Para Lessa, economia vive "vôo de galinha

O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) "é uma catástrofe" e aproxima o país de um patamar social bastante difícil de reverter, opinou o economista Carlos Lessa, 70, que presidiu o BNDES de janeiro de 2003 a novembro do ano passado. A "tragédia social gigantesca" prevista por Lessa tem origem, disse ele, na política econômica de Lula, que manteve a de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

"Estamos destruindo o corpo social brasileiro. As imagens de desagregação social se multiplicam [...] Este país ou volta a crescer ou vamos para uma tragédia social gigantesca, que já está aí", disse Lessa, coordenador do grupo de intelectuais que prepara o programa do PMDB, caso tenha candidato à sucessão de Lula.

Demitido por ter chamado de "pesadelo" a atuação do Banco Central, Lessa demonstra decepção com o Planalto. Disse que o governo não tem "nenhuma proposta estruturante nem de desenvolvimento nem de crescimento".

"Temos vivido o que chamo de vôo de galinha. A economia fica rastejante, com um crescimento medíocre. De vez em quando dá uns pulinhos, tipo galinha, de fôlego muito curto. Em um ano, um ano e pouco, volta à planície. A média do crescimento 2003/2005 é baixíssima, 2,3%. No ritmo que vai, esse país acaba."

Lessa listou fatores que levam a "essa estagnação": taxa de juros "obscenamente elevada" e "superávit fiscal hiperelevado", dois componentes geradores de "uma concentração de renda e riqueza poucas vezes vista no planeta".

"Este [terceiro] trimestre [queda do PIB em 1,2%] não tem para mim nenhuma surpresa nem nenhum elemento para eu festejar, "viu eu estava certo". Não sou ave de rapina que festeja a desgraça alheia." Ainda no governo, Lessa afirmou ter relatado suas impressões acerca do futuro do Brasil ao próprio Lula.

"Disse ao presidente que era um vôo de galinha, que ele não ia a lugar nenhum com aquela política econômica. Ele simplesmente não disse nada, demitiu-me, é um direito dele", afirmou Lessa.