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Internacional
Domingo - 20 de Novembro de 2005 às 20:13

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A capital da Ucrânia se vestiu hoje de laranja para comemorar um ano da euforia que rodeou uma revolução, cujas imagens deram a volta ao mundo e que foi substituída pela desilusão e pelas disputas internas pelo poder.

"Nossa maior conquista foi a liberdade, já que há doze meses não éramos livres. Os piores pecados que podemos cometer são a desconfiança e a desilusão. Precisamos mais tempo", assegurou Viktor Yushchenko, presidente e líder laranja que assumiu o poder em janeiro.

No entanto, mais da metade dos 47 milhões de ucranianos considera que Yushchenko e sua equipe não cumpriram as promessas feitas na Praça da Independência de Kiev ante milhares de acalorados partidários.

A fraude eleitoral levou os ucranianos na noite de 21 de novembro de 2004 a desafiar o regime de Leonid Kuchma (1994-2004) e bloquear durante várias semanas o trabalho do Governo em uma campanha pacífica de desobediência civil.

Em grande parte, graças à revolução, esta república ex-soviética é agora um país conhecido no mundo todo, mas a magia personificada por seus variados líderes -Yushchenko chegou a soar como candidato ao Prêmio Nobel da Paz- durou apenas alguns meses.

De pouco vale que agora Yushchenko, cuja popularidade caiu para 14,3%, anuncie uma bateria de medidas para lutar contra a corrupção na administração pública, detonante da atual crise.

"Os ladrões devem ir à prisão. Prometo que, em um prazo de três meses, todos os funcionários públicos declararão suas rendas e despesas. Esta demanda revolucionária se transformará em norma", assegurou Yushchenko em um discurso emitido pela rádio pública.

A "esperança" revolucionária acabou definitivamente com a destituição em setembro da primeira-ministra, Yulia Timoshenko, a que melhor interpretou os desejos do povo.

Timoshenko lançou uma política jacobina de privatizações, que lhe rendeu inimizades na Rússia e no ocidente e que fez com que ela enfrentasse oligarcas que financiaram a revolução, como Petró Poróshenko, dono do canal 5 da televisão, o único que apoiou Yushchenko há um ano.

"Não posso faltar. Essa praça e o ocorrido nela há doze meses são uma parte importante da minha vida", declarou a ex-primeira-ministra, que se mostrou disposta a compartilhar palanque com Yushchenko.

Muitos ucranianos não esquecem que Yushchenko, para conseguir a aprovação do novo primeiro-ministro, Yuri Yekhanurov, renunciou aos ideais revolucionários ao assinar um acordo com seu máximo rival, o ex-primeiro-ministro Viktor Yanukovich, pelo que se retiravam as acusações de fraude eleitoral.

As acusações de corrupção enterraram a reputação da equipe de Yushchenko e propiciaram o inesperado retorno triunfal de Yanukovich, cuja carreira política parecia estar por um fio.

"O ''Pão e Circo'' acabou muito cedo. Esta data deve ser lembrada pelo povo, já que nos conduziu a uma crise econômica e política.

Perdemos um ano inteiro", disse Yanukovich.

Em um giro copernicano, o Partido das Regiões, que ele encabeça, se apresenta a uma semana do início da campanha eleitoral como o favorito frente ao pleito legislativo de março com 17,5% das intenções de voto.

Segundo as pesquisas, o governista Nossa Ucrânia conta com 13,5% de apoio, apenas um ponto a mais que o bloco liderado por Timoshenko, que tem 41 cadeiras no Parlamento.

A importância das próximas eleições radica no fato de que, após a reforma eleitoral estipulada durante a revolução e que entrará em vigor em 1 de janeiro de 2006, o primeiro-ministro será eleito pelo Parlamento e não pelo presidente.

Desta forma, a figura do chefe de Estado perderá grande parte de seus atuais poderes em favor da Rada Suprema ou Parlamento, e a Ucrânia passará a ser uma república parlamentar frente à presidencialista atual.

As lutas internas nos quadros laranjas e a falta de reformas administrativas não passaram despercebidas para a comunidade internacional, como se demonstra no fato de que sua entrada na Organização Mundial do Comércio (OMC) foi adiada no último momento até o próximo ano.

A economia cresceu nos primeiros dez meses deste ano 2,8 %, contra os 12% de 2004, enquanto o investimento estrangeiro caiu 7,2%.

Por esta razão, Yushchenko, um europeísta convencido, estuda uma aproximação da Rússia, o ameaçante vizinho do norte, cujo presidente, Vladimir Putin, apoiou abertamente Yanukovich nas eleições presidenciais.





Fonte: EFE

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