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Sexta - 30 de Dezembro de 2005 às 22:35
Por: Alecy Alves

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O presidente da Associação das Famílias Vítimas de Violência de Mato Grosso, Joaquim Ventura Lopes, está convencido de que é ilusória a sensação de segurança vivenciada por quem possui ou defende o direito de ter uma arma. Lopes disse que entende e até considera essa luta legítima, mas acha que esse é um desejo que se perdura porque o Estado não cumpre a tarefa de proteger a população. Diante disso, observa ele, a grande discussão sobre o referendo marcado para o próximo dia 23 passou a ser sobre quem iria desarmar os bandidos e garantir a segurança das famílias.

Para uma boa parcela da sociedade, essa visão se sobrepõe à idéia de lutar pelo desarmamento. Mas conforme Joaquim Lopes, está comprovado que quem tem acesso à arma é a classe média. As famílias mais pobres, que vivem de salário mínimo, que são a maioria da população, não têm como destinar recurso para essa finalidade. E ainda que a cada 10 vezes que a arma é usada como meio de defesa, sete terminam em episódios malsucedidos. Portanto, aos invés de pensar em manter armas sob seu poder ou de um dia vir a ter uma, Joaquim Lopes acha que os cidadãos poderiam unir forças para fazer com que o Estado cumpra a responsabilidade de desarmar os bandidos e melhorar a segurança pública. “Arma é para matar, não existe meio termo”, avalia Lopes, observando que vai votar pelo “sim” porque defende a vida, a paz no mundo. O referendo, na visão dele, é uma oportunidade para não apenas se discutir os altos índices da violência, mas de fazer com que o povo se mobilize e cobre mais dos governantes. A vice-presidente da Associação, Odilza Siria Sampaio, que teve dois filhos mortos e um vítima de seqüestro, diz que defende o sim porque não quer que nenhuma família tenha de sentir a dor de ter filhos assassinados ou baleados.

Odilza é mãe do adolescente Marcos Henrique Sampaio, de 19 anos, e de Wellington Sampaio, de 16 anos, desaparecidos no chamado “Caso Tijucal”. O primeiro sumiu em maio de 1996, junto com outros três adolescentes e somente o corpo de um deles foi encontrado – perfurado de balas.

O segundo filho dela, Wellington, sumiu um ano depois supostamente porque testemunhou o desaparecimento do irmão e seus colegas. O terceiro filho de Odilza, M.S., de 32 anos, segundo ela, trabalhava com transporte de valores e acabou baleado durante uma tentativa de seqüestro. M. teve um dos pés amputados e está incapacitado para o trabalho. “Vou votar consciente porque sinto a dor das tragédias provocadas pelas armas de fogo”, diz Odilza. Em todos esses anos, garantiu ela, jamais pensou em ter uma arma, mesmo nas três vezes em que sofreu ameaças por denúncias contra os envolvidos no sumiço de seus filhos.




Fonte: Folha Primavera

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