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Economia
Terça - 27 de Dezembro de 2005 às 07:58

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O ano de 2006 promete ser crucial para o sistema de comércio global. As negociações da Rodada Doha estão entrando no ano final e decisivo, ainda com poucos sinais de que as principais economias do mundo estão preparadas para chegar a um acordo capaz de destravar a nova rodada de liberalização comercial.

As pressões protecionistas nos principais países envolvidos nas negociações se unem aos crescentes desequilíbrios econômicos: o déficit comercial dos Estados Unidos se aproxima de US$ 700 bilhões anuais, enquanto o superávit da China impulsiona uma contínua expansão econômica no país.

Com as economias européias em um ritmo de crescimento ainda lento, aumentar o comércio poderia ser a chave para um renascimento econômico.

Mas, em compensação, os agricultores europeus, que contam com grandes níveis de proteção, teriam que abrir seus mercados para países em desenvolvimento que são grandes exportadores, como o Brasil, e concordar em enfraquecer a Política Agrícola Comum da União Européia.

OMC

O encontro ministerial da OMC (Organização Mundial do Comércio) em Hong Kong, realizado neste mês de dezembro, alcançou apenas progressos modestos na tentativa de aumentar o livre comércio.

Os ministros de 149 países não conseguiram consolidar planos definitivos sobre como abrir os mercados, mas prometeram fazer isso até abril.

As negociações, que começaram em 2001, têm, na prática, um prazo que acaba no fim de 2006 para definir a abertura dos mercados agrícolas nos países ricos e dos mercados de produtos industriais e de serviços em alguns países em desenvolvimento.

O motivo para o prazo é o fim da vigência, em julho de 2007, do fast track, o mecanismo do governo americano que acelera a aprovação no Congresso de acordos comerciais negociados pelo presidente dos Estados Unidos.

No entanto, devido ao estado atual das negociações comerciais, o fato de que a reunião em Hong Kong não terminou com um rompimento entre países ricos e pobres foi visto com alívio.

Os países ricos ofereceram concessões aos pobres, incluindo a promessa de acabar com todos os subsídios agrícolas às exportações até 2013 e uma oferta de eliminação de tarifas para uma série de produtos exportados por países menos desenvolvidos.

Até agora, os países em desenvolvimento têm trabalhado mais juntos do que nunca, com o fortalecimento de uma aliança entre o G-20 (grupo de países emergentes liderado, entre outros, pelo Brasil) e o G-90 (grupo dos países mais pobres) para cobrar um comércio mais justo no setor agrícola.

Cálculos

As chances de um acordo para o comércio global dependem, pelo menos em parte, dos ganhos que cada país calcula que terá com as propostas em discussão.

Embora os ministros normalmente digam que a liberalização comercial é uma situação que só traz benefícios, um novo estudo do Banco Mundial mostra que os ganhos com um acordo comercial são mais limitados do que se imaginava inicialmente e não são distribuídos de maneira equilibrada.

Amplamente citado, o estudo sugere que a liberalização total do comércio - que vai além do que está em discussão nas atuais negociações comerciais - aumentaria o crescimento econômico mundial em US$ 287 bilhões por ano até 2015.

No entanto, dois terços desses ganhos iriam para países industrializados. O relatório diz ainda que grandes exportadores agrícolas como o Brasil seriam os grandes vencedores, mas muitos países em desenvolvimento que importam alimentos como Bangladesh, Camarões e Moçambique sairiam no prejuízo durante os primeiros anos após um acordo.

O problema é que para conseguir apoio político nos países ricos (especialmente no Congresso americano), um acordo comercial terá que incluir a abertura significativa de mercados para agricultura, indústria e serviços.

Os principais países em desenvolvimento têm opiniões muito diferentes sobre cada um desses setores de acordo com suas vantagens competitivas. O Brasil prioriza a agricultura, o foco da Índia são os serviços e o destaque para a China está nos produtos industriais.

Comércio e geopolítica

Sem grandes avanços nas negociações comerciais, importantes países têm procurado estabelecer acordos regionais ou bilaterais para atingir seus objetivos políticos e econômicos.

Para muitos economistas, esses acordos são muito menos interessantes do que um acordo global porque os países envolvidos em negociações regionais ou bilaterais possuem um poder de barganha desigual.

Os Estados Unidos negociaram acordos de livre comércio com 13 países e estão em negociação com outros dez, incluindo aliados estratégicos como Emirados Árabes Unidos, Bahrein, África do Sul e Tailândia.

Apesar de fracassar em promover a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), um novo acordo comercial entre os Estados Unidos e mais cinco nações da América Central, além da República Dominicana, começará a vigorar em janeiro de 2006.

A China também tem adotado estratégia semelhante. O objetivo do governo chinês é construir um bloco de livre comércio no leste da Ásia.

Os chineses assinaram acordos bilaterais com países da região, também estão em negociação com Nova Zelândia e Austrália e esperam negociar no futuro com Coréia do Sul e Japão.

A União Européia planeja fechar um novo acordo de parceria econômica com 69 países da África, do Caribe e do Pacífico que eram colônias e fortalecer as relações na região do Mediterrâneo.

O surgimento de blocos rivais poderia aumentar as tensões em uma série de disputas comerciais, incluindo o rápido crescimento das importações chinesas para os Estados Unidos e a União Européia, o impasse entre americanos e europeus sobre a ajuda à empresa Airbus e as preocupações do bloco europeu com a importação de alimentos geneticamente modificados.

Opinião pública e globalização

Pesquisas de opinião recentes realizadas pelo instituto German Marshall Fund nos Estados Unidos e em cinco países europeus (França, Alemanha, Itália, Grã-Bretanha e Polônia) indicam que apenas 46% dos americanos e 45% dos europeus estão a favor da globalização.

Em compensação, a grande maioria das pessoas em países em desenvolvimento quer os benefícios do livre comércio.

Fora da América Latina, onde há ceticismo, a globalização é vista como algo benéfico por amplas maiorias em países tão diferentes como Nigéria, Vietnã e Cingapura, de acordo com o instituto Pew Global Attitudes Survey.

Apenas 9% dos africanos e 10% nos países em desenvolvimento da Ásia afirmam que a globalização tem um efeito negativo sobre seus países.

O maior medo nas nações industrializadas é o efeito do comércio nos empregos. Menos da metade dos entrevistados disseram que se beneficiariam com a liberalização comercial - a maioria afirmou que os maiores beneficiados seriam as multinacionais e países em crescimento acelerado como a China.

No entanto, a opinião pública ocidental não defende o isolacionismo. Mais de 60% apóiam o comércio global e 75% afirmam que o comércio contribui para a estabilidade.

Mas o crescente ceticismo quanto aos benefícios do livre comércio, com a exceção da Grã-Bretanha, faz com que alcançar um acordo comercial ainda em 2006 seja mais difícil.




Fonte: BBC Brasil

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