani, ela será tratada no hospital Mount Elizabeth, que possui "instalações para transplantes múltiplos de última geração". A jovem, que foi estuprada no último dia 16 de dezembro, permanece respirando sob ajuda de aparelhos e é considerada uma paciente em estado grave. Athani disse que entre os principais problemas que ela enfrenta estão ferimentos muito graves nos intestinos.
O médico acrescentou que a família da estudante a acompanha rumo à Cingapura, já que o tratamento pode ser longo.
De acordo com o governo, os objetivos do inquérito serão "identificar as falhas, se houver, da parte da polícia, ou autoridade ou indivíduo que tenham contribuído para a ocorrência, e determinar responsabilidades por essas falhas ou atos de negligência". Até agora somente dois policiais foram suspensos em meio aos reflexos do caso.
Impunidade
Somente neste ano, mais de 630 casos de estupro já foram registrados em Nova Déli, conhecida no país como "capital do estupro". De tempos em tempos, casos como este mobilizam a opinião pública e ganham espaço em programas de TV, jornais, revistas, além de virarem tema de protestos e discursos de políticos. Mas pouco depois o nível de atenção é reduzido e o ciclo de violência e impunidade continua, dizem analistas.
E um sistema judiciário ineficiente aliado a uma polícia conivente e negligente não parecem ajudar as vítimas, avaliam analistas. "A violência e os abusos de mulheres são grandes problemas em Déli e no norte da Índia. Uma mentalidade fortemente patriarcal, uma cultura de impunidade entre o poder, um desdém generalizado pela lei, uma força policial em grande parte insensível e uma crescente população de imigrantes sem raízes e ilegais são alguns dos fatores desde cenário. Mas deve haver muitos outros", diz o correspondente da BBC na capital indiana, Soutikl Biswas.
"Se você for mulher - a não ser que seja muito rica e privilegiada - há mais chances de enfrentar humilhação e indignidade aqui", acrescenta.
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