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Internacional
Sexta - 20 de Maio de 2005 às 11:40
Por: Paul Holmes e Barry Moody

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O regime islâmico instalado no Irã vem sendo deturpado para negar poder real ao presidente do país, esvaziando o interesse em torno da eleição do próximo mês, afirmou o principal clérigo dissidente iraniano.

O grande aiatolá Hossein Ali Montazeri, um arquiteto da Revolução Islâmica (1979), disse à Reuters que os iranianos não participariam em grandes números do pleito de 17 de junho porque o poder real não está nas mãos do presidente, mas nas mãos do aiatolá Ali Khamenei, Líder Supremo do país.

"Alguns possuem poder, enquanto ao presidente foram atribuídas apenas responsabilidades", afirmou Montazeri, um dos autores da Constituição do Irã, em entrevista concedida na cidade sagrada de Qom, um centro de ensino do islamismo xiita.

"É por isso que os jovens não desejam votar. É por isso que me mantive em silêncio a respeito desta eleição", afirmou, acrescentando que a Constituição havia sido deturpada por pessoas que "usavam o Islã como um instrumento para pressionar outras".

Pesquisas de opinião prevêem um baixo comparecimento às urnas no pleito presidencial.

Montazeri, com 83 anos e ainda bastante lúcido, disse ter sido um erro a invasão da embaixada dos EUA em Teerã, em 1979, e disse que o governo de seu país deveria restabelecer os laços diplomáticos com os norte-americanos.

O clérigo também disse que os EUA haviam agido bem ao derrubar do poder Saddam Hussein, mas que os invasores deveriam sair do Iraque para seu próprio bem.

"Algumas pessoas criticam a América, dizendo que ela invadiu o Iraque em busca de uma bomba atômica que nunca existiu. Para mim, Saddam eram mais perigoso que mil bombas atômicas", afirmou Montazeri.

EX-SUCESSOR DE KHOMEINI

Montazeri foi chamado de "fruta da minha vida" pelo aiatolá Ruhollah Khomeini, pai espiritual da Revolução Islâmica. Khomeini o havia apontado para sucedê-lo.

Mas o clérigo perdeu respaldo em 1988, quando criticou os dirigentes do Irã, e foi mantido sob prisão domiciliar em Qom de 1998 a 2003.

Montazeri ajudou a desenvolver o sistema político vigente no Irã e que se baseia em uma teoria chamada "regra da jurisprudência", segundo a qual os clérigos muçulmanos devem supervisionar diretamente a vida política do país.

O clérigo disse ainda que a Constituição de cuja elaboração participou não estava sendo apenas mal utilizada, mas continha falhas, falhas essas que atribuiu à inexperiência dos que participaram do processo. O líder religioso defendeu que o texto seja mudado para que o presidente iraniano tenha controle efetivo sobre as questões de Estado e sobre as Forças Armadas, a polícia e os meios de comunicação oficiais.

"Há uma contradição em nossa Constituição. Ela atribui várias responsabilidades ao presidente sem dar-lhe autoridade suficiente", afirmou Montazeri.

Segundo o clérigo, o Líder Supremo do Irã deveria limitar sua atuação às questões religiosas e a garantir que as leis do país não fossem contrárias ao Islã.

Montazeri é um dos líderes que apoiaram a ocupação da embaixada norte-americana por 444 dias — durante o período, estudantes islâmicos mantiveram 52 pessoas como reféns. O incidente levou os EUA a romperem os laços diplomáticos com o Irã.







Fonte: Reuters

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