Uma pesquisa divulgada nesta terça-feira mostra que 64% dos uruguaios são contra legalizar a venda de maconha e fazer do Estado seu único gerente, como pretende o governo do presidente José Mujica.
A consulta da empresa Número revela, ainda, que 53% dos que se definem como eleitores da coalizão governante da esquerda Frente Ampla (FA) também se opõem à iniciativa.
O parlamento uruguaio debate atualmente uma proposta do governo para legalizar a compra e a venda de maconha e fazer do Estado seu único gerente, uma iniciativa com a qual se pretende combater o narcotráfico ao tirar grande parte de seu mercado e evitar que os consumidores de maconha precisem comprar a erva em lugares onde se vendem drogas mais perigosas.
De acordo com a pesquisa, mais de seis em cada dez uruguaios (64%) se opõe à legalização da maconha e apenas 26% apoia o projeto do governo.
Os níveis de rejeição chegam a 83% para o caso dos simpatizantes do Partido Nacional ou "Blanco", o principal da oposição, e a 82% no caso dos simpatizantes do Partido Colorado, tradicionalmente governante e atualmente o segundo da oposição.
De acordo com o critério de idade, são contra: 53% dos jovens entre 16 e 29 anos; 61% dos adultos entre 30 e 44 anos; 67% dos adultos entre 45 e 59 anos e 70% dos idosos com mais de 60 anos.
O projeto de lei em estudo pelo Parlamento uruguaio autoriza o Estado a assumir "o controle e a regulação de atividades de importação, exportação, plantação, cultivo, colheita, produção, aquisição, armazenamento, comercialização e distribuição de cannabis e seus derivados".
O Instituto Nacional da Cannabis (Inca), instaurado pela lei, será, entre outras funções, o encarregado de autorizar os cultivos e os locais de venda.
Além disso, será habilitado o "autocultivo" de até seis pés de maconha, com uma colheita máxima de 480 gramas por ano, para uso doméstico "destinado ao consumo pessoal ou partilhado dentro de casa".
Também se permitirá a criação de clubes com até 15 membros que poderão cultivar 90 pés de maconha.
O tema divide todos os partidos políticos e Mujica disse em junho, quando apresentou a proposta, que estava disposto a realizar pesquisas populares para saber a opinião dos uruguaios e anulá-la caso fosse majoritariamente rejeitada.
O presidente defendeu sua ideia com o argumento de que "pela via da repressão" a guerra contra o narcotráfico "está perdendo por toda parte".
O ex-presidente Tabaré Vázquez (2005-2010), também da FA, antecessor de Mujica no cargo e que os analistas definem como principal candidato à Presidência em 2014, manifestou suas dúvidas sobre o plano do atual governo.
O consumo de maconha é "tão ou mais" prejudicial que o de tabaco e os países que a legalizaram estão repensando a posição, disse o ex-mandatário, que é oncologista.
"Não se deve consumir maconha, simples e ingenuamente, não se deve consumi-la" asseverou Vázquez recentemente.
De acordo com números da Junta Nacional de Drogas, 20% dos uruguaios de idades entre 15 e 65 anos dizem ter consumido maconha alguma vez na vida e 8,3% dizem ter consumido no último ano.
A pesquisa da Número, feita por telefone com 803 pessoas, aconteceu entre 29 de novembro e 6 de dezembro e tem margem de erro de 3,4%.
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