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Sexta - 14 de Dezembro de 2012 às 16:34
Por: Jardel Patrício Arruda

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Jardel Patrício Arruda
Moradores usam caminhões para aplicar tática de terra devastada
Moradores usam caminhões para aplicar tática de terra devastada
  Enquanto um grupo de produtores rurais do distrito Estrela do Araguaia (30 quilômetros de Alto Boa Vista) saíram novamente a caça das forças de desintrusão da área afim de evitar que a mudança de um fazendeiro da região fosse levada par a base policial, um outro, bem menor, iniciou uma corrida contra o tempo para retirar todo o possível de outra propriedade rural notificada.A primeira vista pode até parecer conformismo de um povo resignado a ir embora, mas na verdade era quase uma ação de “terra devastada”, tática de se acabar com todo recurso estratégico naquela terra, empregada pelos russos nas duas guerras mundiais com o intuito de evitar que o território tomado pelo inimigo pudesse lhe ceder qualquer beneficio.

 

   E, nesse caso, essa noite era a última chance deles de tirar equipamentos como um trator esteira, gerador de energia e placas solares de uma possível futura base para as forças de desintrusão. Base que pode ser montada, ironicamente, em uma fazenda chamada Conquista.

   Essa pequena história dentro de todo esse conflito por terras começou na tarde de quinta-feira (13), quando por volta das 13h as forças de desintrusão chegaram à fazenda conquista, onde estavam apenas dois funcionários, um homem e uma mulher, para dar o prazo de 24h para desocupação daquela propriedade rural.Mas esse prazo só teria sido dado após os policiais rodarem toda a fazenda, analisando grande galpão do local, as várias casas e a quantidade de água, e de terem feito muitas perguntas aos funcionários: Quantas pessoas dormiam no Posto da Mata? O que eles estavam dispostos a fazer? Como recebem suprimentos?

   Aproveitando a parada, a força de desintrusão teria almoçado naquela propriedade. Depois, na saída, furaram o pneu de uma moto que encontraram e deram um aviso aos funcionários da fazenda, “Se saírem daqui antes das 17h para avisar alguém vocês vão ser presos”. Amedrontados, até pelo fato de terem sido fotografados minutos antes, os dois trabalhadores esperaram.

   Assim que deu a hora marcada, eles pegaram outra moto e voltaram para cidade. Além deles, um funcionário de outra fazenda já havia levado notícias sobre a desocupação de mais uma fazenda. Neste caso as forças policiais levavam toda mudança daquela propriedade. Os moradores, já mobilizados, saíram em busca de interceptar o comboio. Até conseguiram alcançar e tentar abrir contato, mas houve um recuo e, dessa vez, nada de conflito.

   Enquanto isso, os dois funcionários da fazenda Conquista reuniram mais quatro pessoas e um pequeno caminhão boiadeiro para fazer, de forma urgente, a retirada de tudo naquela fazenda. Para isso, seria preciso trabalhar uma noite toda.

Jardel Patrício Arruda

Jardel Patrício Arruda -- Moradores aproveitam escuridão para praticar terra devastada

Moradores aproveitam escuridão para praticar terra devastada

 

   A reportagem acompanhou os funcionários nessa missão. Por volta das 20h partimos de da vila do distrito Estrela do Araguaia, divididos em duas motos e o caminhão. A tarefa de chegar à fazenda, cerca de 50 quilômetros distantes, foi dificultada por conta da chuva que caia. As estradas totalmente escuras, lamacentas e escorregadias provocaram três quedas dos motociclistas. Eu mesmo pude sentir a sensação de ser projetado de uma moto contra uma pista de lama. Por sorte, nenhum ferido, nem equipamentos quebrados.

    Problemas no caminhão também atrasaram a viagem, obrigando uma pausa no bar e restaurante de seo Dilson, o primeiro desocupado. Lá também encontramos Maria Salles, funcionária da fazenda Dois Irmãos, que, aos prantos, acusava a força de desintrusão de ter desrespeitado o prazo de dois dias oferecido, voltando em menos de 24 horas e levando tudo enquanto não havia ninguém na propriedade.

    Resolvido o problema do caminhão, seguimos em direção a fazenda conquista. Algum tempo depois chegamos ao local, e meio a uma escuridão que, combinada a frondosidade das árvores próximas da sede, mata nativa, fazia todos ali parecerem extremamente minúsculos. Formigas em uma guerra de leões.

    E a escuridão era um dos fatores que mais dificultava a ação. Para amenizar o problema foram usadas lanternas, o farol de um moto e do caminhão, mas nada realmente efetivo. Nesse ponto tentaram ligar o gerador de energia, mas não havia mais lâmpadas no local. O jeito foi continuar como dava.

   O gerador, inclusive, era um dos pontos chaves daquela ação, junto do trator esteira. Não foram poucas as vezes que ouvi os “carregadores” falando que não deixariam nada para os policiais. “Eles acharam que eu ia vir pegar só umas coisinhas, mas não vou deixar nada para eles. Isso não é deles e eles não vão usar contra nós”.

    Não foi fácil. O gerador era muito pesado e o espaço para retirá-lo pequeno. Foi preciso quebrar um pouco da “casinha” dele, além de pelo menos meio hora só para tentar colocá-lo no caminhão que, por ser preparado para bois, cheio de divisórias, dificultava muito essa tarefa.

    O trator esteira também teve lá suas dificuldades para ser removido. Mas depois de várias tentativas conseguiram o fazer funcionar. Depois foi a vez das placas solares. Então, às 4h desta sexta-feira (14) o carregamento estava pronto. Agora faltava tirar tudo de dentro da fazenda, pois boatos corriam sobre a vinda das forças de desintrusão ainda de madrugada.

    Correndo, conseguiram retirar o caminhão e o trator da fazenda e por na rodovia BR 080 por volta de 4h30. Todos comemoraram ao chegar no “corredor”, onde já não poderiam ser pegos. Mas, ainda assim, ver luzes de mais de um carro andando junto já era motivo para preocupação. Além disso, outro problema à frente: passar o trator e o caminhão carregada por aquela estrada totalmente esburaca e cheia de lama devido a chuva.

   Os 50 quilômetros pareceram se multiplicar. O caminhão chegou a vila do distrito às 8h30. O tempo gasto no percurso seria o suficiente para percorrer mais de 400 quilômetros de estradas pavimentadas. Contudo, apesar de exaustos, com fome e sede, alguns machucados, um sorriso de satisfação, de dever cumprido, ficou no rosto de cada um daqueles moradores do Posto da Mata.






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