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Internacional
Sábado - 19 de Novembro de 2005 às 12:20

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O Kremlin deseja reabilitar a figura do fundador da temida KGB, Félix Dzerzhinski, criador dos campos de concentração soviéticos, denunciaram neste sábado à EFE grupos defensores dos direitos humanos.

"O Kremlin deseja reabilitar a figura de Dzerzhinski, mas não se atreve a anunciar isso publicamente por medo da reação do povo", disse Boris Belenkin, historiador e diretor da biblioteca da organização Memorial. v Nesta semana, um busto do fundador da Cheka (sigla de Comissão Extraordinária), precursora do Comitê de Segurança do Estado (KGB), foi erguido no pátio da sede do Ministério do Interior no centro de Moscou, ato que passou despercebido para a maioria da população.

Na opinião de Belenkin, "a recuperação da figura do fundador da KGB é um reflexo da ideologia do regime atual, dominado pelo serviço secreto".

Tanto o presidente russo, Vladimir Putin, como o ministro da Defesa, Serguei Ivanov, um de seus prováveis substitutos em 2008, são ex-membros da KGB e de sua versão pós-soviética, o Serviço Federal de Segurança (FSB) da Rússia.

"Isto significa que a KGB voltou ao poder na Rússia e quer revanche. É um retorno ao passado", assinalou.

O historiador da Memorial, organização fundada por Andrei Sakharov, prêmio Nobel da paz em 1975, considera que as forças partidárias da reabilitação ainda não possuem força total.

"Esperaram a morte de Alexander Yakovlev, ideólogo da Perestroika e presidente da comissão para a reabilitação das vítimas da repressão política soviética, para tirar a estátua do armário", afirmou.

Ainda permanece na memória dos russos o dia 21 de agosto de 1991, no qual a gigantesca estátua de bronze de Dzerzhinski -de 16 toneladas- foi arrancada de seu pedestal com uma corda ao pescoço por um guindaste na praça de Lubyanka, onde ficava a sede da KGB.

O guindaste, cedido pela embaixada dos Estados Unidos, entrou em ação pouco após o fracasso do golpe de estado contra Mikhail Gorbachov, último dirigente soviético.

A retirada da estátua, que se encontra no museu de arte moderna de Moscou, foi interpretada pelos reformistas e democratas como o início de uma nova era na história da Rússia.

Em 12 de setembro do ano passado uma estátua do "Couraçado Félix", como era chamado Lênin, também foi colocada na cidade de mesmo nome nos arredores de Moscou. O ato foi assistido por autoridades locais.

Em ambos os casos, a iniciativa proveio de um grupo de veteranos e obteve respaldo imediato do prefeito de Moscou, Yuri Luzhkov, um dos principais defensores da figura que instalou o "terror vermelho".

O prefeito propôs há dois anos a volta da estátua em Lubyanka, após louvar suas qualidades estéticas e afirmar que a repressão indiscriminada feita pelos serviços secretos soviéticos começou após a morte de Dzerzhinski em 1926.

"Não é uma volta ao passado. Se botarmos tudo o que ele fez em vida na balança, as coisas boas prevalecem sobre as más", disse Luzhkov, em alusão ao trabalho social de Dzerzhinski em favor dos órfãos.

Em julho de 2000, pouco após Putin subir ao poder, a Duma já havia rejeitado a reposição da estátua de Dzerzhinski, em cujo lugar foi erguido um memorial às vítimas da ditadura. A homenagem foi eleita pelas forças democráticas para celebrar manifestações, comícios e atos de protesto.

A deputada Valeria Novodvórskaya, ex-dissidente soviética, propôs sarcasticamente que fossem colocados na praça Lubianka, junto à estátua de Dzerzhinski, as de Lênin, Stalin e Beria, e "no meio uma bonita fonte da qual emane constantemente o sangue de suas milhões de vítimas".

Dzerzhinski (1877-1926), de origem polonesa, é considerado culpado pela morte de pelo menos meio milhão de pessoas -incluindo o czar Nicolás II, sua mulher e seus filhos- à frente da Cheka, entre 1917-22.

Além de comandar a campanha de aniquilação de opositores, sacerdotes, capitalistas e aristocratas, Dzerzhinski estabeleceu os primeiros campos de concentração, ou Gulag (1919), na ilha de Solovetski, no Círculo Polar Ártico.

Nos anos 30 a Cheka se transformou em Comissariado do Interior (NKVD), instrumento dos expurgos de Stalin que tiraram a vida de milhões de soviéticos. Após a morte do líder soviético, o serviço secreto da URSS passou a chamar-se KGB.





Fonte: EFE

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