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Internacional
Quarta - 16 de Novembro de 2005 às 18:10

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Os líderes religiosos muçulmanos, judeus e do cristianismo católico, ortodoxo e protestante, que encerraram hoje em Viena a conferência internacional "O Islã em um mundo pluralista", fizeram um apelo para que as religiões não sejam responsabilizadas pelo terrorismo e por outros conflitos violentos.

O pedido foi feito em consenso entre o arcebispo de Viena, o cardeal Christoph Schoenborn; o patriarca ecumênico ortodoxo Bartolomeu I; o rabino Arthur Schneier, presidente da Fundação "Appeal of Conscience" (Chamada à Consciência) de Nova York; o grande mufti da Síria Ahmad Bader Hassoun e o decano da Faculdade de Estudos Islâmicos da Universidade de Sarajevo, Enes Karic.

"Servir a toda a humanidade, na tentativa de criar um mundo perfeito, é a ordem que os filhos de Abraão receberam", que são tanto os judeus quanto os cristãos e muçulmanos, destacou Schneier.

O rabino lembrou seu nascimento em Viena e o sofrimento por causa do anti-semitismo e da perseguição nazista que o obrigou a abandonar sua terra natal, em 1938. No entanto, ele mostrou-se satisfeito por poder voltar à cidade que hoje propõe a tolerância.

"Muitas vezes nos acusam, os líderes religiosos, de sermos as fontes dos problemas e dos conflitos", mas o certo é que na história existem muitos exemplos de convivência frutífera entre comunidades de diversas crenças, disse o rabino.

"Os líderes religiosos são basicamente homens e mulheres crentes.

Não queremos ser parte do problema, mas da solução", afirmou. Por isso, temos de "adotar uma postura contra o terrorismo e contra aqueles que usam a religião para alcançar seus próprios objetivos", acrescentou. Segundo Schneier, "não existe outra alternativa ao diálogo".

Já o cardeal Schoenborn, ao se pronunciar a favor do fortalecimento do diálogo, chamou atenção para as dificuldades neste contexto enfrentadas pelas religiões que consideram a expansão um imperativo.

O arcebispo de Viena questionou se "realmente é possível o diálogo entre religiões missionárias". "Com freqüência, o diálogo é interpretado como missão. Mas, na prática, ou há diálogo ou há missão", disse. "O cristianismo e o islã são claramente religiões missionárias. É um tema delicado", acrescentou.

Para Schoenborn, existe o risco de o "diálogo" ser visto pelas duas religiões apenas "como um terreno estratégico dentro de um plano global".

O arcebispo se perguntou se "os grandes representantes (de ambas as religiões) não estarão sempre pensando no desejo íntimo de convencer o outro e se não é compreensível que cada um ache que sua própria religião é a melhor".

Além disso, ele advertiu que nem a religião cristã nem a islâmica podem deixar de ser missionárias sem traírem a si mesmas.

De acordo com o arcebispo, é necessário abordar e esclarecer a questão que, segundo ele, é "essencial". Além disso, afirmou que é preciso reconhecer que, diante da pergunta de até que ponto se justifica utilizar meios políticos, militares e econômicos para alcançar os objetivos de sua missão, "existem respostas muito diversas".

Para Hassoun, qualquer religião que permita o assassinato ou o massacre de outros "não é religião", e as nações não devem ser criadas com base em religiões ou culturas, "mas apenas com base nos princípios de justiça".

Os terroristas desejam criar um Estado islâmico, o que não é aceitável para o grande mufti da Síria, que também criticou o fato de alguns políticos que participaram da conferência vienense na segunda e terça-feira terem saído de Viena antes do fim do fórum.

"Nós os escutamos. Também seria bom se eles ficassem para nos escutar", disse Hassoun. "Nós vemos que não há razões religiosas para provocar um conflito entre as civilizações, mas as causas fundamentais são de ordem material e econômica".

Com essa mensagem foi concluída a conferência, que durou três dias e foi organizada pelo Ministério de Exteriores austríaco em meio a fortes medidas de segurança.

Na segunda e terça-feira, o fórum foi protagonizado pelos presidentes do Afeganistão e do Iraque, Hamid Karzai e Jalal Talabani, respectivamente, além de vários ministros e especialistas internacionais.





Fonte: EFE

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