Grávida, Miriam teve dificuldade para ser atendida em maternidades de Maceió (Foto: Odilon Rios / Especial para Terra)
Mesmo declarada ilegal pelo Tribunal de Justiça de Alagoas, a greve dos médicos entrou no quarto dia e já atinge as maternidades públicas. Grávidas em trabalho de parto são obrigadas a voltar para casa para que outras pacientes sejam atendidas. Os médicos legistas também ameaçam fechar os dois institutos médicos legais de Alagoas, se o governo não cumprir acordos salariais prometidos aos profissionais.
Miriam dos Santos, 20 anos, espera o segundo filho, uma menina. Após começar a sentir as contrações na madrugada de ontem, passou por quatro maternidades e, em nenhuma delas, conseguiu ser atendida. "A médica disse que eu tinha de sentir mais dor para ser atendida. E pediu que eu fosse para casa. Não estou aguentando", disse a jovem, que estava no ponto de ônibus no bairro do Poço, parte baixa de Maceió, quando foi convencida a tentar a maternidade Paulo Neto, no centro da capital.
Na Paulo Neto, uma placa avisava "não estamos atendendo". O funcionário explicou que o governo não estava repassando o dinheiro para a maternidade. Ao ver a equipe de reportagem do Terra, o diretor médico foi embora, de carro. Funcionários assistiam à grávida, que gemia de dor. "Não podemos fazer nada. Leva ela para a (maternidade) Santo Antônio", disse uma funcionária, recusando-se a ligar para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). "Eles nem vêm atender", explicou.
Miriam só conseguiu uma vaga na maternidade Nossa Senhora da Guia, no bairro do Poço, após intervenção do defensor público Ricardo Melro. "Já tinha vindo nessa maternidade, moço. A médica pediu que eu voltasse para casa porque tinha de sentir mais dor", explicou a gestante ao Terra.
No setor de triagem, a grávida seguiu em trabalho de parto. Uma funcionária confirmou que a médica pediu a paciente que voltasse para casa, mesmo com as dores. "Ela será atendida", explicou o defensor público, por telefone, que prometeu acompanhar o caso.
A greve
Os médicos de Alagoas estão em greve desde terça-feira. Eles querem melhores condições de trabalho e o cumprimento de acordos salariais. "Queremos a implantação do plano de cargos e carreiras e condições de trabalho. Vivemos uma realidade desumana, não se aguenta mais", disse o presidente do Sindicato dos Médicos, Welington Galvão.
"Os médicos legistas também vão entrar em greve. O governo prometeu melhores condições no Instituto Médico Legal (IML), mas não cumpriu", disse Galvão. O IML de Maceió está condenado pela Vigilância Sanitária porque a água que lava os corpos é jogada na rua e o prédio está com a estrutura comprometida.
O governo - através das secretarias de Gestão Pública, Saúde e Gabinete Civil - alega que estuda uma alternativa para o impasse. “Todas as reivindicações da categoria estão sendo analisadas pela equipe técnica da Sesau (Secretaria de Saúde), mas é necessário bom senso da categoria para que nenhum paciente fique penalizado e deixe de receber atendimento médico”, disse o secretário de Saúde, Alexandre Toledo.
Com a greve, a única maternidade pública para gestantes de alto risco recusa atendimento: a Santa Mônica. As outras maternidades não comportam a demanda. Nos seis ambulatórios 24 horas na capital, 500 pessoas deixam de ser atendidas por dia. Sem médicos, as pessoas recorrem ao maior hospital público de Alagoas - o Hospital Geral do Estado. Setenta por cento da população alagoana depende do Sistema Único de Saúde (SUS).
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