"A missão foi um sucesso, mas este é um momento um pouco triste para mim", disse esta semana David Lehman, o gerente do programa GRAIL (a sigla em inglês que corresponde a Laboratório Interior e de Recuperação de Gravidade), em entrevista coletiva dada em Pasadena, Califórnia.
Após anos de preparação, um foguete Delta II partiu em setembro de 2011 propulsando rumo à Lua dois satélites: o GRAIL A - que estudantes americanos batizaram como Ebb - e o GRAIL B, batizado como Flow.
Essas sondas, que voam lado a lado, empregaram um sistema de campo gravitacional de alta qualidade para determinar a estrutura interior da Lua. No domingo será completada a última órbita dos robôs gêmeos, cujo combustível está acabando, e o controle da missão dará comando para que todos os instrumentos científicos sejam desligados.
Após isso, Ebb e Flow se dirigirão ao cume de uma montanha no polo norte da Lua e concluirão sua missão, caindo no solo antes de passar ao outro lado do satélite, invisível desde a Terra.
A partir de medições de sondas da missão Grail foi possível conscluir que os asteroides e cometas que colidiram com a Lua não apenas tornaram sua superfície esburacada, mas também provocaram profundas fraturas na crosta do satélite terrestre. Esses resultados surpreeram os cientistas envolvidos na missão, que tiveram trabalhos publicados numa edição impressa da "Science" do começo do mês.
A descoberta pode ajudar a decifrar um enigma sobre Marte. No planeta vizinho da Terra, fraturas similares podem ter proporcionado um caminho para que a água da superfície penetrasse profundamente no solo, onde ela pode estar até hoje, afirmaram os cientistas.
"Marte pode ter tido um antigo oceano e todos nós nos perguntamos para onde ele foi. Bem, esse oceano pode muito bem estar no subterrâneo", afirmou a cientista Maria Zuber, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).
"Sabia-se que os planetas rochosos do Sistema Solar tinham sofrido muitos impactos há vários bilhões de anos, mas ninguém pensava que a superfície lunar tivesse sido tão maciçamente bombardeada", destacou Maria Zuber, encarregada científica da missão.
As duas sondas gêmeas, em órbita polar desde janeiro passado, fizeram medições muito precisas do campo gravitacional lunar que revelaram a divisão das massas, assim como a espessura e a composição dos diferentes estratos da Lua, até seu núcleo.
Deixaram claro, por exemplo, que a crosta lunar é muito mais fina do que pensavam os cientistas, ao apresentar uma espessura de 34 km a 43 km, de 6 km a 12 km a menos do que o se tinha calculado até agora.
A composição da Lua aparece, então, como "similar à da Terra, o que alimenta a teoria de que está formada por materiais terrestres espalhados após um enorme impacto no começo da história do Sistema Solar", explicou Mark Wieczorek, do Instituto de Física do Globo de Paris, autor de um dos três estudos sobre os resultados da missão Grail.
Estas pesquisas foram apresentadas na conferência anual da American Geophysical Union, em San Francisco. Em relação à sua superfície, o interior da Lua parece extremamente regular. Os cientistas descobriram que a maior parte das variações constatadas no campo gravitacional eram produto de formações geológicas produzidas na superfície, como montanhas ou crateras.
A crosta externa da lua carece de estruturas rochosas densas e é constituída, provavelmente, por materiais porosos ou pulverizados. O mapa do interior da Lua revela, por sua vez, a existência de mapas mais densas, formadas por magma vulcânico, que terminou se solidificando e formando densas paredes rochosas.
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