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Economia
Quinta - 19 de Maio de 2005 às 12:20
Por: NEUSA BAPTISTA

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Os produtores de couro de jacaré do município de Cáceres já contam com uma consultoria especializada, que fará a avaliação da qualidade do couro e indicará as soluções para os gargalos tecnológicos encontrados no setor. A consultoria, que será dada pelo biólogo Antônio Carlos Chagas Jacinto, pesquisador da Embrapa Gado de Corte de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, é patrocinada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (Fapemat) e tem como objetivo principal transferir tecnologia que permita aos produtores locais não apenas melhorar seu produto, mas agregar valor a ele, chegando a comercializar a pele acabada e até mesmo a produção de acessórios como bolsas, sapatos e cintos.

O município conta com três criatórios de jacaré que, juntos, possuem cerca de 70 mil animais. Dois deles pertencem a criadores individuais e um à cooperativa Coocrijapan, que reúne cerca de 15 produtores; os dois primeiros se especializaram na criação e aproveitamento do couro; a cooperativa – que cria 20 mil animais - possui um frigorífico e dedica-se à comercialização da carne, cujo quilo custa em torno de R$ 15.

De acordo com Antônio Carlos Camacho, presidente da Fapemat, a intenção é investir na industrialização do produto e organizar toda a cadeia produtiva do jacaré, promovendo melhoria tecnológica na criação, abate e tratamento do couro e da carne, e estimulando o poder público local para atrair empresas interessadas em investir na confecção dos acessórios. “O município já desenvolve a criação, faz o abate e o tratamento da carne e do couro, que são os principais produtos; com essa base temos condições de desenvolver a cadeia”, avaliou ele.

O preço de cada pele de jacaré in natura no mercado varia entre 12 e 20 dólares; já a pele acabada pode chegar a valer 250 dólares. De olho nessa possibilidade de ganho, produtores de Cáceres buscam investir na aquisição de conhecimento técnico para a agregação de valor. O diretor do projeto Jacarepan, Ernani Segatto, que já exporta entre 10 e 12 mil peças anualmente para os Estados Unidos, almeja entrar no mercado europeu, muito mais exigente. “Por isso a necessidade de agregar valor ao nosso produto e melhora-lo com o uso de tecnologia”, disse ele.

Localizada na divisa entre Cáceres e a Bolívia, a Jacarepan é a principal produtora de couro da região, e possui cerca de 35 mil jacarés, tendo abatido sete mil animais em 2004. A fim de fazer uma análise do couro produzido em Cáceres, o pesquisador da Embrapa coletou amostras de couro de seis animais da propriedade, que serão analisadas para detectar o nível de cálcio e sua resistência à tração. O estudo visa revelar a quantidade de osteodermo, tipo de osso presente no dorso e no ventre do jacaré, e cuja presença diminui ou até mesmo impede a utilização do couro para fins comerciais. Para controlar a quantidade de osso, a solução é diminuir o cálcio na alimentação do animal e, assim, obter um couro mais macio. “Nós nos propomos a pesquisar formas mais avançadas de retirada do cálcio do animal”, disse Jacinto.

BRASIL - Apesar de a criação de jacaré ser praticada há muitos anos, a venda do couro ainda é incipiente em todo o País: há apenas um produtor individual consolidado em Campo Grande e um em Belo Horizonte (MG), além dos produtores de Cáceres.

A venda da carne do jacaré é dificultada pois, além de não ser bem aceita no mercado nacional, ela ainda não possui registro no Serviço de Inspeção Federal (SIF), o que permitiria a exportação do produto. Organizar os produtores locais para conseguir esse registro será uma das ações da Fapemat. “São necessários apenas uns pequenos ajustes para que o frigorífico consiga o registro; isso leva algum tempo porque até mesmo o ministério [de Desenvolvimento Agrário] tem pouca experiência com esse tipo de carne”, explicou Camacho.

Já a comercialização de couro é negócio promissor, embora exija trabalho. De acordo com Segatto, que está há 16 anos no ramo, o retorno financeiro só vem após cerca de 10 anos de investimento e gasta-se entre oito e 13 dólares com cada animal do nascimento ao abate. A criação do jacaré exige cuidado intensivo, o que não tem atraído muito os criadores das cerca de um milhão de cabeças de gado da região. “Quem cria gado está acostumado a deixar o animal solto para pastar; isso não dá para fazer com o jacaré”, disse ele, lembrando do controle constante que deve ser feito da alimentação e do peso do animal e dos cuidados necessários para conservar o bom aspecto da pele.

Com o aumento do nível tecnológico dos criatórios, a expectativa é também que cresça o número de criatórios, a fim de atender à demanda nacional e internacional que já existe.

FORMAÇÃO – A falta de formação de mão-de-obra é um dos principais problemas apontados no setor. Segatto ressalta que o trabalho ainda é feito “no machado”, isto é, sem nenhuma tecnologia. Para breve, a Fapemat, em parceria com a Embrapa, planeja organizar um curso sobre abate de jacaré e curtição de couro. O Ceprotec (Centro Estadual de Educação Profissional e Tecnológica), deverá oferecer cursos na área em sua unidade de Pontes e Lacerda. Segundo o presidente da instituição, Luis Fernando Caldart, o Governo do Estado deve aplicar cerca de R$ 1 milhão na restauração da escola, que será finalizada até o fim do ano. “Essa escola poderá oferecer cursos voltados para o couro de jacaré, se houver demanda; já haverá cursos sobre curtume de couro bovino e região possui vários curtumes”, disse Caldart.





Fonte: Assessoria/Secitec-MT

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