Exército do Uzbequistão matou 300, dizem ativistas
"As tropas governamentais abriram fogo contra a população civil e mataram centenas de pessoas. Calculamos que há cerca de 300 mortos", afirmou Saidzhajon Zaynabitdinov, ativista humanitário. "Os soldados disparavam contra os civis. Como o presidente pôde mandar atirarem contra o seu povo? E para que queremos um presidente assim?", disse um morador da cidade. Um médico confirmou à agência cazaque KZ-today a cifra de 300 mortos. Segundo ele, o necrotério local está "repleto de cadáveres".
O exército retomou ontem o controle da sede da pefeitura de Andizhan, ocupada por homens armados, numa invasão na qual os militares atiraram indiscriminadamente contra milhares de civis que se manifestavam para reclamar a saída de Karimov.
Previamente, os rebeldes atacaram uma unidade militar para pegar armas. Na ação, libertaram centenas de pessoas que estavam detinas na prisão, da qual também soltaram 23 empresários acusados de atividades fundamentalistas. Presidente responsabiliza extremistas O presidente Karimov declarou hoje que "as desordens foram organizadas pelos 'akramitas', uma corrente radical do movimento islâmico Hizb-ut-Tahrir". Ele acrescentou que os "extremistas", movidos pelo "ódio e a rejeição ao desenvolvimento laico" do país, dedicam-se a "cooptar almas entre a juventude" e proclamam como seu objetivo criar "um califado islâmico" na Ásia Central.
Andizhan fica no leste do país, na região mais densamente povoada e mais pobre do país, a do Vale de Fergana, compartilhado por Uzbequistão, Quirguistão e Tajiquistão e onde atuam grupos de fundamentalistas islâmicos e traficantes de droga.
Karimov, que desde 1989 governa com mãos de ferro o Uzbequistão, é acusado de usar o "fator islâmico" para reprimir a oposição e impedir mudanças democráticas. "Conhecemos os nomes dos líderes dessa corrente, cujo objetivo é derrubar a ordem constitucional atual e estabelecer um regime islâmico", afirmou Karimov.
Segundo Karimov, seu serviço secreto interceptou conversações telefônicas dos líderes rebeldes com supostos cúmplices no Afeganistão e no Quirguistão, onde uma revolta popular destituiu em março o regime de Askar Akaiev. Os insurgentes "queriam repetir o roteiro quirguiz", destacou o presidente, que acrescentou que "as tentativas de impor à força a democracia no Uzbequistão" podem ser aproveitadas pelos "fundamentalistas islâmicos".
Karimov afirmou que em Andizhan morreram dez soldados e "muitos mais" "criminosos armados", e que também houve cerca de cem militares e rebeldes feridos em cada lado.
O presidente disse que as tropas entraram em ação depois que fracassaram as tentativas para que os rebeldes se rendessem ou deixassem Andizhan. Karimov acrescentou que alguns rebeldes fugiram para o Qiurguistão e prometeu não usar força contra os civis que voltaram a se manifestar em Andizhan, 200, segundo ele, e milhares, de acordo com fontes locais.
As desordens se estenderam até a fronteira, onde seis mil refugiados se concentraram, dos quais mais de 600 conseguiram entrar no Quirguistão levando consigo vários cadáveres e alguns feridos. Os refugiados, que exigem a abertura da fronteira, fechada por ambos os lados, enfrentaram a polícia local. Por sua vez, o site Ferghana.ru anunciou a chegada à região de de inúmeros aviões de transporte com tropas e armamento.
Os EUA, cuja amizade com Karimov surgiu quando lhes foi cedida uma base aérea para a guerra afegã (1991), expressou sua preocupação com a violência e com a libertação de "membros de uma organização terrorista". Mas a Casa Branca destacou que "o povo do Uzbequistão quer um governo mais representativo e democrático", embora tenha pedido o emprego de "métodos pacíficos".
Por sua vez, a União Européia (UE) declarou que "as desordens no Uzbequistão demonstram a crescente tensão causada pela falta de atenção dos dirigentes aos direitos humanos, à supremacia da lei e à luta contra a pobreza".
Bruxelas criticou "as repressões dos rebeldes" e pediu a Karimov que empreendesse "reformas políticas e sociais". A Rússia condenou o "ataque extremista" em Andizhan em declaração nas quais o presidente Vladimir Putin compartilhou com Karimov sua preocupação com o "perigo da desestabilização na Ásia Central".
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