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Internacional
Terça - 22 de Novembro de 2005 às 13:24

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O presidente da Rússia, Vladimir Putin, deixou hoje o Japão após promover a cooperação econômica entre os dois países, mas sem ter avançado na disputa pela soberania das ilhas Curilas.

Em seu último dia no Japão, Putin foi recebido pelo imperador Akihito, mas não pela imperatriz Michiko, que não foi à recepção devido à inesperada ausência da esposa do líder russo, Liudmila, em um gesto raro ressaltado pela imprensa japonesa.

Durante os três dias de visita de Putin a Tóquio, os Governos dos dois países estabeleceram as bases de uma maior cooperação econômica, mas não conseguiram avançar em suas disputas territoriais, marcadas pelo conflito das Curilas.

Putin e o primeiro-ministro japonês, Junichiro Koizumi, assinaram na segunda-feira alguns documentos em que afirmaram a vontade de cooperar na luta contra o terrorismo, desenvolver suas relações comerciais e promover os investimentos japoneses na Rússia.

Em um desses documentos, a Rússia se comprometeu a levar até o porto de Nakhodka, no Pacífico, o oleoduto que transportará para o Oriente o petróleo das jazidas siberianas e, assim, atender às demandas energéticas do Japão.

No entanto, Moscou construirá antes um ramal do oleoduto para o norte da China e só depois levará o cabo até o Mar do Japão, onde está o porto russo de Nakhodka.

Não está estabelecido no documento quando este ramal que chegará ao Pacífico será completado, daí o descontentamento japonês, alimentado pela ambigüidade do Kremlin, que há um ano se comprometeu a construir primeiro o cabo até Nakhodka, e agora prefere construir primeiro o ramal até a China, em detrimento do Japão.

Os compromissos econômicos da cúpula não conseguiram esconder a tensão que persiste entre os dois Governos pelas Curilas meridionais, arquipélago tomado do Japão pela União Soviética pouco após a redenção do império japonês no fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945.

Putin e Koizumi asseguraram que seus Governos se esforçarão para "avançar" passo a passo na solução desta disputa, que mantém os dois países tecnicamente em guerra desde a Segunda Guerra. O Japão se nega a assinar um tratado de paz enquanto a Rússia não lhe devolver o arquipélago.

As ilhas de Kunashiri, Etorofu e Shikotan, e o grupo de ilhotas de Habomai, são conhecidas na Rússia como Curilas meridionais, e no Japão como os "Territórios do Norte".

"Reconhecemos a necessidade de resolver o problema da soberania das ilhas e concluir um tratado de paz. Mas, falando francamente, entre os dois países ainda há divergências consideráveis", disse Koizumi ao término da cúpula.

Putin reconheceu que a solução da disputa "não é fácil", mas defendeu que sejam encontradas "variantes" que favoreçam os dois países e a população das ilhas.

A imprensa japonesa destacou hoje o fracasso do Japão na obtenção de um compromisso mínimo concreto da Rússia, e alguns especialistas acusaram o Governo de Koizumi de trocar as Curilas pela vaga promessa do petróleo siberiano.

"O Japão não calculou bem sua diplomacia em relação à Rússia, principalmente depois que a Rússia endureceu recentemente sua postura a respeito da questão territorial", afirmou Shigeki Hakamada, professor da Universidade Aoyama Gakuin, citado pela agência Kyodo.

Hakamada se referia às declarações que Putin fez em 27 de setembro, quando afirmou que a soberania russa sobre as Curilas está garantida pela lei internacional como resultado da Segunda Guerra Mundial, e que Moscou não tinha intenção alguma de discutir esse assunto com Tóquio.

Putin se referia ao Tratado de Yalta, que estabeleceu o novo mapa mundial resultante do fim da guerra, mas que, segundo o Japão, não pode ser tomado como a norma a ser seguida neste conflito.

A recente posição do Ministério de Exteriores russo é que, se Moscou tem de ceder algo, será Shikotan e Habomai, como está estabelecido na Declaração de 1956 assinada pelo Japão e pela URSS.

No entanto, o Governo japonês cita a chamada Declaração de Tóquio, assinada em 1993 pelo então presidente russo, Boris Yeltsin, em que se referia à solução do conflito com as quatro ilhas em conjunto.

Em novembro de 1997, as duas partes ressaltaram em Krasnoyarsk que os dois países "se esforçariam ao máximo" para assinar um tratado de paz em 2000.

Segundo o especialista Kenichi Ito, presidente do Fórum Japonês de Relações Internacionais e o Conselho da Comunidade do Leste da Ásia, o erro japonês foi considerar a Rússia uma democracia que cumpre com suas promessas.

"A Rússia é um Estado em que prevalece o império da violência sobre o império da lei", afirmou Ito, após pedir que Tóquio revise toda sua estratégia em relação a Moscou se não quiser perder o conflito para um "Estado despótico".





Fonte: EFE

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