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Segunda - 05 de Dezembro de 2005 às 07:48
Por: Nadja Vasquez

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O coração de Ilda Gonçalina Dias, 43, amanheceu nublado como o céu de Cuiabá na sexta-feira (2). Pela primeira vez em 17 anos, ela não pôde acariciar o filho ao acordar. Diego Marcelo Dias tinha sido assassinado na tarde anterior, com um tiro na nuca, enquanto dormia, na cama da mãe. Diego agora faz parte da estatística dos adolescentes vítimas de homicídio na Grande Cuiabá, um número que cresce a cada ano.

De janeiro a outubro, 24 crianças e adolescentes foram assassinados na Grande Cuiabá. Até o final de 2005 estima-se que esse número supere o ano de 2003, que registrou um número recorde de mortes, 31. Em todo o ano passado foram 17 homicídios.

O crescimento desses crimes não é um fenômeno exclusivo de Mato Grosso. No Brasil, o número de homicídios de crianças e adolescentes aumentou 82,05% na última década, um flagrante de violação ao principal direito humano: o direito à vida. As maiores vítimas são meninos, de 14 a 17 anos, idade em que o jovem está mais vulnerável.

E, ao contrário do que possa parecer, os adolescentes são, em sua maioria, vítimas, e não autores da violência. Enquanto na Grande Cuiabá foram mortos 31 meninos em 2003, 15 cometeram homicídios. Em 2004, foram 14 e, em 2005, dez. Também é importante destacar que, se a pesquisa, que utilizou dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, considerasse a maioridade de 21 anos, o número de vítimas daria um salto impressionante.

"Essa é a resposta da violência institucional", avalia o promotor da Vara da Infância e Juventude de Cuiabá, José Antonio Borges Pereira. Por violência institucional entende-se escolas de baixa qualidade, baixa estima de parcela da população e famílias desestruturadas.

Nessa situação, continua o promotor, o jovem tende a seguir dois caminhos, um deles o das drogas, que ficam como sentido de vida, e o outro dos roubos e furtos, pela perspectiva de se ver inserido em uma sociedade de consumo.

Ouvindo relatos diários de mães, o promotor José Antonio revela que o não pagamento de compra de drogas é motivo comum para os crimes, assim como a banalização da violência, o envolvimento em gangues, e a facilidade de se comprar uma arma de fogo, seja para assaltar ou "se defender".

Mais grave é perceber que os jovens estão buscando o caminho das drogas, das gangues, da violência, cada vez mais cedo, enquanto as meninas, além de estarem entrando no mundo do crime, também estão indo para as ruas se prostituir, ou saindo de casa para fazer viver com um homem, cada vez mais cedo.




Fonte: A Gazeta

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