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Internacional
Quarta - 07 de Dezembro de 2005 às 08:04
Por: Antônio Prada

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São 19h da última terça-feira. Os termômetros marcam 0° Celsius. As ruas estão praticamente vazias. A maioria dos restaurantes, fechados. Os semáforos insistem em alternar verde e vermelho, sem que um carro apareça para respeitá-los. De uma solitária janela, num pequeno prédio no centro da pequena cidade, uma luz emerge. Dela, vaza um piano solitário. Um jovem de cerca de 10 anos quebra o silêncio do vento que sopra do Lago Lucerne. Delicadamente. Como se marcasse o ritmo do tédio de uma pequena e paradisíaca cidade suíça de apenas 4 mil habitantes.

Não fosse uma bandeira brasileira na pequena praça principal, emoldurada numa placa dentro de uma trave com rede e algumas bolas de futebol penduradas, nada haveria de errado. Afinal, estamos na Suíça. Mas Weggis, a 55 km de Zurique e a 360 km de Munique, na Alemanha, com os pés no lago Lucerne e com vista monumental para os Alpes, nevados, está à beira de um ataque de fama. A CBF escolheu a cidade para ser a primeira parada da Seleção Brasileira na Europa, rumo à Copa. De 22 de maio e 4 de junho de 2006, Parreira e seus pupilos vão ocupar o luxuoso e moderno Hotel Park Weggis.

A notícia quebrou a monotonia que já acalentou visitantes ilustres como Alexandre Dumas, Mark Twain e Emile Zola. No hotel, situado no meio de um parque com 22 mil metros quadrados, tudo já gira em torno dos ilustres visitantes do mundo da bola. O gerente Philipp Musshafen ajeita o terno e a gravata e arrisca em portunhol: "Vamos ter capirinha, cerveja e pina colada (sic) para comemorar".

O português, aliás, não é novidade por aqui. Só no hotel, 15 funcionários oriundos de Portugal trafegam pelos corredores e vários departamentos. A camareira Maria Isabel, há 7 anos no Park Weggis, esbanja felicidade enquanto arruma um dos 43 quartos do hotel. "Não gosto muito de futebol, mas adoro o Ronaldo e o Ronaldinho", solta, enquanto ajeita almofadas num sofá. Na Copa já tem seus favoritos, e não é a Suíça, que a abraçou há 10 anos e está de volta à maior competição do futebol. "Vou torcer primeiro por Portugal e depois pelo Brasil", diz, ao confidenciar que adora Luiz Felipe Scolari.

Isabel nunca provou capirinha, mas disse que já dançou samba. Como? Rindo, diz que prefere não mostrar. E diz já conhecer a fama de namoradeiros dos jogadores brasileiros, mas não se impressiona com o possível assédio. "Não são apenas os jogadores que flertam com as camareiras", comenta, com um sorriso maroto.

Num dos principais restaurantes da cidade, a proprietária, que prefere não se identificar, também faz coro e diz que a cidade está muito feliz. Nem mesmo a possibilidade de uma fanática legião de fãs invadirem a cidade e quebrarem o tradicional silêncio que assola a cidade há séculos parece perturbá-la. "Vamos fazer 15 dias de festa", celebra. A materialização da idéia, aliás, é revelada pelo gerente do Park Weggis, Philipp Mussahafen. "Vamos criar a Semana Copacabana, com muita música, escola de samba e mulatas". O administrador da cidade, Joseph Odermatt, já bate o bumbo: "quero que os jogadores brasileiros participem da festa".

Fora do eixo dos comerciantes do local, que vêem na quinzena brasileira em maio de 2006 uma rara oportunidade de potencializar os lucros e a fama, os poucos rostos comuns que insistiam em trafegar pela fria noite da última terça-feira não se mostravam ainda complacentes com visitantes de câmera e microfone em punho. Olhavam desconfiados e mantinham distância. Pelo menos não estávamos sozinhos. Um solitário Papai-Noel, diga-se de passagem magérrimo, andava solitário pela cidade, badalando o sino, acenando para o vento. Isto é a Suíça. Pelo menos até quando o Carnaval chegar.




Fonte: Terra

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