Repórter News - reporternews.com.br
Nacional
Sexta - 23 de Dezembro de 2005 às 15:30
Por: Eduardo Kattah

    Imprimir


Belo Horizonte - Apontado como o beneficiário de uma cura milagrosa atribuída à intercessão de Eustáquio Van Lieshout, o Padre Eustáquio, o religioso Gonçalo Belém Rocha quebrou hoje (22) um silêncio de quase 40 anos sobre o assunto. A identidade do pároco emérito, de 82 anos, foi revelada na última terça-feira (20), um dia depois de o papa Bento XVI autorizar a promulgação do decreto através do qual a Igreja reconhece como milagrosa a cura do câncer de laringe (epitelioma) diagnosticado em Gonçalo no ano de 1962. A decisão do Sumo Pontífice encerra o processo de beatificação de Padre Eustáquio.

Ao receber a imprensa em sua residência, no bairro Floresta, região leste da capital mineira, Gonçalo disse que estava feliz com o anúncio da beatificação. "É muito difícil falar. Por um lado, sinto uma pequenez muito grande". Ele fez uma promessa - que promete não revelar - no curto período em que foi diagnosticada a doença e o desaparecimento dela, "sem explicação humana. Depois desse episódio, no sentido espiritual eu amadureci", disse o ex-pároco da igreja de São Pedro Apóstolo, em Belo Horizonte.

O padre Gonçalo se emocionou ao lembrar dos episódios e da família. O pai dele, Joaquim José da Rocha, e a mãe, Ana Diniz Belém Rocha, morreram meses antes de ele ser ordenado padre. Dos 16 irmãos, seis morreram de tuberculose e três conviveram com a cegueira. "Não tive uma vida fácil".

Conforme relata o processo de beatificação, aos 39 anos, padre Gonçalo foi informado do diagnóstico de câncer pelos médicos Pedro Melucci, Idalmo Geraldo Duarte e Carlos Alberto de Paula Sales, do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais. Os médicos disseram que ele deveria ser urgentemente submetido a uma delicada cirurgia. No caso de sucesso da intervenção, poderia se livrar do tumor, mas poderia perder a voz, definitivamente.

Padre Gonçalo disse que foi estimulado pelo então arcebispo d. João Resende Costa e seu bispo auxiliar, o hoje cardeal d. Serafim Fernandes de Araújo, que sugeriram que ele recorresse à intercessão do Padre Eustáquio. Na data da cirurgia de remoção do tumor, a equipe médica constatou que não havia mais qualquer sinal da enfermidade.

"Doutor Idalmo um médico, pegou as minhas mãos e começou a chorar", observou religioso mineiro, que sempre acreditou em milagres - "Isso é coisa de Deus" -, mas não tinha qualquer devoção pelo missionário holandês, que faleceu em 1943, na capital mineira. "Minha fé era em Deus e em Nossa Senhora e ponto".

Fotografias de Padre Eustáquio atualmente decoram a casa de Gonçalo. Ele lembrou que há dois anos esteve perto da morte, internado no CTI de um hospital. "Fiquei 22 dias quase em óbito. Novamente alguém evocou, colocou debaixo do travesseiro uma relíquia do Padre Eustáquio". Padre Gonçalo afirmou que fumou durante 58 anos e há 13 foi obrigado pelos médicos a abandonar o vício.

Mineirão

D. Serafim e o vice-postulador da causa de beatificação, padre Lúcio Dumont Prado, acompanharam a entrevista e reiteraram que a Arquidiocese da capital irá solicitar que a cerimônia solene que formalizará a elevação de Padre Eustáquio seja realizada em Belo Horizonte. Acreditando num grande apelo popular, o cardeal tem um palpite para o local: o estádio do Mineirão. "Seria uma torcida de Deus".

Nascido em 03 de novembro de 1890, num pequeno povoado ao sul da Holanda, Eustáquio van Lieshout veio para o Brasil como missionário em 1925 e foi religioso da Congregação dos Sagrados Corações e pároco nas cidades de São Paulo (Poá e Rio Claro) e Minas (Romaria, lbiá, Patrocínio e Belo Horizonte). Morreu na capital mineira em 30 de agosto de 1943, vítima de tifo. A doença foi contraída após ele ser picado por um carrapato durante peregrinação pelas vilas abandonadas de sua paróquia.





Fonte: Agencia Estado

Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/329369/visualizar/