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Cidades/Geral
Quinta - 24 de Novembro de 2005 às 10:40
Por: Iuri Pitta, Eduardo Kattah, Ka

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São Paulo - Estudo inédito do Ministério da Saúde coloca São Paulo e Rio de Janeiro no topo de um ranking de cidades onde há maior risco à vida por causa externa (homicídios, mortes por arma de fogo sem causa determinada, suicídios e acidentes de trânsito). O levantamento também mostra que, entre 2000 e 2004, municípios como Campinas, Diadema, Guarulhos (SP), Jaboatão dos Guararapes e Olinda (PE) deixaram a lista das localidades mais violentas do País. Foram substituídos por três capitais - Curitiba (PR), Salvador (BA) e Fortaleza (CE) -, por Serra, na Grande Vitória (ES), e Foz do Iguaçu (PR).

"É nos grandes aglomerados urbanos das capitais e regiões metropolitanas que problemas como desigualdade social e mortes violentas apresentam mais gravidade", diz o médico Otaliba Libânio de Morais Neto, diretor do Departamento de Análise de Situação de Saúde do ministério. De acordo com o estudo, apenas Foz do Iguaçu foge a essa lógica e tem no crime organizado e na localização, na fronteira com Paraguai e Argentina, as explicações para o aumento da violência.

O ministério adotou metodologia própria, encomendada à Fundação Osvaldo Cruz, para avaliar em quais cidades com população superior a 100 mil habitantes ocorrem mais mortes violentas. Para chegar ao índice, usou dados do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), que coleta dados nos hospitais de todos os municípios. O cálculo dá mais peso a casos de homicídios e mortes por arma de fogo sem causa determinada do que suicídios e acidentes. Também privilegia taxas por 100 mil habitantes em relação aos números absolutos.

Ao todo, foram calculados índices de 249 municípios, onde vivem 94,6 milhões de pessoas. Das 126.211 mortes violentas ocorridas em 2004 em todo o Brasil, 53.849 foram registradas nessas cidades - 60,2% foram assassinatos. Os 100 municípios do topo dessa lista registraram uma de cada três mortes violentas do País, no ano passado.

Com o ranking, a União quer traçar um mapa para direcionar recursos a programas da Rede Nacional de Prevenção à Violência - que recebeu R$ 5,5 milhões em 2005. Em Curitiba (PR) e Goiânia (GO), o ministério vai dedicar mais atenção às mortes no trânsito, enquanto Belo Horizonte (MG) e Recife (PE) demandam mais esforços na questão dos homicídios. "É trabalhando nesses grandes aglomerados que você reduzirá o número de mortes violentas no Brasil."

Crescimento desordenado acelera violência Apesar de liderarem o ranking, São Paulo e Rio de Janeiro estão conseguindo reduzir os índices anualmente. No ritmo contrário, outras capitais e municípios metropolitanos enfrentam mais problemas com homicídios e acidentes de trânsito. "Hoje essas cidades são vítimas do crescimento desordenado que São Paulo e Rio viveram antes. É a outra face do desenvolvimento urbano do País", disse o coordenador-geral do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Cláudio Beato.

Entre 2000 e 2004, Belo Horizonte (MG) foi a capital com mais de 1 milhão de habitantes com maior crescimento do índice de mortes violentas. Saiu da sexta posição no ranking para o terceiro lugar. Outras quatro cidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte - Contagem, Betim, Ribeirão das Neves e Santa Luiza - figuram entre as 35 primeiras colocadas da lista. "A violência da capital acaba se propagando para a área metropolitana, e daí para o interior", afirma o delegado Marco Antônio Monteiro, chefe da Divisão de Crimes Contra a Vida (DCCV) da Polícia Civil de Minas. "A primeira coisa é tomar conta da capital e da região metropolitana, para a coisa não se propagar."

Macaé, no norte do Estado do Rio de Janeiro, é um exemplo daquilo que Beato e Monteiro afirmam. O petróleo levou a cidade a um desenvolvimento econômico rápido e a tornou um cobiçado pólo de empregos. Na esteira desse crescimento, porém, aumentou a violência. Tanto que Macaé apresentou, pelos dados do Ministério da Saúde, a maior elevação do índice de mortes violentas no Brasil entre 2000 e 2004 e a maior taxa de homicídios por 100 mil habitantes. "O dinheiro que circula na cidade e as oportunidades de trabalho atraem gente de todos os lugares e de toda a sorte. Não só profissionais qualificados, mas também criminosos", afirma o pesquisador da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Geraldo Tadeu Monteiro.

"O crescimento assustador dos últimos dez anos ocorreu de forma desordenada em algumas áreas, favorecendo o tráfico de drogas", avalia o prefeito de Macaé, Riverton Mussi (PSDB). "Estamos tentando, mas a solução seriam ações em parceria com Estado e União."

O levantamento também aponta onde os acidentes de trânsito despertam igual ou maior preocupação do que os homicídios. Cortada pela Rodovia BR-101, Campos, também no Rio de Janeiro, registrou a maior taxa de mortes por 100 mil habitantes nessa modalidade. Em 2004, foram registrados 195 casos. "Vivemos um grave problema de saúde pública no trânsito diretamente ligado à BR-101. É uma estrada de traçado ultrapassado e abandonada pelo governo federal", diz o médico Luiz José de Souza, presidente da Comissão Pró-Vida, criada para reduzir as mortes no trânsito.

O presidente da Empresa Municipal de Transportes, Ronaldo Linhares, contesta os dados e alega que as mortes não passaram de 70. "Pode ser que consideraram todas as registradas no Hospital Ferreira Machado, que atende vários municípios."

Em Curitiba (PR), o trabalho integrado entre Estado e prefeitura tem reduzido as mortes. As mortes ocorridas em atropelamentos caíram 23,2% entre 2003 e 2004. Mas a Diretoria de Trânsito de Curitiba (Diretran) admite que falta fiscalização.

São Paulo continua no topo, mas reduziu violência O estudo do Ministério da Saúde soma-se a outras pesquisas que mostram redução da violência na Grande São Paulo. Em 2000, o ranking de mortes violentas colocava a capital no topo, além de Guarulhos na quarta colocação e Diadema, na sétima. Também se destacavam Osasco (16ª), São Bernardo do Campo (22ª) e Embu (24ª). Quatro anos depois, o quadro mudou. A capital continua no topo do ranking, mas reduziu os índices. As outras ganharam posições mais favoráveis. Entre as 25 primeiras da lista de 2004, só ficaram Guarulhos - na 20ª posição - e a Capital.

"A redução da violência é um fenômeno estadual, mas foi maior na Grande São Paulo do que no interior", explica o sociólogo Túlio Kahn. "A polícia herdou da saúde o enfoque epidemiológico da violência. É uma lógica de investir os recursos onde o problema é mais agudo."

Coordenador do Fórum Metropolitano de Segurança Urbana, o prefeito de Guarulhos, Elói Pietá (PT), aponta três fatores que ajudaram a reduzir os índices de mortes violentas, principalmente homicídios. "Houve avanços na ação policial, no desarmamento da população e nas políticas de inclusão, em especial para os jovens."

Foi em Guarulhos, há três anos, que a advogada Ana Maria Charrua perdeu o filho, Thiago Charrua Gaia, assassinado aos 19 anos. Quatro homens atiraram contra o grupo de amigos que estava na rua. As investigações mostraram que dois policiais militares participaram do crime - além de Thiago, uma moça e um rapaz foram mortos. Os PMs haviam parado os jovens e Thiago protestou contra a abordagem abusiva.

"Meu filho morreu por exercer sua cidadania", diz Ana Maria. Hoje, ela atua como assistente da Promotoria na acusação dos policiais, em processo sob segredo de Justiça. "É uma luta contínua, mas necessária. Para termos direito a ficar na porta de casa sem correr o risco de sermos mortos."





Fonte: Agência Estado

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