Prisão da ditadura é aberta ao público na Argentina

Buenos Aires - Com uma exposição de fotografias em preto e branco de presos políticos que passaram ali seus últimos dias, foi aberta na sexta-feira à visitação pública o prédio onde funcionou uma prisão ilegal da última ditadura militar argentina (1976 a 1983). Localizada no bairro de classe média de Floresta, a oeste da capital argentina, a prisão era conhecida como "Olimpo", talvez porque, como os deuses gregos, os militares argentinos se considerassem senhores da vida e da morte.

Entre 600 e 800 pessoas foram detidas e torturadas no Olimpo. A maioria continua desaparecida. Órgãos de direitos humanos, como as Mães da Praça de Maio, e sobreviventes da prisão clandestina participaram da inauguração da mostra, que também inclui fotos e textos sobre o "Clube Atlético", outro centro de detenção clandestino mantido pelo regime militar.

Até o domingo serão realizados no edifício debates, oficinas e palestras sobre a situação das causas judiciais onde estão envolvidos os responsáveis pelo Clube Atlético e o Olimpo, que funcionaram entre janeiro de 1977 e janeiro de 1979, administrados pelo Primeiro Corpo do Exército. O Clube Atlético ocupava os porões de um edifício de Buenos Aires pertencente à Polícia Federal, que foi demolido por causa da construção de uma estrada. No local, atualmente, está em desenvolvimento um projeto de escavação e recuperação arqueológica. Em outubro do ano passado, o presidente Néstor Kirchner, passou à prefeitura de Buenos Aires a responsabilidade pelo prédio do Olimpo, que também pertencia à Polícia Federal e será transformado no Museu da Memória.

Esta prisão ilegal se tornou conhecida depois que o cineasta chileno, radicado na Itália, Marco Bechis, uma das vítimas do regime ditatorial, filmou "Garage Olimpo", uma co-produção Ítalo-franco-argentina. Em 1999 o filme, um das obras mais duras sobre a guerra suja argentina, obteve uma menção especial no Festival de Cannes.