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Nacional
Quinta - 17 de Novembro de 2005 às 07:24

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Cães que ladram noite adentro, música alta de boates varando a madrugada, serras e furadeiras trabalhando ininterruptamente nas oficinas. Ruídos incômodos que tiram o sono e o sossego dos moradores de Belo Horizonte (MG), aponta estudo tabulado pelo Instituto Pereira Passos (IPP) do Rio de Janeiro, que trabalhou com dados levantados na Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE. Nela, 44% dos entrevistados da capital mineira responderam que vivem em locais barulhentos. Percepção que só perde para Belém (44,2%) e que é maior do que a dos cariocas (26,6%) e paulistas (37,4%). Goiânia aparece com o índice de menor insatisfação, com 20,7%. A pesquisa foi feita em 48.470 domicílios brasileiros.

O aumento do incômodo é verificado no crescimento dos registros na Delegacia de Qualidade de Vida e Ecologia (Dqve), onde foram registradas 717 reclamações de janeiro a outubro de 2005, contra 637 em todo ano passado - número 12,5% maior. Um índice elevado, na avaliação do delegado titular da Dqve, Antônio de Pádua Campos.

"Mesmo a cidade tendo mais de 2 milhões de habitantes, o número é bem alto. E perigoso, porque, quando os casos chegam à delegacia, é porque o diálogo se encerrou e as pessoas tiveram de recorrer à Polícia Militar. Muitos chegam a se exaltar. Daí, ocorrências mais graves, como ameaças, agressões físicas e até tentativas de assassinato podem ocorrer", alerta.

As queixas mais freqüentes são quanto aos excessos sonoros de boates, bares, ensaios de bandas e festas em casas e salões de festas.

"São cerca de 60% dos casos. A maioria absoluta deles, aproximadamente 90%, segue para o juizado de pequenas causas, porque estão devidamente encaminhados, com testemunhas anotadas e ocorrência policial", afirma o delegado.

A perturbação do sossego e do trabalho alheio é crime previsto no artigo 42 da lei de contravenções penais e pode ser punido com detenção de 15 dias a três meses ou multa.

Com um casal de filhos pequenos, com idades de 3 anos e de 8 meses, a auxiliar de enfermagem Camila, 32, e o técnico em telecomunicações Jairo, 37, (nomes fictícios) experimentaram o inferno de terem uma serralheria sem isolamento nenhum bem ao lado de casa, no Bairro Palmares, Região Nordeste.

"Parecia que o barulho estava dentro de casa. Começava às 6 horas e só terminava às 20 horas. A janela do meu caçula fica bem ao lado. Ele ficava nervoso, agitado, cansado e chorando muito. Meu marido trabalha no turno da noite e precisava descansar, vivia estressado. Todos os vizinhos comentavam, mas tinham medo de conversar por medo de represálias. Então, chamamos o disque-sossego. Vieram dois técnicos e mediram o barulho. Como estava alto demais para o horário e para a região, que é residencial, forçaram-os a reduzir o uso das máquinas", conta Camila.

O medo da multa inibiu a serralheria, mas o bairro continuou barulhento, acredita Jairo, que veio há 5 anos de Porto Alegre - terceira capital brasileira onde se percebe mais barulho (39%).

O índice da pesquisa do IPP, de acordo com a secretária municipal de Meio Ambiente, Flávia Mourão Parreira do Amaral, não significa que Belo Horizonte seja mais ruidosa do que as demais capitais brasileiras.

"Significa que, por questões culturais e até pela falta de tradição de turismo e de festas de rua, o belo-horizontino é menos tolerante aos ruídos dessas atividades e reclama mais. Reconhecemos que a poluição sonora é um problema e um desafio. Só no primeiro trimestre, fechamos 20 estabelecimentos. Primeiro multamos. Na terceira reincidência, interditamos o local", conta.




Fonte: Hoje em Dia

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