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Internacional
Quarta - 11 de Maio de 2005 às 16:14

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A escritora feminista Nawal Saadawi é a única mulher que anunciou sua candidatura à presidência do Egito, mas deixa claro que não pretende governar o país e sim "desafiar o sistema" do presidente Hosni Mubarak.

As eleições de setembro podem ser as primeiras em que os egípcios poderão escolher entre vários políticos, pois até agora Mubarak - que ainda não oficializou sua candidatura - concorria como candidato único num plebiscito.

Em entrevista à EFE, Saadawi se diz convencida - assim como os outros candidatos opositores - que o regime vai preparar as eleições de uma forma que garanta a reeleição de Mubarak, que assumiria assim seu quinto mandato consecutivo desde 1981.

"Não param de impor limitações (aos candidatos) para deixar a candidatura de Mubarak sozinha - diz -, e não descarto boicotar as eleições para denunciar que nada mudou no Egito".

"Eu só quero mobilizar as pessoas para que pensem por si mesmas e por isso o governo está me censurando", explicou.

Saadawi denunciou que, apesar de a campanha eleitoral não ter começado oficialmente, as autoridades já estão tentando atrapalhar sua candidatura. Dias atrás, em Kafr Tahla, seu povoado de origem, a polícia fez ameaças a quem comparecesse a um comício da candidata.

Uma palestra que Saadawi pretendia dar no fim de semana passado na Biblioteca de Alexandria, administrada pelo governo, foi cancelada sem razão aparente. Além disso, a candidata está proibida de aparecer na imprensa estatal.

Para Saadawi, o governo egípcio "não tem medo dos milhões de egípcios que não podem falar, mas sim daqueles que têm voz", em referência aos intelectuais e ativistas com mais acesso à imprensa.

A ativista, uma das pioneiras do feminismo árabe elegeu como lema de sua campanha "tire o véu da sua mente", uma inequívoca referência ao famoso véu islâmico, chamado de "hiyab", que se tornou quase obrigatório no Egito, mas que ela sempre se negou a usar.

Saadawi, uma das poucas pessoas que pede claramente um estado laico no Egito, é a favor de "uma completa separação entre a religião, que é algo pessoal, e a política, pois as leis devem ser laicas".

A candidata disse ser contra a aliança entre a oposição progressista e os poderosos Irmãos Muçulmanos, pois "não devemos trair nossos princípios".

Suas divergências com os religiosos islâmicos já ficaram famosas.

Em 2001, Saadawi ganhou fama internacional quando um advogado fundamentalista quis obrigá-la - sem sucesso - a se divorciar de seu marido acusando-a de renunciar à fé por causa de suas opiniões contrárias à ortodoxia islâmica.

Dois romances de Saadawi, entre eles o último, "Al Riwaya", que se passa na cidade de Barcelona (Espanha), foram proibidos pela Academia de Al Azhar, organismo que tem o poder de veto sobre qualquer livro se considerar que ele transgride o Islã.

Um dos episódios mais grotescos de sua conflituosa relação com o clero islâmico é muito recente.

Quando Saadawi apresentou sua candidatura, o "mufti" do Egito, Ali Gomaa, encarregado de ditar "fatwas" (decretos), disse que essa candidatura era ilegal porque "como mulher, menstrua, e se tem menstruação não pode ser Presidente da República".

Saadawi, que tem 77 anos e já não menstrua há décadas, recebeu o apoio inesperado do xeque de Al Azhar, Mohammed Sayed Tantaui, superior de Gomaa, que contradisse seu subordinado e encerrou o assunto com o argumento de que a menstruação não diminui sua capacidade política.





Fonte: EFE

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