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Sábado - 28 de Maio de 2005 às 18:55
Por: Flávia Swerts

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Ao contrário de sua protagonista, a novela América ainda não encontrou seu rumo. Enquanto Sol, de Deborah Secco, sempre deixou claro seu desejo - um tanto doentio - de ir para os Estados Unidos, a trama da autora Glória Perez parece ainda estar perdida no meio do deserto. São tantos elementos sem nexo que, no quesito coerência, a novela parece um daqueles vídeos caseiros produzidos por adolescentes. Leia o resumo de América

Até bem pouco tempo atrás, todos os personagens do núcleo de Miami falavam português fluentemente. Até na cadeia, as carcereiras e presidiárias conversavam com Sol esbanjando o maior sotaque carioca. Mas, finalmente, parece que a autora se deu conta de que o português está longe de ser uma língua universal e optou pelo uso de legendas.

Só que ainda não foi dessa vez que a novela alcançou uma uniformidade. Os personagens americanos continuam usando o português e só trocam meia dúzia de palavras em inglês, sempre com o vocabulário mais básico possível.

As legendas, em vez de aparecerem em todos diálogos em inglês, são colocadas aleatoriamente. A autora só demonstra o mínimo de preocupação em justificar o português perfeito do núcleo escolar de Miami. May, Ed, Miss Jane, Tony, vividos respectivamente por Camila Morgado, Caco Ciocler, Eva Todor e Floriano Peixoto, são todos "especialistas em línguas latinas". Explicação pouco criativa e para lá de esdrúxula.

Também não dá para conceber como Sol, que desde a infância sonhou em morar nos Estados Unidos, chega aos 20 anos como uma "monoglota" absoluta. Qualquer pessoa que conclua o Segundo Grau, mesmo no degradado ensino público tupiniquim, tem pelo menos sete anos de aulas de inglês.

Por mais que as aulas não sejam maravilhosas, se o aluno tem o mínimo de interesse no idioma de Shakespeare - como deveria ser o caso da Sol -, dá para saber bem mais que ela sabe. Nem as súplicas de "whisky, please" dos pinguços da boate a Sol consegue compreender. E as inserções do núcleo mexicano de Miami, concentrado no bar da Consuelo, vivida por Cláudia Jimenez, onde se fala um português meio arrevesado, salpicado de termos em espanhol, só ajuda a tornar o pandemônio lingüístico ainda mais evidente.

Mas a falta de coerência não pára por aí. Para tentar tornar menos confusas as idas e vindas dos personagens entre Rio de Janeiro, Miami e a fictícia cidade rural de Boiadeiros, a autora recorreu a uma solução burocrática.

A novela é permeada por uma edição de imagens emblemáticas de cada um dos locais com seus respectivos nomes, para esclarecer onde acontecem os fatos seguintes. Esse recurso, por vezes, chega a parecer ridículo.

Será que existe outro Pão de Açúcar ou outro Cristo Redentor em algum lugar do planeta que não seja no Rio de Janeiro? De quebra, como não há ganchos instigantes entre os núcleos, a maioria dos capítulos transcorre num completo marasmo, apesar desse "troca-troca" de ambientes.

América peca ainda pelo roteiro, que abusa do direito de ser previsível. Nem é preciso passar do início da cena para saber o que vai acontecer. Outro dia, Feitosa, de Aílton Graça, incompreensivelmente mandou a menina cega Flor, de Bruna Marquezine, ficar parada no meio do pátio enquanto ele ia comprar pipoca.

A criança começou a andar e, obviamente, caiu depois de tropeçar em alguns brinquedos. O encontro de Mari, de Camila Rodrigues, e Alex, de Thiago Lacerda, também não poderia ter sido mais forçado. Após se deparar com um tiroteio, a jovem simplesmente entrou no carro do bonitão malvado, até então um ilustre desconhecido, e, logo em seguida, já estavam namorando. Pelo visto, falta criatividade para criar situações inovadoras e interessantes para muitos personagens.

Por incrível que pareça, a novela das oito da Globo também deixa a desejar na parte técnica. Não é raro ver sombras "desfilando" pelas cenas. Em meio a esse "jogo dos sete erros" diário, a direção também parece desatenta. A recente cena de briga entre Tião, de Murilo Benício, e Nick, de Lucas Babin, no bar da Consuelo, parecia uma comédia-pastelão. Os socos passavam a quilômetros de distância dos peões. Nem a edição conseguiu dar um mínimo de realismo à luta.

O pior é que, quanto mais a autora tenta mexer, mais a trama fica confusa. Agora, além dos atuais 77 personagens, ela ainda pretende incluir mais um para fazer um "quadrilátero" amoroso e movimentar a trama.

Vera Fischer deve entrar na novela em junho e se envolver com Tião, enquanto Sol estiver com Ed. A loura estava cotada para interpretar a locutora Gil, vivida por Lúcia Veríssimo, mas não pôde aceitar porque estava viajando com a peça A Primeira Noite de Um Homem, de Miguel Falabella.

Mas as alterações de Glória não param por aí. Ela começa a apelar para um recurso quase infalível para elevar a audiência: o sexo. O tórrido encontro entre Sol e Tião, que transaram em uma limusine, rendeu 48 pontos de audiência, enquanto a média da novela fica na casa dos 44. Se continuar assim, Deborah Secco vai ter de resgatar "o estilo Darlene de ser" e rebolar muito no balcão da boate. Depois reclamam da fama das imigrantes brasileiras em Miami.





Fonte: TV Press

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