Repórter News - reporternews.com.br
Cidades/Geral
Sábado - 15 de Dezembro de 2012 às 16:07
Por: Lucas Bólico e Renê Dióz

    Imprimir


José Medeiros / Olhar Direto

Uma ponte de madeira da rodovia BR-158, acesso ao distrito de Estrela do Araguaia (Posto da Mata), cedeu com o peso de um caminhão e quase feriu o caminhoneiro que passava por ela com uma carga de carne na manhã deste sábado (15). A estrutura da passagem havia sido sabotada, provavelmente durante a madrugada, com cortes nos pilares e fogo em uma das cabeceiras.

A passagem dos veículos havia sido permitida às 6h pelos líderes do movimento de resistência em Suiá Missú, em via de ser esvaziada de todos os não-índios ocupantes. Apenas seis caminhões conseguiram passar antes de a ponte ceder. Cerca de 70 caminhões acabaram parados em fila na rodovia, gerando decepção e indignação nos condutores.

Segundo os condutores, um homem do movimento de resistência à desintrusão foi visto passando pelo bloqueio durante a madrugada. Já um dos líderes do bloqueio em Posto da Mata reporta que um homem de Alto Boa Vista observou índios na área da ponte também durante a madrugada. Na madrugada, a notícia na imprensa era de que a Justiça autorizara a Polícia Rodoviária Federal (PRF) a usar a tropa de choque para destruir os bloqueios nas estradas de acesso à gleba.

Seja qual for o verdadeiro responsável por destruir a ponte, fato é que ela foi incendiada em uma das cabeceiras e serrada em seus pilares de forma que aguentou apenas os seis caminhões descarregados que passaram nos primeiros lugares da fila assim que o bloqueio foi liberado. Quando o motorista Valdenir Willers, de 45 anos, tentou passar devagar com 48 toneladas de carne nobre tipo exportação avaliada em R$ 170 mil, a estrutura ruiu sobre o pequeno córrego a abaixo.

Os pneus dianteiros não chegaram a passar a segunda cabeceira e apena duas vigas seguraram o peso do caminhão, que acabou permanecendo sobre a estrutura cambaleante de toras de madeira. Caso as vigas não suportassem, Valdenir relata que poderia ter morrido, pois provavelmente o veículo tombaria de lado.

Após quatro dias parados no bloqueio imposto pelos moradores da gleba, Valdenir se revolta ao lembrar-se do susto que levou. “Não tombou foi por Deus”, suspira.


Foto: José Medeiros / Olhar Direto



“Se ele viesse correndo, ia cair de frente pra cabeceira e o motorista podia morrer preso aí. Por pouco não tombou feio”, espanta-se Claudinei Conde, 44 anos, de Votuporanga-SP, o recordista de dias parados no bloqueio de Posto da Mata: 5 deles, entre ida e volta de Vila Rica com peças para um frigorífico da JBS.

“É uma tristeza uma armadilha dessa. Ninguém aqui faltou com o respeito com eles. Trabalhador não faz isso aqui”, revolta-se Silvio Sérgio, 35 anos, caminhoneiro de Osvaldo Cruz-SP. “É uma covardia fazerem isso com a gente. A gente tá decepcionado. Eles nos seguraram no bloqueio, não abriram ontem às 18h só para fazer isso. Era subir para matar”, completa o condutor Arnaldo Queiroz, 40 anos, de Querência.


Foto: José Medeiros / Olhar Direto



Logo após a notícia chegar a Posto da Mata, homens do bloqueio negaram que a sabotagem à ponte tenha sido obra do movimento de resistência em Suiá Missú e informaram à reportagem que os líderes do já estavam encaminhando almoço, máquina escavadeira e um trator para ajudar tanto a retirar o caminhão parado na estrutura combalida da ponte quanto a abrir uma passagem ao lado, a qual já estava sendo improvisada por um mutirão dos próprios caminhoneiros com enxadas.

A área de Suiá Missú , cerca de 165 mil hectares, foi demarcada como terra xavante em 1998. Após anos de disputa judicial, a Justiça decretou a desintrusão de todos os cerca de 5 mil não-índios do local.






Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/33884/visualizar/