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Quinta - 05 de Janeiro de 2006 às 12:41

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CANNES (Hollywood Reporter) - "2046 — Segredos do Amor", que entra em cartaz nesta sexta-feira, demorou anos para ser feito e era ansiosamente esperado. Mas o filme do chinês Wong Kar-wai é uma grande decepção. O emprego de superposições de vozes e declarações pretensiosas na tela para explicar o que está acontecendo com os personagens apenas destacam como o longa se enrola em um nevoeiro narrativo.

O elenco inclui Tony Leung, Gong Li, Zhang Ziyi, Faye Wong e o japonês Kimura Takuya, todos lindamente trajados e fotografados por nada menos do que três cinegrafistas premiados.

Mas mesmo os fãs dos filmes de arte vão achar a obra difícil, não apenas por causa de sua falta de precisão, mas também por causa dos personagens desagradáveis.

O filme ocupa mais ou menos a mesma paisagem física e emocional do trabalho anterior de Wong, "Amor à Flor da Pele", feito há quatro anos. A história, mais uma vez, acontece nos anos 1960, principalmente em Hong Kong, mas com sequências em Xangai e Cingapura.

Embora tenha sido filmado em widescreen, os personagens são claustrofobicamente exibidos em minúsculos flats, corredores estreitos e restaurantes pequenos. Todos se vestem de forma elegante no estilo dos anos 1960, a fumaça de cigarro ainda sobe pelo ar e a música pop norte-americana toca suavemente ao fundo.

Leung interpreta Chow Mo Wan, um ex-jornalista que virou romancista e que está escrevendo um livro intitulado "2046", supostamente uma história futurista. Na verdade, esse é o número do quarto vizinho ao dele, que é ocupado por lindas mulheres. Na sua história, um passageiro embarcou em um trem que segue rumo a 2046, onde a anfitriã é um andróide impedido de deixar o trem.

"TODAS AS LEMBRANÇAS SÃO ÚMIDAS"

O escritor vive em um flat em Hong Kong em 1966, um ano antes dos distúrbios contra as autoridades britânicas de então, e a maior parte do filme discorre sobre os próximos três anos naquele prédio.

É um homem carismático, que tem muitas mulheres e a quem trata com uma leviandade casual, que beira o desprezo. Mas sua principal obsessão é com as ocupantes do quarto 2046.

A primeira é Bai Ling (Zhang). Ela se envolve em um tórrido romance com o escritor. Quando o ardor dele diminui, Bai Ling fica devastada, porque havia se apaixonado por ele. Ela termina abandonando o flat.

O senhorio então instala sua filha (Wong) no apartamento. Ela está apaixonada demais por seu namorado japonês (Takuya) para querer mais do que apenas amizade com o escritor. Ele a deseja claramente, mas é difícil medir o quão triste ele está, já que é uma presença em grande parte meditativa no filme.

Algumas vezes o filme muda de lugar para mostrar outras ligações com personagens interpretados por Gong e Carina Lau Ka Ling. Todas terminam em lágrimas e indelicadezas, mas dada a superficialidade dos personagens — as mulheres são mais invenções amorosas do que personagens de carne e osso — nada consegue trazer o público para a vida deles. Nada obtém o interesse do espectador, além da beleza e do mistério.

O tema aqui parece ser o da memória, de como as pessoas insistem no passado sem chegar a obter nenhuma resolução ou desfecho.

Mas o diálogo afetado e a linha narrativa estagnada atrapalham o enredo. Comentários sobrepostos, como o que "todas as lembranças são úmidas", também em nada ajudam. O que isso significa?

A equipe técnica de Wong, filmando em várias cidades asiáticas, cria um clima surpreendente, que fica entre o romance e a melancolia. Infelizmente, o diretor é incapaz de tirar vantagem da sua equipe de primeira.





Fonte: Terra

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