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Polícia Brasil
Terça - 03 de Janeiro de 2006 às 07:25
Por: Graciliano Rocha

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Há uma forte tendência de alta na produção de drogas nos dois países que fazem fronteira com Mato Grosso do Sul. Na Bolívia, a produção potencial anual de cocaína ultrapassou pela primeira vez as 100 toneladas enquanto no Paraguai sementes geneticamente modificadas garantem a colheita de quatro e não mais apenas duas safras de maconha por ano. Boa parte dessas drogas chega ao Brasil através da longa faixa de fronteira seca de Mato Grosso do Sul com estes países.

O "Relatório Mundial das Drogas" de 2005, produzido pelo UNODC (Escritório contra Drogas e Crimes da ONU), mostra que a produção potencial de cocaína na Bolívia saltou de 79 toneladas em 2003 para 107 toneladas em 2004. O aumento da capacidade de produção do tráfico na Bolívia coincide com o aumento da área de cultivo da folha de coca, que é usada tradicionalmente pela população indígena do país.

A situação da produção de maconha no Paraguai é citada superficialmente no documento da UNDOC; basicamente o relatório menciona os Brasil, Argentina e Uruguai como o principal destino da maconha no Paraguai.

Entretanto, a tendência de aumento da produção existe na fronteira com Mato Grosso do Sul, de acordo com o IBGF (Instituto Brasileiro Giovanni Falconi), uma organização independente dedicada a estudos sobre narcotráfico e crime organizado no continente coordenada pelo juiz Walter Fanganiello Maierovitch, que foi secretário nacional anti-drogas no governo Fernando Henrique Cardoso.

A razão do crescimento da produção de maconha no Paraguai não se deve à expansão das áreas de cultivo, mas à introdução de sementes geneticamente modificadas que reduziram à metade o tempo de colheita das folhas. Essas sementes foram introduzidas em 2003 na região.

A zona crítica da produção, segundo o IBGF citando fontes da inteligência da Polícia Federal, está na zona entre Ipejhu e Capitán Bado – que estão na divisa com os municípios sul-mato-grossenses de Aral Moreira, Coronel Sapucaia, Paranhos, Sete Quedas, e Japorã. Estima-se que a área de plantio da maconha ocupe entre 1500 e 2000 hectares.

Na região, o primeiro corte da maconha é realizado a cada 90 dias. Na planta de semente comum, não modificada geneticamente, os cortes são realizados a cada 180 dias. Portanto, a chamada maconha transgênica é tirada para venda na metade do tempo, fato que duplica a oferta e, evidentemente, os lucros.

Ainda mencionando órgãos de inteligência, o IBGF afirma que as sementes transgênicas teriam origem em laboratórios clandestinos nos Estados Unidos e Holanda.

Apreensões – O ônus da vizinhança problemática aparece, por exemplo, na quantidade de drogas apreendidas. Nos últimos cinco anos, 496 toneladas de maconha foram tiradas de circulação em Mato Grosso do Sul – o maior volume entre os estados brasileiros no período. Desde 2000, foram apreendidas 6,7 toneladas de cocaína.

Os dados, entretanto, estão bem abaixo da quantidade de maconha e cocaína que passa pelo Mato Grosso do Sul. Além de um volume inestimável que não é apreendido, algumas apreensões de drogas do Paraguai e da Bolívia que passam pelo Estado acabam sendo descobertas nas divisas com outros estados.

Só a delegacia da PF de Guairá, no Paraná, na divisa com Mundo Novo, contabilizou este ano a apreensão de 18 toneladas de maconha paraguaia.

Terra de ninguém – O crescimento da produção de maconha e cocaína dos países que fazem divisa com MS contrasta com o quadro de falta de vigilância na fronteira. São mais de 500 quilômetros de fronteira seca.

Em entrevista recente ao Campo Grande News, o superintendente da Polícia Federal, Delci Teixeira, admitiu que existe um déficit de pelo menos 80 policiais em Mato Grosso do Sul. Ao todo, a PF tem 350 agentes no Estado.

O DOF (Departamento de Operações de Fronteira), sediado em Dourados, tem um efetivo de 100 policiais civis e militares para fazer o patrulhamento de Corumbá, na divisa com a Bolívia, a Japorã, no extremo sul do Estado.

Outros órgãos de segurança estão em condições ainda piores. Nos municípios da fronteira com a zona da maconha no Paraguai, a falta de efetivo é latente.

Bem na divisa com Capitán Bado, Coronel Sapucaia é um exemplo bastante ilustrativo. A delegacia da Polícia Civil na cidade tem apenas um delegado e três agentes. O último escrivão se aposentou há 3 meses e ainda não foi substituído. Em Aral Moreira, não há delegado, apenas um agente e uma funcionária que emite carteiras de identidade. Sete Quedas está um pouco melhor: um delegado, três agentes e um escrivão.

Erradicação conjunta – Como não é possível impedir a entrada de drogas pela fronteira, uma das estratégias da Polícia Federal foi somar esforços com as polícias vizinhas.

Nas operações chamadas Aliança, os brasileiros atravessaram a fronteira para destruir plantações de maconha junto com agentes paraguaios. A última delas, em agosto do ano passado, resultou na erradicação da planta em 240 hectares.





Fonte: Campo Grande News

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